Terça, 03 Novembro 2020 23:49
A RAPOSA NO GALINHEIRO

Autonomia do BC: o cartel dos bancos no comando absoluto da economia

Roberto Campos Neto (ex-Santander) e Paulo Guedes (BTG Pactual): banqueiros entregam aos banqueiros o controle absoluto das políticas monetárias do Brasil Roberto Campos Neto (ex-Santander) e Paulo Guedes (BTG Pactual): banqueiros entregam aos banqueiros o controle absoluto das políticas monetárias do Brasil

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

 

O ministro da Economia Paulo Guedes e a base do governo no parlamento brasileiro se aproveitaram das atenções da opinião pública voltadas para as eleições presidenciais dos EUA para aprovar no Senado o texto-base do projeto que permite a chamada autonomia do Banco Central. A proposta atende aos interesses do setor especulativo e das instituições financeiras privadas. Temendo uma derrota eleitoral da direita ultraliberal nas eleições presidenciais do Brasil em 2022, os bancos trataram de garantir seus privilégios e fortalecer ainda mais o cartel do sistema financeiro nacional, controlando a economia do país, com os maiores juros do planeta e a política econômica rentista. O texto-base foi aprovado nesta terça-feira, dia 3 de outubro, com 56 votos favoráveis e 12 contrários. A medida é defendida por especuladores, grandes investidores e banqueiros, agentes do mercado financeiro e é uma das bandeiras da equipe econômica do governo Jair Bolsonaro. Com  a decisão, um novo presidente da República eleito em 2022 não teria ingerência sobre o BC e as políticas do campo monetário, especialmente em relação aos juros, o que dificultaria um projeto nacional que tentasse uma ruptura com o atual modelo econômico dominante no Brasil, essencialmente especulativo em detrimento dos interesses da produção e do trabalho.

A autonomia do BC seria como que aprofundar o que já ocorre nos últimos anos: a presença da raposa no galinheiro. O cartel dos bancos já possui um relevante poder político na condução da economia brasileira. Com esta medida, independentemente do governo eleito em 2022, o sistema financeiro continuaria a dominar a economia, com ainda mais liberdade para garantir e fortalecer os seus interesses privados. Para tentar reduzir este predomínio sobre as políticas monetárias e econômicas, o PT apresentou uma emenda parlamentar que propõe estender a quarentena para 12 meses para ex-diretores do BC assumirem cargos em instituições financeiras após deixarem o cargo. O texto aprovado prevê um prazo de seis meses. Há uma tendência de o Senado rejeitar a emenda e enviar o projeto para a Câmara dos Deputados.

O BC é presidido atualmente por Roberto Campos Neto, banqueiro, ex-executivo do Santander. No Governo Temer, a instituição foi presidida por Ilan Goldfajn, executivo do Itaú Unibanco.

Risco para o futuro

Apesar do apelo de uma expressão, “a autonomia”, que pode até enganar os menos avisados, a possível aprovação do projeto no Congresso Nacional traz um agravante: o futuro presidente da República não terá mais poder para interferir nas decisões da instituição. Questões sobre a política monetária, que estão diretamente ligadas aos rumos das políticas econômicas estarão, em definitivo, nas mãos de banqueiros e especuladores. No atual governo, isto não fará nenhuma diferença, pois de fato, o presidente Jair Bolsonaro não tem a menor noção da realidade econômica brasileira e ele próprio admite isto ao se esquivar de qualquer pergunta sobre o tema, transferindo a responsabilidade ao que ele chama de seu “posto Ipiranga”. Mas caso o povo eleja um novo candidato para presidir a nação em 2022, a decisão fará toda a diferença. O futuro governo, pelo menos nas questões monetárias e econômicas, poderá ser como uma “rainha da Inglaterra”, sem ter como decidir e conduzir os destinos da economia do país.  

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