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Mais do que a entrega suspeita da carteira de crédito de R$ 2,9 bilhões do Banco do Brasil por R$ 371 milhões ao BTG-Pactual, cerca de 10% do valor, a venda de 135 milhões de ações da Vale em poder do BNDES, nos dias 4 e 5 de agosto, deixou evidente a transformação do Ministério da Economia numa espécie de sucursal do banco privado de investimentos. Esta realidade coloca sob suspeição todas as medidas tomadas pelo ministério cujas ações se confundem com os interesses do grupo privado e de seus clientes.
A primeira operação, BB-BTG-Pactual – que já está sendo investigada pelo Ministério Público do Tribunal de Contas da União, o que causou o pedido de demissão do então presidente do BB, Rubem Novaes – foi autorizada pelo ministro da Economia Paulo Guedes. Mas a venda das ações da gigante mineradora brasileira foi comandada por três ex-executivos do BTG-Pactual: além de Guedes, o presidente do BNDES, Gustavo Montezano e pelo presidente do Conselho de Administração do banco público, Marcelo Serfaty.
A transação foi um péssimo negócio para o BNDES e para o Estado brasileiro, já que foi feita em um momento de recuperação, tanto da Bolsa de Valores, quanto das ações da própria mineradora. Em outras palavras, foi um excelente negócio, mas somente para os grupos privados que lucraram agora comprando ações que já se recuperaram do tombo causado pela tragédia de Brumadinho e pela pandemia, mas que até dezembro vão se valorizar ainda mais.
Vale a pena lembrar que do esquema do BTG-Pactual levado por Guedes para dentro do Ministério e das estatais a ele subordinadas está ainda o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães. Este último também foi sócio-diretor do Banco Plural. Outro dado grave e preocupante é que este banco de investimentos aparece como participante de operações comandadas por Paulo Guedes, investigadas pela Procuradoria da República do Distrito Federal na Operação Greenfield, suspeitas de fraude que causaram prejuízos bilionários a fundos de pensão de estatais.
Outra investigada no mesmo inquérito é a assessora especial de Assuntos Estratégicos do Ministério da Economia, Daniella Marques Consentino, ex-diretora da Mercatto S2 Participações, empresa da teia societária da Bozano Investimentos, hoje Crescera Investimentos, da qual Guedes era sócio até entrar no governo. Diretor da mesma empresa, Sérgio Eraldo Salles Pinto, ocupou, até maio, o cargo de conselheiro da Embraer.
A Bozano Investimentos, aliás, é outra empresa sob investigação dos procuradores da República na Operação Greenfield, tendo incorporado a BR Educacional Gestora de Recursos S/A, de Paulo Guedes, que, através do Fundo de Investimentos (FIP) Brasil de Governança, fez investimentos (mais de R$ 600 milhões) no grupo privado Enesa, com recursos de sete fundos de pensão, que viraram pó: a Enesa Participações tinha patrimônio negativo. Parte do dinheiro (R$ 372 milhões) apareceu em uma outra empresa do grupo, em forma de aumento de capital. O patrimônio da Enesa Infra-Estrutura passou de R$ 100 para R$ 372 milhões. Também era responsável por estes investimentos, o FIP Caixa Modal Brasil Óleo e Gás, incorporado pela Brasil Plural Gestão de Produtos Estruturais. Ambos pertencem às gestoras de recursos Modal e Plural, dos bancos de mesmo nome. Vale a pena registrar que no Plural trabalharam ex-sócios do BTG-Pactual, entre eles, o atual presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, nomeado para o cargo por Paulo Guedes.
Amigo de Guedes no Bank Of America
Outro dado importante na venda das ações da Vale em poder do BNDES foi a contratação do Bank of America Merryl Linch, dos Estados Unidos, como único operador da transação. Na lista oficial de bancos que operam com a instituição pública, não consta o Bank of America.
Mas um detalhe chama a atenção: o fato do Bank of America, conhecido pela sigla Bofa, ter como presidente para a América Latina, o economista Alexandre Bettamio. Vale a pena lembrar que Bettamio é amigo pessoal de Guedes e integrou a equipe que elaborou o projeto econômico implantado pelo ministro no governo Bolsonaro, da qual participaram, entre outros, Roberto Campos Neto, ex-diretor do Santander, nomeado presidente do Banco Central. O BNDES não informou detalhes da contratação, se a escolha foi feita através de licitação, ou se o banco estrangeiro foi escolhido a dedo, como ocorreu com o BTG-Pactual na compra da carteira de crédito do Banco do Brasil. Tanto o Santander, quanto o Bank of America fazem parte do grupo dos 12 principais bancos credores da dívida pública do Brasil.
Quadrilha
Ao comentar a rede de ex-executivos do BTG-Pactual no ministério da Economia, o deputado Paulo Ramos (PDT-RJ), disse que Guedes comanda uma organização criminosa dentro do governo para perpetrar crimes contra a soberania nacional. “O presidente do Banco do Brasil já foi flagrado numa operação espúria com o BTG-Pactual, fundado e administrado durante muitos anos pelo ministro Paulo Guedes. O presidente do BB fez o que fez, sem concorrência, sem licitação entregando a carteira de crédito do banco de R$ 2,9 bilhões ao BTG-Pactual sob a alegação de que os créditos eram de difícil recuperação. Vendeu a carteira por 10% do seu valor, R$ 371 milhões. Uma operação que, quando virou escândalo ao passar a ser investigada pelo Ministério Público do TCU, obrigou Novaes a pedir demissão”, afirmou.
“Agora, o ministro está, sob a alegação de desinvestimento, como vem fazendo com a Petrobras, vendendo ações que o BNDES tem na Vale. Isso é um crime. Junto com ele vem o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, que integra a mesma organização, além de ser filho de um amicíssimo aliado do ministro, o Roberto Montezano, que com Guedes fundou o Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec)”, afirmou.
O parlamentar acusou Guedes de continuar a fazer seus negócios dentro do governo, numa situação de conflito de interesses. Lembrou que o ministro está sendo investigado na Operação Greenfield, suspeito da prática de inúmeros ilícitos, contra fundos de pensão das estatais e dos bancos públicos. “Lamentavelmente, este é o governo Jair Bolsonaro, cometendo crimes de lesa-pátria, crimes contra a soberania nacional”, acusou. Acrescentou que Bolsonaro não pode dizer, com todo o aparato de informações do qual dispõe, que desconheça os crimes que estão sendo praticados pelo seu governo e dentro do seu governo. No seu entender, Paulo Guedes não tem condições éticas de continuar como ministro, sequer de ter sido nomeado, em função da Justiça Federal tê-lo condenado, em 218, por operações no mercado de ações que causaram prejuízos ao fundo de pensão dos empregados do BNDES e por ser o principal investigado em fraudes contra outros sete fundos de pensão de estatais.