Quarta, 10 Fevereiro 2021 18:39

Aprovação da autonomia do BC entrega, de vez, a política econômica ao cartel dos bancos

CARTA BRANCA PARA OS BANQUEIROS - Roberto Campos Neto, presidente do BC trabalhou 18 anos para o Santander. O cartel dos bancos passará a controlar a política econômica no BC independentemente de quem for eleito presidente CARTA BRANCA PARA OS BANQUEIROS - Roberto Campos Neto, presidente do BC trabalhou 18 anos para o Santander. O cartel dos bancos passará a controlar a política econômica no BC independentemente de quem for eleito presidente

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

 

Não é de hoje que os banqueiros dominam a política econômica no Brasil e são escolhidos como ministros da Fazenda (Economia) ou para presidir o Banco Central. Para garantir e aprofundar este controle, as instituições financeiras privadas conseguiram nesta quarta-feira, dia 10 de fevereiro, aprovar na Câmara dos Deputados, o texto-base que abre caminho para a chamada autonomia do BC. O projeto já havia sido aprovado no Senado. O ministro e banqueiro Paulo Guedes demonstrou pressa e a proposta foi a primeira a ser votada com pedido de urgência sob o mandado do novo presidente da casa, Arthur Lira (PP-Alagoas), tudo em tempo recorde, para não dar tempo da sociedade debater o tema e o povo sequer ter a noção mínima da arapuca que o Governo Bolsonaro armou para o país. O objetivo é manter nas mãos dos banqueiros o controle absoluto da política econômica, temendo uma derrota nas eleições de 2022 para um candidato do campo popular, que não terá mais ingerência nas questões monetárias, como a taxa de juros, no Brasil, as maiores do mundo.  

Mais poder para os bancos

Na verdade, a expressão “autonomia” é uma perversão para esconder o verdadeiro objetivo do plano. Com a aprovação, o próximo presidente da República não poderá demitir o dirigente maior da instituição que define os índices de juros e toda a política Monetária e nem ingerir nestas questões. Ou seja, um banqueiro, sem nem um voto popular sequer, escolhido e pautado pelo cartel dos bancos (mercados), vai tirar do presidente do país eleito o poder de definir a espinha dorsal das políticas econômicas, que passam pelas decisões do BC.

“Nós sabemos que colocar banqueiro presidindo o BC é pôr a raposa no galinheiro. Isto já acontece. O atual presidente da instituição, Roberto Campos Neto, da mesma escola ultraliberal do avô, o ex-ministro do regime militar Roberto Campos e do ministro Paulo Guedes, trabalhou 18 anos para o Santander. Com a aprovação deste projeto, mesmo que o povo eleja um presidente do campo popular que tente uma ruptura com esta política econômica especulativa para recuperar a cadeia produtiva e valorizar o trabalho, os banqueiros é quem vão mandar, sozinhos, nas políticas monetárias do BC. É preciso haver uma mobilização nacional popular para mudar isto nas eleições de 2022 legitimando uma candidatura que crie meios de retomar as rédeas da economia nacional”, afirma o diretor do Sindicato dos Bancários do Rio, Ronald Carvalhosa.

Pela proposta aprovada, o mandato do presidente do BC terá duração de quatro anos, com início no dia 1º de janeiro do terceiro ano de mandato do chefe do Executivo. Assim, o presidente do Brasil eleito em 2022 não poderá demitir o dirigente maior do BC durante o seu mandado. Uma imposição antidemocrática e criada para manter o atual modelo econômico.  

A eleição de Lira

Não foi por acaso que representantes de alguns dos maiores bancos privados do sistema financeiro nacional como Itaú e Santander se reuniram para apoiar a candidatura do nome apoiado pelo Governo Bolsonaro à presidência da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-Alagoas), o que resultou em traições e numa debandada sem precedentes no DEM e no Centrão em favor do candidato do Palácio do Planalto, mostrando que quem manda nos setores mais conservadores e fisiológicos do Congresso Nacional também é o cartel dos bancos. Não que o candidato de Rodrigo Maia (DEM-RJ), Baleia Rossi (MDB-SP) representasse uma oposição aos interesses do sistema financeiro, mas Paulo Guedes queria ter a certeza de que, com um candidato ainda mais dócil e 100% governista, a pauta dos bancos e das grandes corporações nacionais e estrangeiras passe no Congresso, sem problemas e o ruído na relação de Bolsonaro e Guedes com Maia preocupava o governo e os banqueiros.

“O desconhecimento de maior parte da população sobre o assunto e a campanha da mídia em defesa da ‘autonomia’ do BC levou a uma letargia da sociedade em relação ao tema e, por isso, Paulo Guedes priorizou esta mudança na pauta do novo presidente da Câmara, pois está em jogo o futuro do país e os bancos querem continuar mandando seja qual for o futuro governo. Com a proposta aprovada eles conseguiram impor esta cilada e, infelizmente, sem nenhuma reação dos trabalhadores”, afirma a diretora de Imprensa do Sindicato, Vera Luiza Xavier.

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