Sábado, 04 Julho 2020 16:47
AVALIAÇÃO DE CONJUNTURA

Economista diz que política econômica do governo aprofundará a crise pós-pandemia

Wellington Leonardo fez uma análise na Conferência Interestadual a respeito dos efeitos da crise sobre os bancários e os demais trabalhadores
O economista Wellington Leonardo afirma que a política econômica ultraliberal do Ministro Paulo Guedes e a desastrosa gestão do Governo Bolsonaro vão levar o Brasil a uma crise sem precedentes  O economista Wellington Leonardo afirma que a política econômica ultraliberal do Ministro Paulo Guedes e a desastrosa gestão do Governo Bolsonaro vão levar o Brasil a uma crise sem precedentes

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

 

 

O professor Wellington Leonardo, presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon) e assessor do Sindicato no início dos anos 90 abriu os painéis de debate sobre a conjuntura política e econômica da 22ª Conferência Interestadual dos Bancários RJ/ES, encerrada na tarde deste sábado, 7 de julho. Em sua avaliação, a crise econômica no país não começou em 2014 durante o Governo Dilma, mas sim com a crise internacional de 2008. Destacou também que, no mundo inteiro, o processo de globalização do capitalismo e o liberalismo radical estão sendo colocados em cheque.

“Até o presidente dos EUA, Donald Trump tem feito retornar ao seu país as empresas norte-americanas que migraram para países asiáticos para reduzirem os custos com mão de obra”, disse.

O economista criticou a política externa do Governo Bolsonaro que ataca o maior comprador dos produtos brasileiros, a China, e falou da repercussão “Verificamos a consolidação da China como carro-chefe do desenvolvimento no mundo, inclusive no Brasil, e no mercado internacional e Bolsonaro ataca o maior comprador dos produtos brasileiros”, acrescenta. A devastação e queimadas na Amazônia, segundo Wellington, também prejudicam a presença do país no contexto global, inclusive com a perda de investimentos da Alemanha e da Noruega para a proteção ambiental.

O professor elogiou as políticas sociais implementadas pelo Governo Lula, quando milhões de brasileiros foram retirados da miséria absoluta e criticou a atual política neoliberal do Ministro da Economia Paulo Guedes.

“O Brasil está na contramão de uma tendência mundial que passa a revisar o liberalismo radical. O atual governo neofacista aplica a política econômica dos conceitos que Guedes aprendeu na Escola de Chicago, receita que ele ajudou a aplicar nos anos 80 durante a ditadura do general Augusto Pinochet, no Chile. Hoje vemos que esta vitrine do neoliberalismo na América Latina levou muitos idosos ao suicídio”, afirma, em crítica ao sistema de capitalização privada que extinguiu a Previdência Pública naquele país. O resultado foi uma média no valor dos benefícios que não chega a metade de um salário mínimo: R$400. O salário mínimo chileno é em torno de R$1.200.

Consequências devastadoras

A política interna externa desastrada do Governo Bolsonaro e a condução econômica ultraliberal do Ministro da Economia Paulo Guedes, agravadas pela crise sanitária e econômica causadas pela pandemia da Covid-19 terão consequências negativas para a economia do país e para a vida dos trabalhadores sem precedentes na história.

“As previsões do FMI e Banco Mundial são de que a queda do PIB brasileiro pós-pandemia seja de 8% a 11%, mas eu acredito em algo em torno de 12%”, ressalta o economista. A crise veio antes da pandemia, mas a ausência de uma coordenação no combate ao novo coronavírus tornou o Brasil o segundo no mundo em mortes e número de contagiados. Para o palestrante, a crise sanitária somada à política econômica desastrada do governo poderá levar o país uma recessão econômica e caos social sem precedentes.

Impactos sobre os trabalhadores

Wellington Leonardo lembrou que a reforma trabalhista, criada pelo Ministro da Fazenda do Governo Temer, Henrique Meirelles, trouxe graves danos aos trabalhadores e que a reforma da Previdência, realizada por Guedes no Governo Bolsonaro vai quebrar os pequenos municípios do Brasil.

“Pelo menos 67% dos municípios brasileiros sobrevivem em função das aposentadorias, que movem a economia local”, explica.

Categoria bancária

O palestrante fez ainda um relato do avanço da terceirização no país e seus efeitos lesivos à categoria bancária e aos demais trabalhadores, desde a automação dos anos 80 e da elevação da exploração do trabalho.

“Hoje, em função da automação e das demissões, os funcionários estão sobrecarregados e mesmo um gerente exerce a atividade de muitos empregados, fazendo o atendimento a todos os correntistas”, destaca, acrescentando que o trabalho virtual será mais um problema a ser enfrentado pela categoria. “As empresas e bancos perceberam que o Home Office e o teletrabalho representam um corte de custos operacionais e eles estão gostando dessa experiência intensificada pela necessidade de distanciamento social durante a pandemia”, disse, citando as declarações do presidente do Santander no Brasil, Sérgio Rial, de que o trabalhador “tem que devolver ao banco o que vai economizar com gasolina, transporte público e alimentação”, sugerindo redução de salário e extinção de direitos, como vale-tranporte e tíquetes refeição e alimentação. Rial esquece que, no trabalho virtual, é o empregado quem arca com as despesas de energia elétrica, água, Internet, impressora, papel e conta telefônica.

Há um processo de uberização do trabalho, que beira à escravidão, sem nenhum direito. A bicicleta muitas vezes é alugada do Itaú, o trabalhador não tem FGTS, seguro, direito à Previdência Pública, nada”, afirma, dando como exemplo o caso da morte do entregador de aplicativos, em São Paulo, em que a empresa providenciou a busca do isopor de transporte do produto e da máquina do cartão, deixando o corpo do trabalhador na via pública.

Criticou também o fato de o presidente Bolsonaro escolher para o Ministério da Educação, executivos de escolas privadas que são contra a política de cotas, as bolsas de estudo e que estão à serviço das empresas do setor de ensino particular.

Crise aprofundada

Na opinião do presidente do Cofecon, a política econômica do governo só agrava os efeitos já drásticos da economia sobre a vida do país e dos brasileiros. “Só o Guedes não vê que este projeto não vai dar certo e ainda mente ao dizer que haverá uma rápida recuperação da economia. As reformas trabalhista e previdenciária não geraram empregos e aviltaram o poder de compra das famílias. A perda de renda leva os brasileiros a deixarem de consumir, só comprando, quando possível, o que é extremamente necessário para a sobrevivência. Sem consumo não há produção”. 

No Brasil, segundo dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios) realizada pelo IBGE, 20 milhões de brasileiros já estão desocupados e mais da metade da população economicamente ativa está sem rendimentos. As pequenas e médias empresas estão quebrando e quem não está desempregado vive o drama de ter seu trabalho suspenso ou o salário reduzido. Para Wellington, “por trás do discurso dominante do ‘empreendedorismo’ está a destruição da rede de proteção social e a precarização do trabalho”.

“O setor financeiro e os grandes empresários estão determinando o fracasso da economia do Brasil e do futuro de nossos filhos e netos", conclui.

 

 

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