Quarta, 22 Abril 2020 16:08
NO DISCURSO, MAS NÃO NA PRÁTICA

Diretor da FIESP fala em ‘fim da experiência neoliberal’ e presença do Estado na economia

Thomaz Zanotto faz declarações na contramão da política econômica de Paulo Guedes, mas industriais apoiam todas as medidas do governo Bolsonaro
: O POVO CONTINUA PAGANDO A CONTA - O presidente da FIESP Paulo Skaf durante protesto que ajudou a derrubar o governo Dilma Rousseff. Os industriais mudam o discurso, mas na prática apoiam todas as medidas do governo Bolsonaro que aprofundam ainda mais a crise econômica : O POVO CONTINUA PAGANDO A CONTA - O presidente da FIESP Paulo Skaf durante protesto que ajudou a derrubar o governo Dilma Rousseff. Os industriais mudam o discurso, mas na prática apoiam todas as medidas do governo Bolsonaro que aprofundam ainda mais a crise econômica Airton Vignola/FIESP

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

Em matéria publicada no jornal Valor Econômico, na última segunda-feira, 20 de abril, o diretor da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) Thomaz Zanotto, deu uma declaração surpreendente, na contramão do discurso e das práticas do Ministro da Economia Paulo Guedes. Thomaz anunciou “o fim precoce da experimentação neoliberal” no Brasil e que “o Estado voltará a ter influência na economia”. O representante da maior entidade representativa do setor no Brasil disse ainda que “o governo vai ter de construir premissas de uma nova política industrial” no país.

Apesar da mudança aparentemente radical do discurso, na prática a FIESP não recuou um milímetro de sua posição reacionária que contribui para o agravamento da recessão econômica no Brasil.

Por trás do discurso

Na prática, a FIESP continua a apoiar todas as decisões do governo que reduzem a renda média das famílias (como a reforma da Previdência e a redução de salários para o período de quarentena) e que retiram diretos, como 13° salário, 1/3 de férias e diminuição da fatia do FGTS recebida pelo empregado na rescisão do contrato. Aumento mesmo só da jornada  da precarização nas condições de vida e de trabalho dos brasileiros.

A burguesia brasileira, em função de seu ranço escravocrata e da visão colonial, ainda não consegue admitir que as únicas saídas para a recessão econômica são o aumento do poder de consumo das famílias, através da geração de empregos e de renda e a redução dos juros bancários. Mesmo com a depressão econômica gerada pela pandemia, que fez com que a Europa e os EUA reduzissem os juros a zero e até negativos, os bancos no Brasil não se contentaram com a média de 300% ao ano e elevaram ainda mais os juros, uma indecência que já levou 63 milhões de brasileiros ao SPC, reduzindo drasticamente a capacidade de compra da população, agravando a crise do comércio e, por conseguinte, afetando o setor industrial.  

“Nosso objetivo é proteger a vida das pessoas, mas a questão principal é a manutenção das empresas, dos empregos e do tecido social. Temos plena confiança que, com esses instrumentos que foram colocados [MP 927/2020 e MP 936/2020], nós conseguiremos construir uma ponte até o futuro, para depois dessa crise, retomarmos a produção e a vida com os familiares perto da gente”, disse Bruno Dacolmo, secretário do Trabalho da FIESP, em evento da entidade no início deste mês de abril. A entidade apoia também a MP 905, da criação da chamada certeira de trabalho verde e amarela, o aprofundamento  de uma reforma trabalhista que rasgou a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e não gerou um único emprego no país, levando a uma explosão do mercado informal e ao agravamento da recessão econômica.

 Desoneração é pouco

O presidente da Fiesp Paulo Skaf deixou claro que as desonerações e corte de custos com a mão-de-obra garantidos pelo pacote de MPs do governo não bastam e sinaliza que o setor quer mais dinheiro público.

 “Não adianta dar recursos só para a folha de pagamento. Também tem que ter crédito para capital de giro para que todas as empresas possam chegar vivas depois da tempestade e recuperar rapidamente a economia brasileira”, alertou Skaf. Fica claro que a FIESP pode mudar o discurso, mas não a prática. E a política ultraliberal de Paulo Guedes que o grande empresariado tanto aplaude, com a fábula do “Estado mínimo”, é só no caso de assistência social aos mais pobres. Grandes industriais e banqueiros, querem para eles, o máximo do Estado e do investimento público e sem qualquer contrapartida social.

A velha FIESP

A FIESP teve um papel fundamental no golpe que derrubou a presidenta Dilma Roussef e na campanha que elegeu o presidente Jair Bolsonaro. A guinada no discurso soa não como uma autocrítica dos industriais, mas um recado para o governo despejar mais dinheiro público em suas empresas e, de certa forma, uma cutucada na política econômica desastrosa do atual governo que já deus sinais desde o primeiro ano da gestão Bolsonaro, de que vai aprofundar ainda mais a recessão econômica, agora agravada pela crise do coronavírus. Afinal, em 2019, primeiro ano deste governo, o PIB (Produto Interno Bruto) teve o menor crescimento dos últimos três anos, com índice (1,1%) ainda pior do que os resultados da Era Temer.

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