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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Carlos Vasconcellos
Imprensa SeebRio
Um levantamento feito pelo Instituto Quest com 105 gestores, economistas, analistas e tomadores de decisão do mercado financeiro em fundos de investimento com sede em São Paulo e no Rio de Janeiro explica a reação negativa do câmbio em relação ao pacote anunciado pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad. A pesquisa foi feita de 29 de novembro a 3 de dezembro.
Por trás dos números, está o mau humor de banqueiros e especuladores com o anúncio da ampliação da isenção do Imposto de Renda para trabalhadores que ganham até R$5 mil mensais feita junto com o pacote fiscal do governo. Apenas 15% responderam que a medida, que beneficiará cerca de 36 milhões de trabalhadores, é positiva. Já 85% dos entrevistados considera a mudança nas alíquotas, negativa. No fundo, o mercado quer ainda mais cortes no orçamento, mas que afetem apenas trabalhadores.
A margem de erro é de 3,4 pontos percentuais para mais ou para menos.
Lula e Haddad
A ampliação da isenção no IR foi uma decisão pessoal de Lula e a própria equipe econômica do governo não queria anunciar a medida junto com o pacote de corte de gastos. Não por acaso a avaliação negativa do sistema financeiro ao presidente Lula disparou, saltando de 48% em junho para 90% em setembro. O índice volta ao mesmo de março (90%), início do atual governo, o que mostra que a rejeição dos especuladores em relação ao presidente da República é in natura.
Já o ministro Haddad, em setembro, teve 41% de avaliação positiva e 24% negativa na opinião dos investidores da ciranda financeira. Em março, o índice positivo era de 50%.
Estado mínimo para os pobres
Os números confiram a suspeita de que o setor financeiro defende o estado mínimo e cortes no orçamento direcionado ao sacrifício dos trabalhadores mais pobres: 92% dos entrevistados defendem a proposta do governo de limitar o abono salarial em um salário e apenas 8% são contra a restrição.
O bom desempenho da economia brasileira no terceiro trimestre deste ano (0,9%), índice superior ao da China, EUA e da maioria dos demais países do G20, as maiores economias do Planeta, não mudaram o mau humor e o pessimismo dos especuladores com os rumos da política econômica do governo: 96% dos entrevistados consideram que a política econômica do país está na direção errada, enquanto apenas 4% acreditam que está na direção certa.
O mau humor do sistema financeiro não para por aí. Para 2025, cerca de 88% dos agentes acreditam que a economia brasileira vai piorar, 10% que permanecerá a mesma e 2% que vai melhorar.
“Na verdade, o mercado financeiro pressiona para que o governo faça ainda mais cortes nos investimentos sociais. Querem sacrificar apenas os trabalhadores. Eles defendem o estado mínimo para o povo, mas querem manter isenções para grandes empresas e o agronegócio, ou seja, o estado máximo para eles. E ainda são contra a tributação dos super-ricos”, criticou o diretor do Sindicato dos Bancários do Rio e secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT, Almir Aguiar.
Mercado defende alta de juros
Já em relação aos juros, um dos maiores do mundo, o sistema financeiro continuar defendendo uma alta ainda maior, via Banco Central cuja maior parte do Copom, que define a político cambial e de juros, é de agentes do mercado financeiro. Segundo a pesquisa do Quest, mais da metade dos agentes (66%) preveem um aumento de 0,75 pontos percentuais, 17% acreditam que subirá um ponto percentual e 15% projetam um aumento de 0,5 pontos percentuais. “Já na política de juros, o mercado quer elevar ainda a Selic (taxa básica), o que representa mais dinheiro no bolso dos bancos, mesmo que isso continue a promover um sacrifício para o setor produtivo e para os trabalhadores”, acrescentou Almir.
O Brasil pagou de juros em 2023 R$ 649 bilhões, valor quatro vezes maior que o orçamento do Bolsa Família.