Quarta, 28 Novembro 2018 22:20

Modelo de gestão nos bancos leva ao assédio moral e adoecimento

Adriana Nalesso, presidenta do Sindicato, durante  ato-debate sobre assédio moral no sistema financeiro Adriana Nalesso, presidenta do Sindicato, durante ato-debate sobre assédio moral no sistema financeiro

“O modelo de gestão implementado pelos bancos leva ao adoecimento. Ameaças de demissão e descomissionamento por descumprimento das metas são práticas comuns nas agências, práticas classificadas como assédio moral”. A denúncia foi feita pela presidenta do Sindicato, Adriana Nalesso, durante o debate “Assédio Moral nas Instituições Bancárias”, que aconteceu na quarta-feira (28/11), no auditório do Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro (TRT/RJ). Um representante da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) estava presente.
Além do TRT/RJ, participam da organização o Sindicato, o Programa Nacional de Acidentes de Trabalho da Justiça Trabalhista e o Ministério Público do Trabalho. Adriana relatou que, em muitos casos a pressão leva os trabalhadores a carregar a culpa por não conseguir atingir os resultados propostos pelos empregadores. Acrescentou que a categoria sofre nos bancos com o desrespeito, a intimidação, o assédio sexual, a pressão para reconhecimento de débitos não causados pelo bancário e a discriminação.
Adriana lembrou que o movimento sindical bancário e a categoria têm lutado e conquistado diversas cláusulas na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), que buscam reduzir o assédio, através da prevenção e de um ambiente saudável. Entretanto, frisou que apesar de todos os esforços em busca de instrumentos que diminuam o impacto da forte pressão quanto ao tempo, aumento do controle, prolongamento de jornada, aumento da competitividade, é necessário maior empenho dos bancos no sentido de considerar as diferentes realidades no cumprimento de metas”.
Pressão por metas
Pesquisa realizada pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, revelou que dos 4.848 bancários que passaram na homologação da entidade associam o estresse à profissão e que o trabalho é fonte de apreensão constante, de medo por exposição pública, de tensão permanente por medo de assalto e violência, um ambiente de baixa tolerância ao erro, de acúmulo de tarefas e de fácil supervisão e comparação entre colegas.
Além disso, o levantamento demonstrou que o cumprimento das metas é o responsável pela pressão excessiva; 72% dos caixas e 63% dos gerentes declararam sofrer pressões abusivas para superar as metas, e 42% dos bancários afirmaram ter sobrecarga de trabalho.
“Todo este ambiente de pressão extrema levou a uma inversão nos tipos de adoecimento verificado nos bancos. As doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (lesões por esforço repetitivo, LER) foram a maior causa de afastamento dos bancários nos anos de 2009, 2010, 2011 e 2012, correspondendo a mais de 25% dos benefícios nestes anos. Entretanto, em 2013, houve uma inversão entre a primeira e a segunda maior causa com transtornos mentais e comportamentais tornando-se a maior causa de afastamentos na categoria. Os dois motivos corresponderam juntos a mais da metade das causas de afastamento no setor bancário: 49,3% em 2009, 49,5% em 2010, 48,9% em 2011, 51,2% em 2012 e 51,6% em 2013.
Adriana citou, ainda, outro dado que confirma o aumento da pressão do assédio nos bancos. Os casos de afastamento por patologias relacionadas a causas mentais comparados com outros setores da economia, segundo informações da Previdência Social, mostra a gravidade da situação: do total de afastamentos em todos os setores por doenças com causas mentais e comportamentais nos anos de 2012 a 2017, somente os bancos são responsáveis por 15% desse total. Ou seja, 9.923 bancários afastados, de um total de 64.794 trabalhadores. A proporção aumenta para 16% se considerarmos os afastamentos por depressão: são 3.641 bancários afastados por essa causa, num montante total de 22.847 trabalhadores.

 

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