EXPEDIENTE DO SITE
Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Trabalho, tarefas do lar, filhos, parentes doentes, medo. Esse tem sido o cotidiano de nós mulheres nos últimos doze meses, desde que a pandemia mudou nossas vidas. Muitas de nós, bancárias, tivemos que enfrentar o medo e seguir trabalhando presencialmente. Outras, passaram a desempenhar as tarefas em home office. A casa virou o espaço de tudo – escola, trabalho, lazer, academia, hospital - e nós, numa cultura com a marca do machismo, nos tornamos as grandes administradoras desse caos, nos equilibrando em trabalhar em condições muitas vezes abusivas e em um ambiente familiar hostil.
Temos enfrentado jornadas diárias exaustivas no trabalho com medo de entrar na estatística do desemprego, situação enfrentada por mais de 14 milhões de brasileiros e brasileiras, muitas da nossa categoria, também atingida pelas demissões em massa. Ficamos reféns de metas inalcançáveis e disponíveis muito além do horário contratual, esquecido rapidamente pelos patrões assim que o teletrabalho começou: 41% das mulheres afirmam que estão trabalhando mais do que antes da pandemia, de acordo com uma pesquisa realizada pela Sempre Viva Organização Feminista.
A mesma pesquisa mostra que metade das mulheres relatou que passou a cuidar de alguém neste último ano. Muitas vezes, um parente idoso ou com algum problema de saúde. Com as crianças em casa, viramos também professoras ou animadoras, dependendo da idade dos filhos. Isso, sem falar nas tarefas domésticas que se multiplicaram com todos em casa. Não por acaso, um levantamento do Ibope mostrou que as mulheres estão mais ansiosas: houve um aumento de 38% no consumo de medicamentos tarjados e de 29% de calmantes naturais.
Como se não bastasse administrar isso tudo, o medo é uma realidade para muitas de nós. A referência de casa como um lugar seguro não existe para mulheres ameaçadas pelos maridos ou pessoas próximas. Essa é uma realidade para 37% das brasileiras. O número real deve ser muito maior, uma vez que a subnotificação é grande e aumentou ainda mais durante o confinamento. Como denunciar aquele que está ao seu lado o tempo todo, em casa? A impossibilidade de pedir socorro levou a vida de quase 700 mulheres, no primeiro semestre de 2020, todas vítimas de feminicídio, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Essa é também uma preocupação nossa, no Sindicato. Conseguimos incluir na Convenção Coletiva de Trabalho uma cláusula de proteção à bancária vítima de violência doméstica. Ela prevê o sigilo, atendimento, acolhimento e linha de crédito diferenciada para que a bancária encontre condições de retomar a vida. Você não está sozinha!
Temos ainda os desafios de equiparar salários com os homens e garantir espaço em postos de comando. Tudo isso torna o 8 de março ainda mais simbólico: um dia de homenagem a nós mulheres e, sobretudo, um dia de luta e de união para seguirmos em frente, em busca de mais igualdade e paz.
Às bancárias, um abraço carinhoso nesse dia. Meu desejo de muita saúde, força e ótimas energias. Nós precisamos e merecemos.
Adriana Nalesso, Presidenta dos Sindicato dos Bancários