Quarta, 07 Mai 2025 19:55
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BC: Galípolo mantém política de Campos Neto e eleva juros para 14,75%

Decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a Selic em 0,5%, a mais alta desde agosto de 2006, torna ainda mais caros os empréstimos bancários e crédito para a população e as empresas e pode comprometer a recuperação econômica do país
O Comitê Monetário Nacional, do Banco Central, presidido por Gabriel Galípolo, voltou a elevar as taxas de juros. O movimento sindical criticou duramente a decisão O Comitê Monetário Nacional, do Banco Central, presidido por Gabriel Galípolo, voltou a elevar as taxas de juros. O movimento sindical criticou duramente a decisão Foto: Edils Rodrigues/Agência Senado

 

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

 

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou em 0,5% a Selic, a taxa básica de juros, de 14,25% para 14,75%. A decisão, que foi por unanimidade, prejudica duramente os trabalhadores, pois fica ainda mais caro os créditos nos empréstimos bancários, dívidas nos cartões e pode elevar também os financiamentos para compra de eletrodomésticos, automóveis e da casa própria. Perdem também as empresas, que deixam de fazer novos investimentos e a economia do Brasil, que pode ter seu crescimento comprometido pela continuidade dos maiores juros do mundo. Esta a sexta alta consecutiva e o país passa o maior patamar de juros em 20 anos.

O presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro José Ferreira, criticou o novo aperto monetário.

As razões da elevação das taxas de juros estão baseadas numa tese em que ao final são os mais pobres que pagam a conta. Sob a alegação de que inflação diminui a renda real do trabalhador o Copon aplica um remédio que também corrói a renda através dos altíssimos juros cobrados nos diversos financiamentos utilizados como forma de adquirir bens ou até mesmo alimentos”, avalia o dirigente sindical.


Justificativas do BC

Os membros do Copom justificaram a nova a alta do juros, alegando uma “pressão geopolítica”, com destaque para a economia norte-americana e, no cenário interno, a pressão inflacionária, que, segundo relatórios recentes do próprio BC, se devem às altas dos alimentos e energia.

"Mas, para enfrentar esse tipo de inflação (alimentos e preços) precisamos entender que esses aumentos não estão ligados à demanda, ou seja, à maior procura das pessoas por alimentos", rebate o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Gustavo Cavarzan, em matéria publicada pelo site da Contraf-CUT.

A inflação vai baixar?

A avaliação de especialistas é de que não há a expectativa de que a inflação baixe a curto prazo. Um trabalho dos pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), Braulio Borges, André Braz e Francisco Pessoa Faria, aponta que o atual aumento expressivo nos alimentos, enfrentado não apenas no Brasil, está ligado ao mercado agrícola e às mudanças climáticas. A questão ambiental também está por trás da alta nos preços da energia, segundo informações da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

"A Selic é eficiente para controlar inflação relacionada ao aumento da demanda, ou seja, aumento do consumo. Para a questão dos alimentos enfrentada hoje, o mais assertivo seria a recomposição dos estoques reguladores de alimentos, como o governo federal tem procurado fazer. Já em relação à energia, a saída mais adequada está no combate ao desmatamento e políticas de transição energética", completou Cavarzan.

Sexta elevação seguida

 

Esta é a sexta alta da Selic consecutiva iniciada pelo Banco Central em setembro do ano passado, quando o índice passou de 10,5% para 10,75%. Nas reuniões seguintes, houve um aumento de 0,5 ponto e três seguidos de 1 ponto percentual, até chegar em 14,25%, em março deste ano.

Cada alta de um ponto percentual da taxa básica de juros custa ao Brasil R$38 bilhões, em pagamento da dívida pública aos bancos. Na prática, se a taxa estiver cinco pontos percentuais acima do aceitável, o custo da dívida aumenta R$ 190 bilhões. Os 0,5 a mais da Selica custam ao país, portanto, cerca de R$19 bilhões pagos pelos contribuintes. Quase metade de tudo o que o Brasil produz e trabalha é para pagar os juros aos bancos.

"Você fica fazendo economia de R$ 1 bilhão, de meio bilhão, e acaba gastando quase R$ 200 bilhões a mais, em razão de ter uma taxa Selic nessa altura", disse o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, em entrevista à imprensa no ano passado, sinalizando que os esforços do governo para equilibrar as contas públicas com cortes nos gastos são engolidos pelos maiores juros do mundo praticados no Brasil. .

E daqui para frente?

A avaliação do mercado é de que ainda não há definições se a Selic será mantida ou se haverá o início da queda nos próximos encontros, que ocorrem a cada 45 dias. No texto sobre a decisão de hoje, o Copom disse que “segue com cautela e não indicou se irá alterar ou não o ciclo”, contrariando a expectativa do mercado e a urgente necessidade da sociedade por juros menores.

"O brasileiro já convive com uma taxa básica de juros proibitiva para o desenvolvimento econômico e que aumenta o custo de vida, o endividamento das famílias, das empresas e os gastos do governo federal. Gabriel Galípolo, atual presidente do BC, e os demais membros do Copom não foram indicados p
ara manter os interesses do mercado financeiro, mas sim ps interesses da população. Por isso, nós exigimos que o Banco Central cumpra o papel de fazer uma política econômica para a população e não para o mercado financeiro, o único que se beneficia com a especulação da Selic", critica a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Juvandia Moreira.

Pressão sobre os pobres

A grande imprensa mantém sua política editorial de cobrar mais cortes do governo como “saída para conter a inflação e os juros”.

Em entrevista a Globonews, a economista-chefe do banco Inter, Rafaela Vitória, defendeu “a redução no gastos do governo”. Isto significa que o mercado – leia-se cartel dos bancos e especuladores – querem mais cortes nos gastos do governo, conta sempre paga pelos trabalhadores, pois representam menos investimentos em saúde, educação, saneamento básico, habitação e outras áreas sociais.

A fórmula neoliberal inclui ainda como solução, uma nova reforma da Previdência, elevando ainda mais a idade mínima e dificultando a aposentadoria da maioria da população brasileira, possibilidade já rechaçada pelo presidente Lula.

Em outras palavras, as classes dominantes querem tirar mais direitos e dinheiro do pobre para alimentar os juros estratosféricos – os maiores do mundo - que elevam os lucros do sistema financeiro, os maiores do Planeta.

O ministro da Fazenda Fernando Haddad confirma que não é necessário mais aperto nos investimentos sociais para controlar a inflação.

Não acredito que precise de uma recessão para baixar a inflação no Brasil. Eu acho que consegue administrar a economia de maneira a crescer de forma sustentável sem que a inflação saia do controle”, disse Haddad.

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