Terça, 11 Agosto 2020 19:53
SAÚDE ACIMA DOS LUCROS

Sindicato repudia declaração da Fenaban de que metas são exequíveis e não adoecem

Bancos querem retirar direitos garantidos na atual Convenção Coletiva. Mobilização da categoria é por nenhum direito a menos

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

 

Os representantes da Fenaban (Federação Nacional dos Bancos) decepcionaram os bancários na mesa de negociação sobre saúde e condições de trabalho, realizada por videoconferência neta terça-feira, dia 11 de agosto. Disseram que “as metas são plenamente exequíveis e não são abusivas” e que “não adoecem os bancários”, afirmação que deixou os membros do Comando Nacional dos Bancários indignados.

Estranha pesquisa dos bancos

Os bancos apresentaram uma “pesquisa” própria e apresentou resultados que não condizem com a realizada vivida pelos funcionários no setor. Os números apresentados pelos banqueiros, que teve comparação com outros setores da economia, mostraram que “84% da categoria disse que as metas são atingíveis” e que “80% estão engajados com os programas de resultados”.

“Os resultados apresentados pela pesquisa feita pelos bancos são completamente fora da realidade dos empregados que estão nas agências e departamentos ou em Home Office. Pelo que disseram parece até que trabalhar em banco é a melhor coisa do mundo, não tem ameaça de demissão, não tem pressão por metas, não adoece os trabalhadores, o que todos nós sabemos não é verdade”, disse Adriana Nalesso, presidenta do Sindicato do Rio e membro do Comando Nacional que participou da exaustiva reunião.

Cresce pressão por metas

A Fenaban alegou que a pesquisa feita pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) para a Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) “não apresentou números sobre metas, o que também não é verdade. A pesquisa das entidades sindicais mostra o contrário do que foi apresentado pelos patrões, revelando que o atingimento de metas está cada vez mais inatingível: 36% responderam que as metas estão difíceis ou muito mais difíceis, mesmo neste período de crise da pandemia do novo coronavírus.

Retirada de direitos

Os representantes dos bancários ficaram indignados com a proposta apresenta pela Fenaban para o tema saúde. Os bancos querem retirar direitos, como no caso da cláusula 29 da Convenção Coletiva de Trabalho, que prevê a complementação salarial por até 24 meses para o funcionário que está de licença médica, já que o benefício que o trabalhador recebe do INSS é menor do que o salário do bancário. Os bancos querem que, caso o bancário entre de licença mais de uma vez num ano, ele perde o direito ao complemento em sua remuneração. Assim, neste caso, o empregado só teria direito novamente à complementação, um ano depois.

Na cláusula 27 da CCT que trata do adiantamento emergencial quando o bancário entra com pedido do benefício do INSS, mas este não é concedido e o banco considera o funcionário inapto, o empregado recebe o adiantamento por até 120 dias. A Fenaban quer reduzir o tempo de recebimento deste adiantamento para até 90 dias.

“O que os bancos querem é retirar direito. Nós não vamos admitir isto. Justamente no momento em que o bancário mais precisa de apoio diante da gravidade desta pandemia, os bancos querem retirar direitos. Não vamos admitir nenhum direito a menos até porque o setor continua sendo, de longe, o mais lucrativo do país”, completa Nalesso.

Bancos lucram

Os bancos continuam lucrando e muito. Apesar de divulgarem recuo nos ganhos, um olhar mais apurado mostra que o setor continua o mais lucrativo do país e a queda é fruto de uma estratégia do setor: o superdimensionamento das Provisões de Devedores Duvidosos (PDDs), em que as instituições financeiras transferem grande parte de seus ganhos para uma reserva a fim de se proteger de um possível crescimento na inadimplência.

No segundo trimestre de 2020 foi anunciada uma queda de 40% nos lucros. Quatro dos maiores bancos (Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco e Santander) faturaram juntos R$12,1 bilhões. Novamente as PDDs explicam tamanha redução dos ganhos. Para se proteger, os bancos fizeram despesas com provisões para devedores duvidosos de R$ 29,101 bilhões entre abril e junho. O volume dobrou em relação ao do segundo trimestre do ano passado.

Um bom exemplo dessa estratégia que comprova que os lucros continuam altos no setor é o Santander, que fez uma reserva de R$10,4 bilhões para cobrir possíveis inadimplências. O lucro representa 32% dos ganhos mundiais da empresa e se não fosse a PDD superdimensionada, o que foi anunciado como queda seria aumento de 8,8% nos resultados no Brasil caso o banco não aumentasse em 63% suas provisões.

Mobilização é preciso

O Sindicato e Contraf-CUT reafirmaram a necessidade da participação da categoria nas atividades de luta da campanha salarial.

“A conjuntura é muito difícil. Precisamos aumentar a mobilização com a participação de todos os bancários e bancárias nas atividades nas redes sociais para pressionarmos a Fenaban a avançar nas negociações. Nos preocupa também o fim da ultratividade, que garantia os direitos da convenção vigente até o fechamento de um novo acordo, garantia que foi retirada dos trabalhadores através da reforma trabalhista imposta pelo governo golpista de Michel Temer e mantida pelo governo Bolsonaro. Mas a história nos mostra que, com mobilização, a gente consegue defender nossos direitos”, conclui Nalesso.

 

 

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