Terça, 18 Agosto 2020 20:05
O CHORO DOS BANQUEIROS

Fenaban quer reduzir PLR em até 48% e Comando rejeita proposta na mesa

Bancos querem mudar regra, diminuindo valor da parcela adicional de 2,2% para 2% e reduzindo percentual do salário e do valor fixo. Próxima reunião é quinta-feira, dia 20 de agosto. Agora é pressão total nas redes sociais

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

 

Os bancários estão indignados com a proposta absurda da Fenaban (Federação Nacional dos Bancos) na negociação sobre as cláusulas econômicas, realizada na terça-feira, dia 18 de agosto, através de videoconferência. Os bancos sinalizaram que poderão reduzir em até 48% o valor da participação nos lucros da categoria. A proposta faz retroceder aos patamares de 1995, uma perda sem precedentes para a categoria. Além disso, não foi apresentada nenhuma proposta sobre o aumento real dos salários. Uma nova reunião está confirmada para esta quinta-feira (20).  

A justificativa da Fenaban, que não convence ninguém, é por causa da diminuição nos lucros e da rentabilidade do setor neste período de pandemia do novo coronavírus. Reclamaram ainda da “concorrência” com cooperativas de créditos e fintechs que estariam crescendo no mercado e aumentando os ganhos. Os sindicalistas acharam curioso o fato de os banqueiros, que defendem a política ultraliberal do atual governo e a "livre concorrência", criticando sempre o que chamam de "monopólio estatal" em alguns setores, como da área de petróleo, reclamarem da concorrência de cooperativas com o cartel do sistema financeiro nacional.

Proposta indecente

Os sindicalistas repudiaram as declarações dos representantes dos bancos e rejeitaram a proposta na mesa de negociação.

“Não há justificativa para reduzir a nossa participação nos lucros porque ela possui uma regra fixa e outra variável que se ajusta ao cenário do momento. Segundo cálculos do Dieese, já temos uma redução de 25% na PLR com a queda da lucratividade do setor, mas os bancos querem diminuir mais os ganhos dos bancários, mudando a regra básica para pior. Um olhar mais apurado mostra que os resultados do setor não diminuíram como parecem, pois os bancos superdimensionaram as Provisões de Devedores Duvidosos (PDDs) impactando negativamente nos números oficiais de seus ganhos”, afirma a presidenta do Sindicato do Rio Adriana Nalesso, que é também do Comando Nacional. 

Pela renovação da CCT

Os bancários defendem a renovação da atual conquista prevista na Convenção Coletiva de Trabalho que garante aumento real de salário e repercute sobre todas as verbas remuneratórias, inclusive a PLR, cuja regra básica é 90% do salário base e o teto da parcela adicional (distribuição linear de 2,2% do lucro líquido do banco). É este índice adicional que os bancos querem reduzir para 2,2%, retrocedendo a níveis de 2012. Além da parte variável, os bancos querem reduzir também o percentual do salário e do valor fixo.

“O setor financeiro é um dos que são considerados essenciais e continuam funcionamento durante toda esta pandemia. Os bancários colocam suas vidas e de seus familiares em risco para garantir os altos lucros dos bancos, ainda os maiores entre todos os setores da economia. A PLR é muito importante para os bancários, cujas rendas muitas vezes são o único sustento de famílias inteiras, especialmente diante desta situação de alto desemprego e de dificuldade para todos os trabalhadores”, afirma.

A dirigente sindical disse ainda que os bancos precisam dar valor à categoria e têm todas as condições para isto. “A Fenaban insistiu na manutenção desta proposta, mas nós rejeitamos de imediato na mesa de negociação porque não aceitamos esta perda para a categoria. Os trabalhadores bancários merecem respeito e são quem produzem a lucratividade”, completa Adriana.

Mais perdas

A proposta da Fenaban reduz ainda de 7,2% para 7% o limite mínimo de distribuição do lucro líquido no primeiro semestre em exercício. E mais: a antecipação atual é de 54% do salário, mais fixo de R$ 1.474,38, com limite individual de R$ 7.909,30. Na proposta dos bancos, ficaria em 43,2% do salário, mais fixo de R$ 1.179,50, com limite individual de R$ 6.327,44. Os sindicalistas consideram vergonhosa a proposta.

A regra básica da PLR anual tem atualmente 90% do salário mais fixo de R$ 2.457,29, com limite individual de R$ 13.182,18. Pela proposta da Fenaban, cairia para 72% do salário mais fixo de R$ 1.965,50, com limite individual de R$ 10.545,74.

A Fenaban também faz ajustes na redação na base de cálculo para o salário base acrescido das verbas fixas de natureza salarial. A mudança afeta bancários de vários estados onde os bancos pagam gratificação semestral. Nesses estados, as perdas chegariam perto de 50%.

A estratégia das Provisões

Como disse Nalesso, os bancos não tiverem uma redução nos níveis de lucratividade tão altos quanto anunciam nos resultados oficiais dos lucros. O segredo está nas Provisões de Devedores Duvidosos (PDDs), reserva criada pelas instituições financeiras para se resguardar da expectativa de um possível crescimento da inadimplência, em função da crise pós-pandemia.

É o caso do Bradesco, que reforçou o volume de suas provisões em R$ 8,89 bilhões no segundo trimestre, uma alta de 155% em relação ao mesmo período do ano passado e de 32,5% frente o primeiro trimestre de 2020. Com esta transferência, o segundo maior banco privado do país anunciou nos primeiros seis meses deste ano uma queda de 40,1% do lucro recorrente no segundo trimestre de 2020 na comparação anual, totalizando R$ 3,873 bilhões. Como se vê, a segunda maior instituição financeira do país transferiu tanto dinheiro para suas provisões que elas já acumulam um valor maior do que o lucro líquido oficialmente anunciado pelo banco.

Já o Santander fez uma reserva de R$ 10,4 bi para cobrir possíveis calotes, reduzindo os números de seu lucro de R$ 7,749 bilhões para R$ 5,989 bilhões. Sem a PDD, a queda passaria a ser computada como crescimento de 8,8% do lucro no período. Mesmo com a queda nos resultados oficiais, o lucro do banco no país representa 32% de todo seu faturamento mundial e, mesmo assim, o grupo espanhol reduziu 844 postos de trabalho no Brasil em plena pandemia, descumprindo acordo com a categoria. O Sindicato tem recebido também denúncias de dispensas no Bradesco.

 

Proposta da Fenaban: Tabela das reduções da PLR - Dieese

(Bradesco, Itaú e Santander)

 

 

 

 

 

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