Terça, 31 Março 2020 21:28
REFERÊNCIA DE LUTA

Aluizio Palhano: o bancário mártir que enfrentou a ditadura militar

Exilado e, depois preso, torturado e assassinado pela repressão militar, o ex-presidente do Sindicato dos Bancários do Rio deu sua vida pela democracia
DITADURA NUNCA MAIS - O bancário e ex-presidente do Sindicato dos Bancários do Rio deu sua vida em defesa da democracia e dos direitos dos trabalhadores DITADURA NUNCA MAIS - O bancário e ex-presidente do Sindicato dos Bancários do Rio deu sua vida em defesa da democracia e dos direitos dos trabalhadores Arquivo/SeebRio

Carlos Vasconcellos/Imprensa SeebRio

O bancário e sindicalista Aluizio Palhano Pedreira Ferreira, dado como desaparecido político desde 1971, quando tinha 49 anos, teve suas ossadas e restos mortais identificados no dia 3 de dezembro de 2018, pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), do Ministério dos Direitos Humanos (MDH), durante o governo Dilma Rousseff.

Uma história de lutas

Funcionário do Banco do Brasil desde 1942 se formou em direito em 1948.

Palhano foi presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro por dois mandatos consecutivos, liderou em 1961 a greve geral da categoria em defesa de aumento salarial e do 13º salário. Em agosto de 1963, elegeu-se presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Crédito (Contec), associação sindical de âmbito nacional criada em julho de 1958. Nesse mesmo período, tornou-se um dos dirigentes do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), organização intersindical, também de âmbito nacional, fundada em 1962 com o objetivo de coordenar e dirigir o movimento sindical brasileiro.

Apoio a Jango

Participou das campanhas reivindicatórias e em defesa das reformas de base do governo de João Goulart (1961-1964). Em fevereiro de 1964 assinou manifesto de convocação para o comício presidido por Goulart no dia 13 de março em frente à estação da Central do Brasil, no Rio, em defesa das liberdades democráticas, da extensão do voto aos analfabetos e soldados e da realização das reformas de base. Em março, também como representante da Contec, participou de um congresso da Organização Internacional do Trabalho (OIT) na República Democrática Alemã, de onde regressou no dia 15, dois dias após o chamado Comício da Central.

Prisão e morte

Com o golpe militar de 1964 que depôs o governo Goulart em 31 de março do mesmo ano, a Contec, assim como outras associações sindicais, sofreu intervenção do Ministério do Trabalho. No dia 10 de abril Palhano teve seus direitos políticos cassados pelo Ato Institucional nº 1, editado no dia anterior. Em junho, solicitou asilo político na embaixada do México, país onde permaneceu até o final de 1964 trabalhando como editor do jornal dos exilados, Correio Brasiliense. Em dezembro, viajou para Cuba, onde trabalhou na Rádio de Havana, e, em 1969, presidiu o congresso da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS).

Palhano retornou ao Brasil em 1970 e participou da resistência armada contra a ditadura militar tendo sido preso no dia 9 de maio do ano seguinte em São Paulo. Foi torturado nas dependências do Centro de Informações da Marinha (Cenimar) e transferido uma semana depois para o Departamento de Operações Internas do Centro de Operações para a Defesa Interna (DOI-CODI) de São Paulo, órgão do II Exército onde após novas torturas, veio a falecer no dia 21 de maio de 1971. No entanto, o bancário foi dado oficialmente como desaparecido, versão comum utilizada pelos militares para tentar ocultar as torturas e assassinatos realizados durante os 20 anos de regime ditatorial de direita. Era casado com Leda Pimenta Pedreira Ferreira, com quem teve dois filhos.

“Palhano é uma referência nas lutas em defesa da categoria, dos trabalhadores e da democracia. Sua resistência à ditadura é um legado que jamais vai se apagar e é por pessoas como ele, que deram suas vidas, é que hoje temos a democracia, que volta a ser ameaçada pelo retrocesso político do governo Bolsonaro”, disse a presidenta do Sindicato dos Bancários do Rio, Adriana Nalesso.

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