Sexta, 14 Agosto 2020 22:40
SÓ SABE DIZER NÃO

Sindicato repudia postura da Fenaban de negar as reivindicações dos bancários

Após seis rodadas de negociações, Comando Nacional quer proposta dos bancos para a categoria até terça-feira, dia 18 de agosto

 

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRIo

 

Em mais uma rodada de negociação com a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos, realizada na sexta-feira, dia 14 de agosto, o Comando Nacional dos Bancários apresentou as demandas referentes às cláusulas sociais. No encontro, viabilizado por videoconferência, foram debatidos ainda temas referentes a terceirização. Desde a aprovação da reforma trabalhista as empresas podem terceirizar qualquer área ainda que este esteja ligada a atividade fim. Os bancários repudiam a terceirização destes setores e reivindicaram a criação de uma comissão bipartite (representantes patronais e dos empregados) objetivando a reversão de áreas terceirizadas e para debater os impactos das novas tecnologias no emprego dos trabalhadores.

Concorrentes de bancos

A Fenaban rejeitou a proposta e alegou que a decisão sobre este assunto cabe as empresas pois “é uma questão do negócio” e que “concorrentes dos bancos estão crescendo”, deixando a entender que o sistema financeiro nacional, que tanto prega a “livre concorrência” e critica o que chamam de “monopólio estatal” em algumas áreas da economia, não tolera disputa de mercado que ameace o cartel do setor. 

“Estão crescendo concorrentes no setor porque os bancos estão abrindo espaço ao fechar agências. Se eles não querem perder espaço, para cooperatvas de créditos que, por exemplo, estão expandindo seus negócios, que parem de reduzir unidades físicas e demitir bancários”, rebate Adriana Nalesso, presidenta do Sindicato do Rio, que participou da reunião.

Diálogo rejeitado

Sobre a instituição de comissão bipartite para tratar das mudanças tecnológicas a fim de debater, acompanhar e apresentar propostas em razão dos projetos de mudanças tecnológicas e organizacionais, reestruturações administrativas, introduções de novos equipamentos, acesso remoto e outras situações similares das empresas, os representantes dos bancos alegaram que não cabe mais, pois os projetos já foram implementados, negando o pedido dos bancários.

Isenção de tarifas

Sobre a isenção de tarifas para todos trabalhadores regidos pela Convenção Coletiva de Trabalho da categoria e a limitação do percentual de 1% para cheque especial, cartão de crédito e empréstimo, os bancos disseram que é política de cada instituição e que os bancários podem escolher.

“Um absurdo, isso não existe enquanto a taxa Selic está a 2% ao ano, os bancos cobram de nós no consignado por exemplo 2% ao mês. A prática abusiva de juros, as maiores taxas do mundo, é inaceitável e endividam a população e paralisam a economia. No Brasil já são cerca de 80 milhões de brasileiros sem crédito, humilhados no SPC. E nem para seus próprios funcionários, os bancos abrem mão destes juros sem precedentes no mundo. Mesmo com a baixa da Selic, o nosso país pratica uma das maiores taxas de juros de mercado no mundo”, critica Nalesso.

Importância da sindicalização

Sobre a proposta da categoria de disponibilizar acesso às informações acerca dos novos funcionários admitidos, a Fenaban desmereceu a reinvindicação dos trabalhadores e disse que o movimento sindical tem acesso aos dados e que as assembleias digitais facilitaram o acesso às informações.

“Os bancos não querem disponibilizar estes dados proque fazem de tudo para tentar fazer com que os sindicatos percam força. Somos uma categoria com expressivo número de sindicalizados e por isso conquistamos direitos que muitas outras categorias não tem. É mais um motivo para os bancários se sindicalizarem, pois fica clara a tentativa de retirada de direitos e ameaças feita pelos bancos com a desculpa do argumento de preocupação com a segurança jurídica.

“Por isso, os bancários precisam participar ativamente da campanha nas redes sociais e se manter mobilizados. Não vamos admitir a retirada de direitos. Precisamos atuar fortemente nas redes compartilhando e pressionando os bancos a avançarem nas mesas de negociação”, acrescenta a sindicalista.

Estabilidade pré-aposentadoria

Outro tema debatido foi a estabilidade de pré-aposentadoria. A Fenaban chegou a sugerir se não seria melhor tirar esta conquista histórica da categoria da Convenção Coletiva por que trazer “insegurança jurídica”.

“Mais um absurdo esta insinuação. Queremos é a adequação à legislação atual, assim como garantir a transição entre a legislação anterior para atual”, acrescenta Adriana.

Tíquete sem reajuste?

Os bancos deixaram claro que consideram que “não há necessidade de reajuste dos tíquetes refeição e alimentação”. A afirmação dos membros da Fenaban está absolutamente fora da realidade ante um dos mais altos custos de vida da história brasileira. A categoria o valor de R\41.04 para os tíquetes refeição e alimentação.

Alimentos mais caros

De acordo com dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), a inflação é muito maior no quesito alimentação e bebidas chegando a 8,3% e quando desagrega os dados e avalia a alimentação dentro de casa o crescimento inflacionário é ainda maior, chegando a 9,7% e fora do domicilio 4,5% nos últimos doze meses.

O aumento da demanda e as pessoas em casa consomem mais o que reflete no aumento preço dos produtos. A estimativa para inflação geral no mês de agosto é de 2,66% uma diferença significativa.

PLR

Quanto à reivindicação dos bancários sobre o aumento real de salários e da PLR, os banqueiros alegaram “dificuldades” e relataram “a redução do lucro nos bancos   .

“Redução de lucro não é prejuízo. Além disso, um olhar mais apurado nos permite verificar que os bancos estão se utilizando de um aumento que levou ao superdimensionamento da Provisão para Devedores Duvidosos (PDDs), uma estratégia do sistema financeiro, que temendo uma inadimplência em função da crise da economia no pós-pandemia, transfere grande parte dos ganhos para estas reservas”, afirma a presidenta do Sindicato. 

Adriana lembra que os bancos vêm acumulando lucros exponenciais ao longo dos últimos anos, Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil tiveram juntos no primeiro semestre deste ano R$ 28,4 bilhões em lucro e tiveram redução de despesas com água, luz, vigilância e viagens de cerca de R$ 267 milhões nos últimos meses em função da pandemia, segundo dados do Dieese.

“Não há qualquer argumento que sustente essa posição dos bancos em querer negar reajuste a categoria. Queremos ganho real e PLR justa”. É importante lembrar também que os bancos foram os primeiros a serem beneficiados pelo governo com liberação de recurso de R$ 1, 2 trilhão. Está na hora de apresentar proposta. Chega de tentar descaracterizar a realidade do setor que é um dos mais lucrativos do país as custas do trabalho da categoria bancária”, conclui Adriana.

Os bancários defenderam ainda o aumento do valor da indenização adicional (três vezes a maior remuneração do empregado para cada cinco anos trabalhados) e a manutenção dos trabalhos da Comissão de Segurança Bancária.  

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