Segunda, 19 Novembro 2018 15:19

Consciência Negra: os desafios contra o retrocesso

Almir Aguiar  Diretor da Secretaria de  Combate ao Racismo da  Contraf-CUT Almir Aguiar Diretor da Secretaria de Combate ao Racismo da Contraf-CUT

O Dia Nacional da Consciência Negra este ano tem uma importância singular. Nunca foi fácil para a comunidade negra lutar por seus direitos e emancipação e por uma sociedade justa, sem qualquer forma de discriminação. Desde Zumbi dos Palmares, um dos pioneiros da resistência contra a escravidão, passando por João Cândido, que liderou a revolta contra o uso da chibata como forma de castigo, na Marinha, o movimento negro ainda hoje enfrenta uma sociedade profundamente racista e desigual. Ao longo dessa jornada conquistamos avanços importantes como as políticas afirmativas que reparam uma dívida social histórica do processo civilizatório brasileiro através das cotas e de programas que estimulam a ascensão social e ampliam as oportunidades. Mas há um outro projeto que quer colocar tudo a perder.


O atraso não vai triunfar


Este ano, o mês da Consciência Negra, nos coloca diante de um grande desafio: enfrentar o maior retrocesso desde o início do século XX. Um discurso e o projeto que foram legitimados pelo voto da maioria dos brasileiros, desmitifica de vez a ideia de “democracia racial” e explicita o que, há muito tempo, nós já sabíamos: parcela da sociedade brasileira é extremante conservadora e preconceituosa. Agora, saiu do armário.
É também inaceitável discursos como o de que nós brasileiros, herdamos “a indolência (preguiça) do índio” e a “malandragem“ do negro e patética a declaração que se referiu a comunidade quilombola com a insinuação de que a medida de peso para os negros é a “arrouba”. Não são frases soltas, assim como o ataque às cotas raciais que tenta impor um retrocesso sem precedentes no Brasil moderno. Não vamos permitir. O atraso não vai triunfar.


Números da desigualdade


Os negros representam 64% da população carcerária e apenas 12,8% dos estudantes de nível superior. Nos últimos dez anos, os assassinatos de mulheres brancas caíram 8%, enquanto entre as negras aumentaram 15,4%. Com a política de recrudescimento da ação policial, proposta pelos vencedores das eleições deste ano, o banho de sangue certamente atingirá ainda mais e em cheio, os pobres, em sua maioria negros. Se hoje, em cada dez pessoas assassinadas no Brasil, sete são negras, que dirá com a concretização da política de extermínio.


Só depende de nós


Nosso desafio é reorganizar e fortalecer a resistência ao aprofundamento da opressão e da espoliação no Brasil. Enfrentar o ranço de uma elite mesquinha, egoísta, ranzinza e racista. Não basta derrotar o retrocesso vigente. É preciso retomar o sonho de uma nação justa, com oportunidades para todos, sem qualquer forma de preconceito e discriminação. E já provamos que isto é perfeitamente possível. Só depende de nós.

Almir Aguiar
Diretor da Secretaria de Combate ao Racismo da Contraf-CUT

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