Segunda, 19 Agosto 2019 20:21

Greve bancária foi decisiva para derrubar a ditadura

“Em 1978 começa um ciclo de lutas do movimento sindical pela derrubada da ditadura militar, com greves – e outras grandes mobilizações de rua –, como a do ABC Paulista, naquele ano, fortalecendo a luta nacional pelo fim do regime, que se concretizou em 1985, e a volta da democracia. A greve dos bancários de 1979 (iniciada em 12 de setembro) foi decisiva neste processo que se ampliou, anos depois, com a campanha das diretas, já”. A avaliação foi feita pela historiadora Dulce Pandolf, na última sexta-feira (19/8), no auditório do Sindicato, num evento em comemoração aos 40 anos da histórica greve bancária.
Participaram, ainda, três ex-presidentes do Sindicato: Ivan Pinheiro, que ocupava o cargo na greve, Cyro Garcia e Fernanda Carisio. Em também a atual presidente da entidade, Adriana Nalesso. Todos falaram após o documentário de Antônio Garcia e Sidney Moura, sobre a greve de 1979. Em sua palestra, Dulce lembrou que a elite brasileira sempre se utiliza de golpes para impor prejuízos à população quando está no poder um grupo com um projeto de inclusão social. “Aconteceu assim com Getúlio Vargas, com João Goulart, com o golpe de 1964 e com o governo Dilma Roussef, em 2016, dando lugar, agora, a um projeto autoritário, violento, que investe contra os direitos dos trabalhadores”, afirmou. Acrescentou que vivemos um momento delicado que vai nos exigir muita luta e resistência, com um governo de direita que vamos conseguir derrotar. “Vamos encontrar uma saída para que isso aconteça”, argumentou.
Nesta sexta-feira (23/8), às 18 horas, será exibido o filme sobre a greve de 1989 no Banco do Brasil. O documentário foi feito por Antônio Garcia e Jorge Pacheco.

Luta pela democracia

A presidente do Sindicato, Adriana Nalesso, disse que agradecia profundamente a todos os que lutaram bravamente durante a ditadura. “Agradeço porque foi graças a estas pessoas, muitas delas presas, torturadas e mortas que hoje temos direito à liberdade de expressão, manifestação e de organização sindical, direito de fazer greve e de eleger diretamente nossos representantes”, frisou.
Ivan Pinheiro lembrou que, desde 1964, as greves eram proibidas e reprimidas pelas forças armadas, com prisões, podendo chegar a torturas e assassinatos. Os sindicatos viviam sob intervenção. Os reajustes salariais eram fixados por decreto. Não havia negociação. Mas o regime começava a dar sinais de fragilidade nos meados da década de 1970. “Porém, tínhamos uma diretoria eleita em 1979 e a categoria fez uma de suas mais fortes mobilizações, com adesão total, assembleias tão grandes que não cabiam em nenhum prédio da cidade, passando a ser feitas na quadra do Salgueiro”, contou. As principais palavras de ordem eram: reajuste já e abaixo a ditadura.
A greve enfrentou muita violência policial. Ao final, conquistou 14% de reajuste. Como retaliação, a ditadura decretou a intervenção do Sindicato, com o afastamento da diretoria. Pouco tempo depois, o ministro do Trabalho, Murilo Macedo, suspendeu a intervenção, depois de uma intensa mobilização dos bancários.
Cyro Garcia, classificou a greve de 1979 como um passo importante do movimento nacional pela redemocratização do país. Tanto as greves dos metalúrgicos do ABC Paulista, quanto a dos canavieiros, em Pernambuco, em 1978, quanto a dos bancários, um ano depois, mudaram a correlação de forças no país. “Estas greves serviram de exemplo para que as demais categorias fizessem o mesmo, num movimento que ajudou a derrubar o regime de exceção”, lembrou.
Fernanda Carisio, primeira mulher presidente do Sindicato e presidente da Confederação Nacional dos Bancários (CNB) entidade que deu origem à Contraf-CUT, avaliou ser importante lembrar deste momento histórico fundamental para o país, em que os bancários foram os protagonistas. “Inclusive para sabermos que vivemos um momento em que outra vez nossos direitos estão sendo retirados por um governo autoritário mas que é possível derrotá-lo”, argumentou.

Mídia