Quarta, 27 Mai 2020 17:10
NÃO É SÓ O CORONAVÍRUS

Brasil de Bolsonaro perde mais de um milhão de empregos formais de janeiro a abril

Política econômica, agravada pela pandemia, consegue o pior desempenho da série histórica. Até dezembro, país poderá ter 20 milhões de desempregados
A previsão de especialistas é de que até o final deste ano, o Brasil poderá ter mais de 20 milhões de desempregados. A pandemia aliada a uma política econômica desastrosa do governo levam o Brasil para a maior crise de sua história A previsão de especialistas é de que até o final deste ano, o Brasil poderá ter mais de 20 milhões de desempregados. A pandemia aliada a uma política econômica desastrosa do governo levam o Brasil para a maior crise de sua história

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

 

De janeiro a abril, antes da explosão absoluta do coronavírus no Brasil, a política econômica do Governo Bolsonaro e do ministro da Economia Paulo Guedes levaram a economia do país, cambaleante há mais de quatro anos, definitivamente para o brejo. Já no ano passado, o país teve o pior crescimento da economia (PIB, Produto Interno Bruto) dos últimos três anos, perdendo para o pífio desempenho durante o Governo Temer.

Nos primeiros quatros meses deste ano, o desempenho desastroso da economia brasileira resultou na perda de 1,1 milhões de empregos formais (com carteira de trabalho). Em março, país teve 250,7 mil de saldo negativo. Em abril, foram extintos 860.503 postos de trabalho com carteira assinada, sendo 1.459.099 de desligamentos e 598.596 contratações. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) foram divulgados nesta quarta-feira, dia 27 de maio. É o pior desempenho do emprego no país desde o início da série histórica iniciada em 1992.

Enquanto as demissões tiveram um aumento de 17,2%, as admissões caíram 56,5% na comparação com abril de 2019.

Piores desempenhos

Em valores nominais, São Paulo, governado por João Dória (PSDB), teve o pior desempenho, com saldo negativo de 260.902. O estado é seguido por Minas Gerais, do governador Romeu Zema, filiado ao Partido Novo de João Amoêdo, banqueiro, que chegou a ser vice-presidente do Unibanco. Curiosamente, o Partido Novo tem as mesmas cores do Itaú, que comprou o Unibanco. Zema é aliado do presidente Jair Bolosonaro.

O terceiro pior desempenho é do Rio de Janeiro, do governador Wilson Witzel (PSC), que também foi eleito na onda bolsonarista, mas rompeu com o Presidente da República: 83.626 empregos extintos. Em seguida, no ranking negativo, vem o Rio Grande do Sul, com 74.686 empregos formais perdidos. Os gaúchos são governados por Eduardo Leite, também do PSDB.

Governo vê lado ‘positivo’

Por mais absurdo que possa parecer, o Governo Federal conseguiu ver um aspecto “positivo” nos resultados trágicos da maior perda de empregos formais da história do país. O secretário Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Bianco, disse que “é um número duro, que reflete a realidade de pandemia, mas que traz algo positivo. Demostra que o Brasil está conseguindo preservar emprego e renda. No entanto, pelos mesmos motivos de pandemia, o país não manteve a contratação de outrora”.  A confusa contradição não consegue justificar o drama de milhões de famílias brasileiras lançadas à miséria.  

Ajuda só para bancos

Bianco citou ainda os EUA, que estão com mais de 35 milhões de pedidos de seguro desemprego, para tentar explicar o nosso fiasco econômico. Mas o economista não disse que, nos EUA, o governo injetou US$ 2 trilhões (cerca de R$10,14 trilhões) na economia, inclusive US$3 mil por família (quase R$ 16 mil mensais) e mais US$ 175 bilhões para as pequenas e micro empresas pagarem os salários dos funcionários e evitar ainda mais dispensas.

No Brasil, o governo, através do Banco Central, disponibilizou R$1,2 trilhão. Mas foi para os bancos. Para “fazer caixa” e “dar liquidez” ao sistema financeiro, segundo palavras do próprio presidente do BC, Roberto Campos Neto, que foi executivo do Santander.

Além disso, o BC vai comprar títulos podres, ou seja, investimentos especulativos que dão prejuízos ao sistema financeiro serão comprados com dinheiro público. E para finalizar, o ministro Paulo Guedes reduziu o imposto sobre os lucros dos bancos, justamente o dinheiro que é injetado na Previdência Social.

“Não é só a pandemia. A política econômica de Paulo Guedes é prejudicial ao trabalhador e ao desenvolvimento do país desde o primeiro dia deste governo. É uma covardia Bolsonaro injetar trilhões nos cofres dos bancos, setor que mais fatura dinheiro há 40 anos, enquanto que pequenas e micros empresas são obrigadas a fechar as portas e milhões de famílias brasileiras são levadas à miséria, sem emprego ou a caminho da crueldade do mercado informal”, critica o vice-presidente da Contraf-CUT, Vinícius de Assumpção.

Números podem ser maiores

Os números de postos de trabalho perdidos divulgado pelo Cadeg podem ser ainda maiores do que o resultado oficial divulgado, informou na quarta (27), o blog Tijolaço, do jornalista Fernando Brito. É que o atraso nas informações podem resultar em multa de R$4,50 por demitido, mas como as atenções estão voltadas para a pandemia, fiscalização não é, e nem interessa ser por motivos políticos, a prioridade do governo.

Além disso, acrescenta Brito, “apenas o emprego celetista compõe os dados do Cadeg, que representa pouco mais de 40% do total de empregos, sem falar no trabalho informal cuja rotatividade é ainda mais elevada”.

Democracia ameaçada

Por consequência, o número de postos de trabalho extintos é muito maior. A previsão de especialistas é de que o Brasil perca no médio prazo de 10 a 12 milhões de empregos e no final do ano, poderemos ter mais de 20 milhões de desempregados. Um colapso econômico e social absoluto que resultará num caos sem precedentes e num risco real para a democracia em função da simpatia que Bolsonaro e os militares do governo têm pela ditadura e do desprezo pelas instituições democráticas.

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