Segunda, 30 Dezembro 2024 18:30
FELIZ ANO NOVO

Economia, emprego e renda crescem: o que explica o mau humor do mercado?

Mercado parece querer faturar uns bilhões a mais à custa de mais cortes em saúde, educação e investimentos sociais, elevação dos juros e reedição de políticas econômicas recessivas
VAI ENTENDER - O mercado especulativo não se contentar com a retomada do crescimento econômico, geração de empregos e renda e parece reagir positivamente somente com o aumento de juros e políticas econômicas recessivas VAI ENTENDER - O mercado especulativo não se contentar com a retomada do crescimento econômico, geração de empregos e renda e parece reagir positivamente somente com o aumento de juros e políticas econômicas recessivas Foto: Divulgação

 

Carlos Vasconcellos 

Imprensa SeebRio 

Se o mercado financeiro apresenta um cenário pessimisra, cobrando mais cortes do governo Lula - o pacote anunciado pelo Ministro Fernando Haddad de contenção prevista inicialmente de R$70 bilhões foi considerado pouco na avaliação dos bancos e grandes empresários - e o Banco Central eleva ainda mais os juros, alegando riscos de alta da inflação, o Brasil fecha 2024 com números oficiais positivos e alentadores  

Na avaliação de alguns economistas mais progressistas, ao contrário do que alardea o mercado e a grande mídia, a inflação segue controlada e a redução dos juros nos EUA pode trazer mais investimentos para o nosso país.

PIB cresce 

No terceiro trimestre de 2024, o PIB cresceu 0,9% comparado ao segundo trimestre de 2024, na série com ajuste sazonal. O melhor resultado foi do setor de Serviços, que cresceu 0,9%, seguido pela Indústria, que avançou 0,6%.3. A expectativa é de que a economia feche o ano com um crescimento de 3,5%, acima das previsões do mercado e do próprio Banco Central. 

Emprego recorde 

Um sinal claro da recuperação econômica é a queda do desemprego no quarto trimestre deste ano, que caiu para 6,1%, a menor taxa da série histórica iniciada em 2012. O dado é da Pesquisa Pnad Contínua, divulgada IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas). 

O número de pessoas em busca de um espaço no mercado de trabalho formal ainda é alto: há 6,8 milhões de pessoas em busca de emprego no país, mas este é o menor contingente desde o trimestre encerrado em dezembro de 2014, ano em que o Brasil entrou numa profunda recessão. 

Cerca de 510 mil pessoas deixaram formalmente o desemprego no trimestre.

O total de pessoas ocupadas no país chegou a 103,9 milhões de trabalhadores, um novo recorde. 

A geração de empregos e recuperação do poder de compra das famílias é uma das principais promessas de campanha feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição de 2022. Em direção contrária, o trimestre encerrado em agosto de 2020, a população ocupada registrou o menor contingente na série histórica, cerca de 82 milhões de pessoas, ainda sob o governo Jair Bolsonaro (PL). 

De lá para cá, segundo a pesquisa, houve alta de quase 26%.

Comércio e indústria 

Dados sobre as vendas no Natal também revelam um reaquecimento na economia. Os shopping centers estimam vendas em torno de R$ 200 bilhões em 2024, número 6% maior que o registrado em 2023. O ano passado já havia sido 4% maior que em 2022, último dos quatro anos da economia brasileira comandada pelo então ministro da Economia Paulo Guedes.

A indústria de transformação deve apresentar um crescimento de 3,5% em 2024, a maior alta em três anos,

Novo salário mínimo 

O governo espera ainda que, com o aumento do salário mínimo dos atuais R$ 1.412 para R$ 1.518 em 2025, a economia continue aquecida no novo ano. 

O aumento será de R$ 106, o equivalente a 7,5%. Haverá aumento real, acima da inflação. 

Durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, em 2020, 2021 e 2022, o salário mínimo foi corrigido somente pela inflação, sem aumento real. No último ano de governo (2022), Bolsonaro incluiu na previsão orçamentária para 2023, um pequeno aumento acima da inflação. A medida recebeu críticas não pelo reajuste em si, mas pelo fato de a política econômica recessiva de Paulo Guedes só ter concedido aumento real do mínimo em ano eleitoral e para o governo seguinte pagar a conta. 

O reajuste do mínimo no governo Lula seria maior, se não fossem as novas regras do pacote fiscal de Haddad: a correção do salário mínimo para 2025 vai considerar a inflação do INPC calculada em 12 meses até novembro (4,84%) e o crescimento do PIB de dois anos atrás (3,2%). Mas, para limitar o crescimento das despesas, com o corte de gastos, passa a valer um teto de 2,5%, em vez dos 3,2% que seriam usados pela regra anterior.

Renda média cresceu 

A renda média dos brasileiros também cresceu. No terceiro trimestre de 2024, a renda habitual média dos trabalhadores brasileiros cresceu 3,7%. 

O mau humor do mercado 

O que talvez explique o "mau humor" do mercado com o governo é a queda nos ganhos bilionários nos investimentos da Bolsa de Valores. O último pregão de 2024 é o que irrita a Faria Lima. O Ibovespa se prepara para fechar o ano com expectativa de queda acumulada de mais de 10%, e está muito próximo da mínima registrada ao longo dos últimos doze meses. A pontuação do índice está em 120 mil pontos, ante os 119 mil vistos pela última vez em junho. 

Se a economia cresce, o comércio vende mais, setores industriais também apresentaram números positivos e o setor produtivo tem gerado mais empregos e renda, o Brasil vai bem ou ao menos está no caminho. Mas não para o setor especulativo, que parece não se contentar com os bilhões que fatura na ciranda financeira, sem gerar emprego e renda para os trabalhadores e ainda sem serem devidamente tributados em lucros e dividendos, ao contrário do que acontece nas nações capitalistas mais desenvolvidas. 

Se a alegria das famílias com uma nova porta de emprego aberta e mais renda para viver e consumir não influencia positivamente o "humor" dos bancos e especuladores, mas apenas elevação dos juros e políticas econômicas recessivas, o que fazer? 

Agora é esperar 2025 e esperar para ver quem tem razao: o otimismo do governo ou o pessimismo do mercado. O trabalhador torce por um feliz ano novo, com mais empregos e renda. O sistema financeiro, pelo visto, não. E  reserva sua expectativa de felicidade e bom humor para 2026, ano de novas eleições presidenciais. O mercado tem lado. 

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