Sexta, 25 Janeiro 2019 18:33

Intensificação de ameaças de morte levam Jean Wyllys para o exílio

Jean Wyllys participou de debate no Sindicato em 2012: já sofria ameaças Jean Wyllys participou de debate no Sindicato em 2012: já sofria ameaças

Nesta sexta-feira (25/1) uma notícia surpreendeu o país. A intensificação das ameaças de morte após o assassinato da vereadora Mariele Franco, levou o deputado Jean Wyllys (ambos do PSOL), a anunciar que não assumirá o seu terceiro mandato como deputado federal. O parlamentar já se encontra fora do país, onde permanecerá num autoexílio como forma de proteger a sua vida e da sua família.

Em 2012, o deputado esteve no Sindicato, participando de um seminário sobre visibilidade LGBT no mundo do trabalho. Na ocasião já se queixava das pressões e ameaças, tendo comentado que pensava em não se candidatar, o que acabou não acontecendo, tendo sido eleito para um segundo mandato. Para a diretora da Secretaria de Imprensa do Sindicato, Vera Luiza Xavier, trata-se de uma perda muito grande para a sociedade brasileira. “Como cidadã, sinto muito. Mas compreendo a decisão, tomada diante do atual quadro nacional e da necessidade de preservar a sua vida”, avaliou.

Milícia e Flávio Bolsonaro 

Wyllys vive sob escola policial há quase um ano. Em carta ao seu partido explicou sua decisão: “Minha vida está, há muito tempo, pela metade; quebrada, por conta das ameaças de morte e da pesada difamação que sofro desde o primeiro mandato e que se intensificaram nos últimos três anos, notadamente no ano passado”. Acrescentou que “todo esse horror também afetou muito a minha família, de quem sou arrimo. As ameaças se estenderam também a meus irmãos, irmãs e à minha mãe. E não posso nem devo mantê-los em situação de risco; da mesma forma, tenho obrigação de preservar minha vida”.

Wyllys foi o primeiro parlamentar assumidamente gay a encampar a agenda de direitos humanos, combate à discriminação racial e LGBT no Congresso Nacional, tendo por isto mesmo se tornado alvo de grupos conservadores. Pesou, ainda, em sua decisão de deixar o país, a descoberta de que familiares de um ex-PM suspeito de chefiar milícia investigada pela morte de Marielle trabalharam para o senador Flávio Bolsonaro durante seu mandado como deputado estadual no Rio de Janeiro. Flávio é filho do presidente Jair Bolsonaro que sempre atacou e insultou Willys de maneira aberta. “Esse ambiente não é seguro para mim”, disse.

OEA

Para a CUT de Brasília, se as milícias que assassinaram Marielle estão intimamente vinculadas ao Planalto, o ato de Jean Wyllys é perfeitamente compreensível. Segundo a advogada chilena Antonia Urrejola Noguera, relatora especial do Brasil na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, o governo brasileiro falhou em proteger o parlamentar. “O país não foi capaz de garantir segurança e condições básicas para que o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) pudesse exercer suas funções”, avaliou. Para Denise Argemi, advogada e Especialista em Direito Internacional Público, Privado e da Integração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), viver em um país cujo parlamentar é obrigado a renunciar ao próprio mandato, diz muito sobre que Brasil está surgindo. “E saber que pessoas ligadas a milicianos assassinos, inclusive assassinos da vereadora Marielle Franco e da juíza Patrícia Acioli, que enaltecem torturadores estão se regozijando com isso, nos embrulha o estômago e nos faz ter vergonha de ser brasileiros”, afirmou.

 

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