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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Carlos Vasconcellos
Imprensa SeebRio
A morte de Diego Armando Maradona nesta quarta-feira, dia 25 de novembro, aos 60 anos, de parada cardiorrespiratória, não apagará jamais o seu legado, dentro e fora do campo. A grande mídia preferiu falar da derrota do ídolo para as drogas e dizer que ele era polêmico. Dieguito não era polêmico, ele tinha lado.
Nos jogos pela Copa do Mundo no Brasil, no Maracanã, já no metrô se ouvia os gritos de provocação dos “hermanos”: “Vocês verão o Messi, a Copa ele trará, e Maradona é maior do que Pelé!”. Messi não trouxe a Copa, o Brasil sofreu a maior humilhação em toda a sua história nos 7 a 1 para a Alemanha, mas Maradona é maior do que Pelé. Dentro de campo, polêmicas e rivalidades a parte, Maradona foi tão genial quanto o chamado rei do futebol brasileiro. Os números e o destino falam a favor do craque brasileiro que tem três copas do mundo: 1958, quando ainda menino, com 17 anos encantou o mundo, 1962, quando se contundiu e outro gênio, tão esquecido pela mídia brasileira, Garrincha, ganhou a Copa e 1970 no inesquecível tricampeonato. O Pelé atleta é incontestável, embora tenha tido ao seu lado outros gênios em campo, além de Mané Garrincha: Didi, Nilton Santos, Gérson, Rivelino, Tostão.
Quis o destino que o craque argentino não conquistasse três ou quatro títulos mundiais, mas apenas um: em 1986. Mas ele ganhou sozinho, jogando num time mediano e ele, só ele, fez um gol driblando toda a equipe adversária, a Inglaterra, como se fora um Garrincha. Em 1978, com 17 anos poderia ter conquistado seu primeiro título, mas o técnico Cesar Luis Menotti deixou de convocá-lo, talvez castrando prematuramente o seu reinado como o melhor de todos os tempos. Em 1990, um pênalti inexistente em favor da Alemanha tirou seu segundo título mundial. Em 1994, nos EUA, Maradona estava pleno, maduro, desequilibrando, num time melhor do que o do título de 1986, estreando com uma goleada sobre a Grécia: 4 a 0. Mas o craque foi pego num antidoping. Havia tomado um suplemento alimentar, Ripped Fuel, vendido livremente, por orientação de um inexperiente fisiculturista, seu amigo, que continha efedrina. Ainda assim, fatos estranhos pairam no ar sem resposta até hoje sobre a exclusão de Diego de sua última Copa: nunca na história do futebol houvera um espetáculo midiático para um antidoping, com o atleta, diante das câmeras, levado pelos braços para o exame. Fato é que Maradona incomodava a direção corrupta da FIFA e os EUA, sede daquela Copa de 1994 em que outro gênio, Romário, levantou a taça.
Mas o que faz corretíssimo o grito dos argentinos, de que Maradona é maior do que Pelé, está além dos gramados. Dieguito era gênio dentro e fora de campo. Tinha lado, os mais pobres, era indignado com a desigualdade social, desde os tempos de Boca Júnior, time da massa de seu país, na Itália, onde jogou no Nápoles, região mais pobre da "bota europeia", incomodando o governo e até a Máfia, ao ser idolatrado e denunciar a injustiça social. Amava a revolução socialista cubana, tinha Guevara como tatuagem em um de seus braços e era amigo de Fidel Castro, denunciava a desigualdade do modelo capitalista e a corrupção da FIFA. Sua posição política incomodava. Talvez isto explique, em parte, porque ele não teve a coroa de melhor jogador de todos os tempos. A outra parte ficou por conta do destino, da mitologia dos deuses do futebol.
Mas Maradona foi o maior, que fez de sua luta pessoal contra o vício das drogas apenas um detalhe e não o principal na trajetória do personagem, como a mídia brasileira tenta mostrar.
Pelé pode ter sido o rei do futebol. Tinha atributos de sobra como atleta genial para receber o título nobre. Era um monstro em campo. Mas, sim, “Maradona es mas grande que Pelé”. Porque foi gênio dentro e fora do campo. Não por acaso, morreu no mesmo dia da partida de seu ídolo político e amigo cubano, Fidel. Diego optou a vida inteira pela luta em defesa dos mais pobres, não negando a sua origem de classe. O mesmo não se pode dizer de Edson Arantes do Nascimento.