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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Protestos foram realizados em todas as regiões do país. Mobilização vai continuar e pode culminar em uma greve geral
Foi uma manifestação como há muito tempo não acontecia no Brasil. No Rio, nem a ameaça de chuva, que não veio, inibiu os manifestantes: mais de 30 mil pessoas participaram do protesto contra a Reforma da Previdência, no Centro. Houve passeata da Candelária até a Central do Brasil. Paramentares e militantes de vários partidos, como PT, PDT, PCdoB, PSOL, PCB e PSB, participaram da mobilização. Estudantes, trabalhadores e trabalhadoras, donas de casa, famílias inteiras, entoavam gritos em defesa do direito à aposentadoria e contra o governo Bolsonaro.
Ocorreram protestos em todas as regiões e capitais do país e também em cidades do interior. O brasileiro deu o recado ao governo: não abre mão de seu direito de se aposentar. Afinal, aposentadoria não é favor e muito menos privilégio. Todo empregado paga e caro, para ter o direito a uma velhice minimamente digna.
Fim da aposentadoria?
O projeto do governo, elaborado pelo Ministro da Economia Paulo Guedes junto com banqueiros e grandes empresários, torna ainda mais difícil o direito à aposentadoria no Brasil, levando a grande maioria dos brasileiros a trabalhar até a morte. A Reforma, que será votada pelo Congresso Nacional, reduz drasticamente os valores dos benefícios, desvinculando-os do salário-mínimo. Receber o teto do INSS tornou-se quase impossível. Será preciso contribuir 40 anos para Previdência. Isto num país em que é grande o desemprego, é alta a rotatividade e cresce a cada dia a informalidade. A idade mínima (65 para homens e 62 para mulheres) é injusta com quem trabalha mais cedo, em sua maioria os pobres, que precisam ajudar n o orçamento familiar e os trabalhadores rurais, que antes de atingir a maioridade já estão trabalhando nas lavouras.
Só o povo paga a conta
A Reforma tira dos pobres para dar aos ricos. O governo quer economizar R$1 trilhão em 10 anos acabando com a Previdência Social e criando um sistema simular ao do Chile, de capitalização privada. E o pior, somente o trabalhador vai bancar o que seria uma poupança para se aposentar. O patrão não entra com nada.
O governo chileno está sendo pressionado pelo povo para rever este sistema, que lançou milhares de idosos na miséria absoluta, resultando inclusive em um alto índice de suicídio.
No projeto de Guedes também somente o povo paga a conta. O calote de banqueiros e empresários ao INSS, que supera os R$460 bilhões, é um tema que ninguém no Palácio do Planalto ousa pronunciar. O governo quer cortar na carne dos trabalhadores para sobrar mais dinheiro para a União pagar aos bancos, os juros da amortização da dívida pública, que chega a R$1 trilhão em apenas um ano.
Privilégio para os generais
A proposta do governo brasileiro, além de cruel com os brasileiros, não acaba com os privilégios, como é o caso dos militares. A proposta dos generais para suas próprias aposentadorias causou grande indignação e repercussão negativa. O comando das Forças Armadas só aceita elevar a idade mínima na caserna (em média, na prática passaria de 48 para 53 anos) se o governo aumentar as gratificações, o que dobraria os soldos de coronéis e generais, gerando num gasto de cerca de mais de R$83 bilhões. Além de resultar em indignação na sociedade civil, a proposta revoltou até militares de baixa patente. Sargentos, cabos e soldados não seriam beneficiados e, assim como as pensio nistas, teriam de descontar 10% sobre o soldo para manter os privilégios do alto oficialato, o que causou reclamações na tropa.
Tiro no pé
“Esta manifestação nacional é só o começo. O povo precisa pressionar os parlamentares e protestar ainda mais para impedir que a proposta seja votada e aprovada. Só os banqueiros, grandes empresários e especuladores ganham com o projeto. Todos os trabalhadores perdem. Temos de lutar”, disse o diretor do Sindicato dos Bancários do Rio, José Ferreira.