Terça, 30 Março 2021 18:30

31 de março: que os militares voltem para a caserna

A imagem das Forças Armadas naufraga junto com o desastroso governo Bolsonaro, o que incomoda generais que continuam na caserna e longe dos cargos públicos A imagem das Forças Armadas naufraga junto com o desastroso governo Bolsonaro, o que incomoda generais que continuam na caserna e longe dos cargos públicos Foto: Michel Filho

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

 

Sem candidato com chances reais de vencer as eleições presidenciais de 2018, bancos e grandes corporações empresariais se agarraram ao ex-deputado federal, o capitão da reserva Jair Messias Bolsonaro para impor suas reformas ultraliberais, velho receituário que jamais foi aplicado em nenhuma sociedade capitalista desenvolvida do mundo.

O que as oligarquias brasileiras não imaginavam ou fingiram não ver é que o parlamentar do baixo clero da Câmara dos Deputados fosse mais tosco e incompetente do que parecia, a ponto de colocar em risco a democracia e colapsar de vez a economia brasileira, levando o Brasil a ter a maior fuga de capitais da história, a maior desvalorização entre todas as moedas, inflação, falências de indústrias e do varejo, desemprego e o tombo sem precedentes no poder de compra das famílias, tudo assinado pelo “Posto Ipiranga” do presidente, o ministro da Economia e banqueiro, Paulo Guedes.

Tudo isso agravado por uma pandemia mundial, na qual, o governo virou as costas para as micro e pequenas empresas, trabalhadores e para o comércio e socorreu os bancos com R$1,2 trilhão do Banco Central  - apenas 4% do montante foi utilizado para o crédito do setor produtivo.

Mau militar, péssimo presidente

A tragédia nacional teve até aqui o apoio da maioria dos militares, que começam a sair de debandada do governo federal temendo a anunciada destruição da credibilidade que as Forças Armadas passaram a tentar construir após o fim da ditadura de 21 anos e a redemocratização do país.

O capitão da reserva – na verdade tenente (ganhou uma promoção automática quando foi mandado para a reserva após ser preso por promover rebelião em prol de aumento de seus próprios salários e por uma decisão da Justiça Militar que decidiu não expulsá-lo do Exército) nunca foi bem visto pelo alto escalão das Forças Armadas. Em sua biografia, perguntado sobre Bolsonaro, então vereador do Rio e sobre a participação de militares na política, o ex-presidente e general Ernesto Geisel disse que “Bolsonaro era um mau militar”, que dirá político.

Representante do setor mais conservador do Exército, Geisel criticava a presença de militares na política. Mesmo tendo sido um presidente não eleito, de um regime ditatorial, o general preferia os militares longe da política e dos partidos políticos e esta era o pensamento da maioria após a volta da democracia. O que Geisel jamais imaginou é que o “mau militar” e “parlamentar medíocre seria eleito presidente do Brasil e que, um ano antes de seu fim já fica marcado como o pior governo da história da república brasileira.

O general da democracia

O Brasil já até teve militares defensores da constituição, da democracia e nacionalistas de verdade, mesmo mantendo uma posição pessoal conservadora. Como o general Machado Lopes, que apoiou a Cadeia da Legalidade organizada pelo então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, que junto com a população de armas na mão garantiu a posse do vice-presidente João Goulart, que estava na China em missão diplomática, após os militares tentarem o golpe ainda em 1961, após a renúncia do transloucado presidente Jânio Quadros.

Machado Lopes garantiu o apoio do 3º Exército para que Jango assumisse a presidência e a Constituição Federal não fosse rasgada com um golpe militar, que infelizmente acabou vindo em março de 1964.

Outro exemplo foi o general Henrique Teixeira Lott, legalista ferrenho, que impediu uma rebelião golpista e garantiu a posse do presidente Juscelino Kubitschek e de seu vice, João Goulart, em 1955, um ano depois da conspiração das elites que levou o presidente Getúlio Vargas ao suicídio. 

Imagem dilacerada

Nesta quarta-feira, 31 de março, completam 57 anos do golpe militar que derrubou o governo democrático e popular de Jango e implantou 21 anos de ditadura, deixando rastros de mortes, exílios, prisões, torturas e um colapso econômico: o governo do general João Figueiredo deixou uma inflação que chegou a 2.700% ao ano nos anos 80, desemprego e os primeiros sinais da destruição do parque industrial brasileiro.

Nunca um governo teve tantos oficiais ocupando cargos públicos como no atual  governo Bolsonaro, nem mesmo no regime militar. E jamais um governo foi tão desastroso em todos os sentidos: econômico, social, política internacional e no enfrentamento da pandemia que aflige o planeta e leva o presidente Bolsonaro a debochar e dar risadas, negando a ciência, fazendo merchandising de remédios e curas falsas e deixando o país com mais de 300 mil mortos e sem vacina suficiente para salvar vidas.

Após a trágica experiência do general Pazzuello no Ministério da Saúde, o especialista em “logística” que não foi capaz sequer de justificar a fama de sua especialidade e saiu pela porta dos fundos, parece começar a haver uma debandada de milicos do governo.

Informações dão conta que generais da caserna estão apreensivos com a imagem das Forças Armadas junto à população, cuja credibilidade derrete junto com o desastroso governo. Escolhido como ministro da Defesa em 2018, o general Fernando Azevedo, deixou o cargo dando os sinais do cansaço de parte dos militares com Bolsonaro: “Nesse período, preservei as Forças Armadas como instituições do Estado”, disse, dando a entender que Bolsonaro passou dos limites com as ameaças à democracia e tentando separar a imagem da instituição militar com a do atual governo.

Alguns generais de pijama, mais afeiçoados com a boquinha dos cargos do que com a nação, insistem em permanecer nas funções e na defesa do governo indefensável.  Mas a saída dos generais dos comandos da Marinha, Exército e Aeronáutica mostram que aumenta o número de militares que estão preocupados com a imagem das Forças Armadas e com a popularidade de um governo que derrete junto á maioria dos brasileiros e da revelação de escândalos dos comandos das tropas com compras superfaturadas, inclusive de bacalhau, picanha, bebidas destiladas e cerveja.

Não parece ser por acaso que o alto escalão da caserna deixa o governo antes do dia 31 de março, quando certamente as milícias e os fanáticos seguidores do bolsonarismo, com apoio dos vendilhões do templo, vão pedir o fechamento do STF, a volta da ditadura militar e morte aos “comunistas” (na verdade, todos que criticam o desastroso governo).

Voltem para a caserna

A maioria dos generais, após todo o esforço de melhorar imagem das instituições militares, depois das marcas trágicas da história com o golpe de 1964 e uma terrível ditadura de 21 anos erraram novamente ao apoiar o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, comprovadamente um golpe das elites com apoio internacional.

Agora, os militares tentam a difícil missão de salvar a imagem das Forças Armadas, porém fazendo parte de um governo que tornou-se uma embarcação que naufraga. Que façam isso depressa porque, cedo ou tarde, a história vai cobrar e deixa uma pergunta no ar, que ecoa nas consciências: onde estão os generais nacionalistas, patriotas e democratas?  Que os militares voltem logo para a caserna. De preferência, bem longe da política e dos cargos públicos. Esta decisão em nada desmerece os profissionais de farda, mas representa a sua nobre missão de proteger as fronteiras, a soberania nacional, a democracia e a Constituição Federal. Que façam isso depressa.  

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