Sexta, 14 Agosto 2020 11:36

Live do Sindicato debate a luta pela Igualdade de Oportunidades

Desigualdade no Brasil tem raízes históricas e culturais e está relacionada ao modelo do capitalismo brasileiro
Adriana Nalesso, Márcio Porchmann e Cleiton dos Santos debateram as raízes históricas da desigualdade no Brasil e a discriminação nos bancos Adriana Nalesso, Márcio Porchmann e Cleiton dos Santos debateram as raízes históricas da desigualdade no Brasil e a discriminação nos bancos

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRIo

 

O Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro realizou na quarta-feira, dia 12 de agosto, uma live para debater temas referentes à luta pela Igualdade de Oportunidades na categoria que foi tema da negociação com a Fenaban, na última quinta (13). A presidenta da entidade Adriana Nalesso mediou o encontro que contou também com as presenças do economista e professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Márcio Pochmann e o diretor da Federação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro da Região Centro-Norte, e membro do Comando Nacional, Cleiton dos Santos.

Adriana abriu o debate revelando a discriminação no mercado de trabalho bancário, lembrando que o último Censo da Diversidade revelou que as bancárias ganham, em média, 21% a menos do que os homens que exercem a mesma atividade profissional e falou ainda da discriminação racial no setor. 

“ Há na categoria apenas 3,4% de negros, presença bem aquém da realidade da sociedade brasileira”, disse. Os pretos e pardos representam cerca de 54% da população do país, mas 68% dos funcionários das instituições financeiras são brancos.  

A sindicalista falou também da discriminação contra os trabalhadores mais velhos ante os desafios das novas tecnologias. Reafirmou a importância do uso das redes sociais como instrumento de luta diante da necessidade de distanciamento social nesta campanha salarial.

Desigualdade histórica

Márcio Pochmann declarou que a categoria bancária é uma referência na luta por melhores condições de vida e de trabalho e explicou que a discriminação racial e de gênero no mercado de trabalho é fruto de uma herança cultural histórica escravocrata e do modo de formação do capitalismo brasileiro.

“Este tema é o nervo central da debilidade do capitalismo brasileiro que tem como fraqueza a extrema desigualdade que marca a sociedade construída desde a vinda dos portugueses. Antes, os índios conviviam com igualdade. Temos uma desigualdade hereditária que se reproduziu no tempo e que expressa o atraso nas questões de gênero e de raça inclusive num dos principais setores, que é o sistema financeiro”, destaca.

O acadêmico considera que a colonização no Brasil foi assentada na exclusão e na desigualdade que dura quatro séculos na sociedade brasileira.

“Na virada do século XIX a sociedade pré-capitalista, mercantil e escravista acreditava que a passagem para a modernidade representava uma necessidade de afastamento do passado brasileiro”, explica a respeito da visão etnocêntrica (pensamento que considerava a cultura branca europeia “superior”, “civilizada” e as demais “primitivas” e “atrasadas”) que permeava o pensamento crítico e acadêmico no país naquela época.

“Em 130 anos a experiência capitalista foi se modernizando com características muito conservadoras, que não aceita ser reformado, civilizado, que não aceitou a reforma agrária e fez deste país de dimensão continental uma estrutura fundiária marcada por poucos proprietários que têm um poder brutal a cada eleição, garantindo a maior parte da bancada parlamentar”, afirmou, lembrando que em 2018 foram eleitos 250 representantes vinculados ao agronegócio.

Criticou ainda o fato de o Brasil não realizar uma reforma tributária justa e não taxar as grandes fortunas e lucros e dividendos. Elogiou a categoria por levar à mesa de negociação temas além das questões corporativas, como a busca pela igualdade e criticou a discriminação nos bancos. 

“A alíquota até a virada do governo Sarney para o governo Collor era de até 45% e foi reduzida a 25%. Isentamos os ricos e concentramos o financiamento do setor público na classe média e na base da pirâmide social brasileira”, acrescenta, lembrando de a dificuldade do país em promover uma reforma social que garanta educação, saúde, habitação e transporte para a população e melhores condições de vida para o povo. Disse que num país em que os negros são mais de 50% da população, é um absurdo que um dos setores mais avançados do capitalismo, o sistema financeiro, não tem 5% de negros em seu quadro de funcionários”, criticou.

Teletrabalho

Porchmann destacou os impactos dessas novas tecnologias no mundo do trabalho. “No trabalho remoto não há controle da jornada, não se leva em consideração a intensificação do trabalho e preocupa trabalhadores mais antigos que não tiveram a oportunidade de acesso ao domínio dessas tecnologias em sua formação profissional. Lembrou que mesmo com a recessão econômica agravada perla pandemia que resulta em fechamento de empresas, aumento do desemprego e da pobreza há setores da sociedade que continuam acumulando grandes lucros, como é o caso dos bancos. “O Brasil não produz riqueza, mas cria mais ricos”, disse referindo-se a desigualdade social do país. Falou da apreensão das pessoas com a chamada inteligência artificial, robôs e sistemas tecnológicos que poderão substituir a mão-de-obra, especialmente no setor terciário de comércio e serviços e que uma outra visão acredita que haverá apenas mudanças na forma das atividades profissionais. 

“No setor de serviços, como nos bancos, não há a percepção material do trabalho, ao contrário de um operário da construção civil em que o operário constrói pontes e prédios”, explicou lembrando que no trabalho em casa, esta visibilidade é ainda menor.

Cleiton lembrou que há hoje cerca de 32 mil bancários em Home Office e que pelo menos 10 mil deverão ser mantido no trabalho remoto.

Adriana falou ainda da dificuldade das mulheres que fazem comida, cuidam da casa e dos filhos e ainda têm que dar conta do trabalho. 

Negros e indígenas

Cleiton dos Santos apresentou dados da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) e do Comando Nacional que revelam a exclusão racial nos bancos: em 2008, 2,3% da categoria eram negros e hoje este número é ainda muito baixo, apenas 3,4%. Destacou o problema vivido pelos indígenas no país, em especial nas regiões Norte e Central do país.

“A população indígena que vive nas áreas urbanas de Manaus, Belém, Macapá, Porto Velho, faz parte de um contingente insignificante do mercado de trabalho nestas regiões”, afirma, acrescentando que esta população, neste momento de pandemia, sofre com a desassistência absoluta do Governo Bolsonaro.

Ressaltou que a Federação dos Bancários da região e sindicatos participam de uma campanha chamada de SOS Xavantes, para arrecadar fundos e comprar respiradores e equipamentos de proteção e alimentos para ajudar os povos indígenas. O Sindicato do Rio contribui com esta ajuda.

Hegemonia branca

O sindicalista criticou também a discriminação e a desigualdade no sistema financeiro. “O setor é extremamente conservador e elitista. Dados mostram a hegemonia branca na categoria.

Falou dos extraordinários lucros dos bancos, mesmo nesta crise da pandemia do novo coronavírus. “Os bancos continuam faturando na casa dos bilhões elevaram as Provisões de Devedores Duvidosos (PDDs) em 50%. “É uma manobra para reduzir a distribuição dos lucros com os trabalhadores”, denuncia.

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