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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Juvandia Moreira (E) e José Ferreira (segundo à direita) na mesa de abertura do evento da UNI Américas Finanças, no auditório do Sindicato do Rio de Janeiro
Foto: Marianna Teodoro
Carlos Vasconcellos
Imprensa SeebRio
Foi realizado nesta quinta-feira (6), no Rio de Janeiro, o primeiro dia da “Jornada sindical internacional: Inteligência Artificial (IA) no sistema financeiro”. O evento, que continuará nesta sexta-feira (7), é promovido pela UNI Américas Finanças, o braço regional do sindicato global que representa trabalhadores do setor financeiro no continente, e pela SASK (sigla para o Centro de Solidariedade Sindical da Finlândia), com o apoio da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro (Seeb-RJ).
"É uma satisfação o nosso Sindicato sediar o Seminário Internacional Latino-americano sobre os impactos da Inteligência Artificial no mundo do trabalho, em especial, em relação à categoria bancária, além de debatermos a interferência do uso dessas novas tecnologias nas democracias do Brasil e da América Latina", afirmou o presidente do Sindicato anfitrião, José Ferreira.
Temas debatidos
O evento foi dividido em mesas temáticas que debateram os impactos da IA no emprego e no sistema financeiro mundial; experiências do uso das novas tecnologias nos processos de negociação coletiva; e os desafios nas mesas de negociação, diante da revolução tecnológica.
Mesa de abertura
Pela manhã, José Ferreira, participou da mesa de abertura e apresentou um panorama sobre a conjuntura política e histórica do estado, destacando a importância da entidade sindical carioca. "Aqui foi berço das diretas, aqui nasceu a Ação da Cidadania, a campanha contra fome e a miséria, organizada pelo sociólogo Betinho. Aqui também foi berço da CUT no Rio de Janeiro, um dos primeiros sindicatos. O Sindicato é uma organização política e hoje nós fazemos história recebendo o Seminário”, explicou, falando da importância histórica da entidade sindical carioca.
No período da tarde, o seminário seguiu com reflexões sobre o Sistema Financeiro Mundial. Millena Alves, economista do Dieese na subseção da Federa-RJ, apresentou a perspectiva da IA no emprego. Para encerrar o dia, Carlos Eduardo Bezerra, da Contraf-CUT, frz a mediação das conclusões da Conferência sobre IA.
Participação dos trabalhadores
Durante sua participação no encontro, a presidenta da Contraf-CUT e vice-presidenta nacional da CUT, Juvandia Moreira, em matéria do site da entidade, declarou que as grandes corporações capitalistas dominam o uso da IA no mundo.
"Essa neutralidade não existe porque, no capitalismo, a IA é comandada e controlada por grandes corporações que têm como principal objetivo maximizar seus lucros, concentrando ainda mais a renda nas mãos de poucos, em detrimento da maioria", afirmou.
Juvandia lembra que apenas "um pequeno grupo de empresas, as chamadas “big techs”, controlam as tecnologias mais utilizadas por pessoas, empresas e governos. “Essa concentração permite que essas big techs tenham forte influência no mundo, a ponto de ameaçar a soberania digital e a autonomia da classe trabalhadora, portanto a própria democracia”, acrescentou.
Necessidade de regulação
Juvandia defendeu que o movimento sindical e toda a classe trabalhadora esteja na vanguarda dos debates sobre o uso das novas tecnologias.
“As centrais sindicais estão defendendo, junto ao governo, ao Senado e à Câmara dos Deputados, a regulação do uso da Inteligência Artificial. Para isso, estamos acompanhando de perto o Projeto de Lei nº 2.338/2023, relacionado aos fundamentos e desenvolvimento da IA no país e que tramita no Congresso Nacional”, completou a vice-presidenta da CUT.
Os participantes também levaram contribuições sobre o tema para o “Conselhão”, apelido dado ao Conselho do Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), criado pelo presidente Lula e que reúne representantes de diversos setores da sociedade no debate de políticas públicas.
A vice-presidenta da CUT defendeu no Conselhão, para o PL 2338/2023, "a garantia de negociação coletiva em casos de uso de IA nos processos produtivos, quando impactarem na gestão dos trabalhadores; a garantia da participação social no processo regulatório da IA, por meio das centrais sindicais; o fortalecimento das redes de proteção social diante das perdas ocupacionais promovidas pelas mudanças tecnológicas e garantia de que os ganhos de produtividade gerados pela IA sejam redistribuídos à sociedade, por exemplo, com a redução da jornada de trabalho”.
Negociações coletivas
Os representantes da categoria defenderam ainda o estímulo aos programas de requalificação profissional.
As mulheres são as mais afetadas pela extinção de empregos tradicionais. “Isso acontece porque as áreas tecnológicas, especialmente o setor de TI, ainda são predominantemente representadas por homens”, explicou Juvandia.
Dados do Dieese
Segundo dados do relatório "Boas práticas em negociação coletiva: inovações tecnológicas", elaborado pelo Dieese em parceria com o Ministério do Trabalho e Emprego, o tema apareceu em 5% das negociações registradas em 2023, sendo que a maioria das cláusulas relacionadas à inovação e que foram conquistadas pelas categoriais naquele ano previam "qualificação profissional, manutenção do emprego, diálogo com os sindicatos e realocação de trabalhadores em outras funções".
A categoria bancária conquistou, em 2024, na Convenção Coletiva de Trabalho, o comprometimento dos bancos em apoiar a formação de mulheres na área de tecnologia, resultando na concessão de cerca de 3.100 bolsas de estudos para as bancárias.
Enfrentar as desigualdades
Juvandia concluiu sua apresentação reforçando a necessidade de colocar o ser humano no centro dos debates sobre a tecnologia. "Com isso, vamos conseguir avançar nos debates sobre a distribuição dos ganhos de produtividade, para evitar a escalada de concentração de riquezas; vamos garantir a valorização das negociações coletivas, de forma a proteger os direitos já conquistados e avançar em novos direitos, como a qualificação e requalificação; e enfrentar as desigualdades e as ameaças à democracia", completou.