Segunda, 03 Dezembro 2018 21:07

Após 47 anos, bancário assassinado na ditadura militar é identificado

Palhano: uma vida dedicada em defesa da democracia e dos  trabalhadores, ceifada pela brutalidade da ditadura militar Palhano: uma vida dedicada em defesa da democracia e dos trabalhadores, ceifada pela brutalidade da ditadura militar

Aluízio Palhano foi presidente do Sindicato e militante da Vanguarda Popular Revolucionária, morto covardemente em maio de 1971 após ser torturado por militares, com a participação do então major Carlos Brilhante Ulstra
O Grupo de Trabalho do Cemitério do Perus (SP) divulgou nesta segunda-feira (3) a identificação da ossada de Aluízio Palhano Pedreira Ferreira, bancário e ex-presidente do Sindicato dos Bancários do Município do Rio de Janeiro e militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) que fazia oposição à ditadura e estava desaparecido desde 21 de maio de 1971, quando foi sequestrado, torturado e morto pelo regime militar.
A identificação foi confirmada no dia 27 de novembro, porém o anúncio foi realizado durante o I Encontro Nacional de Familiares promovido pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, que durará até a terça-feira (4).
Ditadura escondia corpos
O cemitério clandestino de Perus, recentemente renomeado como Colina dos Mártires, fica localizado na zona norte de São Paulo. No local existe uma vala utilizada para enterrar corpos não identificados, mas que serviu durante os anos da ditadura para esconder corpos de militantes de esquerda que lutavam contra o regime da época, sendo descoberta em 1990 depois de dez anos de investigação, com mais de mil ossadas de vítimas da repressão.
Aluízio Palhano é a quinta identificação desde o descobrimento dos restos mortais há quase três décadas e o segundo nome divulgado desde a retomada dos trabalhos de investigação de análise das ossadas, em 2014, quando todo o material foi enviado para um laboratório especializado na Bósnia. De acordo com o Grupo de Trabalho de Perús, existem ainda mais quarenta possíveis identificações de desaparecidos políticos. Já foram descobertos nesta investigação e identificados os corpos de Denis Casemiro e Frederico Eduardo Mayr, em 1991; Flavio Carvalho Molina, em 2005; Dimas Antônio Casemiro em fevereiro deste ano; e, agora, Aluízio Palhano.
Assassinos anistiados
Para Rogério Sottili, diretor do Instituto Vladimir Herzog, a vala clandestina de Perus é mais um capítulo terrível da nossa história para ser investigado e os responsáveis, punidos. Mas para isso é fundamental a revisão da Lei da Anistia. “Crimes de tortura são crimes políticos e o Brasil assinou um tratado internacional onde se compromete a seguir todas as determinações deste pacto internacional de direitos civis e políticos. Isso significa que quem cometeu tortura e quem matou não pode ser contemplado pela lei da Anistia. E o Supremo Tribunal Federal, com o parecer do ministro Eros Grau, fez uma interpretação diferente, a de que estes eram crimes anistiáveis. “Nós queremos a reinterpretação da Lei da Anistia, não precisa mudar a lei, nós não queremos a revisão porque a lei que está aí hoje ela é suficiente para gente abrir os processos e fazer justiça”, destacou Rogério Sottili.
Foram mais de 10 anos de investigação para a descoberta da vala clandestina no final da década de 1980, que hoje abriga este monumento. A abertura da vala só aconteceu na gestão da prefeita Luiza Erundina, no dia 4 de setembro de 1990, graças a pressão da Comissão dos Familiares dos Desaparecidos Políticos. Havia 1049 sacos com ossadas não identificadas.
Confira em nosso site e na próxima edição do Jornal Bancário, mais detalhes sobre a vida de Aluízio Palhano.

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