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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Carlos Vasconcellos
Imprensa SeebRio
O republicano Donald Trump é o próximo presidente dos EUA, conquistando 277 delegados (o mínimo para consolidar a vitória seria 270) contra 224 de sua oponente, a democrata Kamala Harris, números parciais, mas que já definem o vencedor. A vitória foi mais folgada do que indicavam as pesquisas de opinião e Trump pela primeira vez, venceu também no voto popular: 71.260.693 votos (51%) contra 66.333.183 votos (47.5%). Foi um arrastão. Além de levar a Presidêmncia o Partido Republicano conseguiu maioria na Câmara e no Senado, o que garante poderes quase absolutos ao ao trumpismo.
Na estranha democracia americana o povo não vota diretamente para Presidente da República, mas através de um colégio eleitoral de delegados escolhidos. A apuração é de responsabilidade de cada estado, o que pode fazer com que a contagem final possa demorar semanas.
O resultado acende um sinal de alerta para a esquerda brasileira. É que a principal explicação para a derrota da candidata democrata foi a percepção da população em relação ao desempenho da economia, mesmo com sinais macros de melhoras. Ou seja, no caso brasileiro também não basta o bom desempenho da macroeconomia, como a elevação do PIB (Produto Interno Bruto) e dos investimentos externos no Brasil conquistados, mas as famílias precisam consumir mais, com aumento na geração de empregos e do poder de compra dos trabalhadores.
Imigração e guerra
No caso americano pesou também a preocupação da população com o crescimento da imigração ilegal no país e os gastos bilionários dos EUA em armas para a Ucrânia na guerra contra a Rússia. Trump prometeu acabar com a guerra através do diálogo com o presidente russo, Vladimir Putin e sinalizou que não enviará mais armas para o governo de Volodymyr Zelensky.
Cresce nos EUA, a rejeição popular em relação aos gastos militares no conflito enquanto a economia ainda apresenta problemas. Já na ajuda a Israel nada deve mudar porque o apoio americano aos israelenses é uma política de estado e não de governo. E como o governo israelense é também de extrema-direita, o apoio militar poderá ser ainda maior.
Economia é decisiva
É bem verdade que Kamala não é Lula. O presidente brasileiro possui um carisma e uma liderança popular sem comparação com os políticos do Partido Democrata. Porém, o governo Lula tem até 2025 para alavancar a economia a ponto de os trabalhadores perceberem a melhora, o que será decisivo para sua possível reeleição em 2026 ante uma polarização que ainda divide o país. Inflação, juros e um Congresso Nacional adverso são os grandes desafios da esquerda brasileira.
Próximos dois anos
O resultado na maior economia do mundo deve endurecer ainda mais o embate dos EUA contra a China e os Brics e aumentar o protecionismo da economia norte-americana.
O desafio do ministro da Fazenda Fernando Haddad é garantir, mesmo sob o bombardeio dos mercados em relação aos gastos públicos, o poder de consumo dos brasileiros tendo como vilões os juros altos e a inflação. "O mundo amanheceu mais tenso", comentou Haddad, que avalia, no entanto, que o presidente eleito demonstrou um discurso mais comedido após sua vitória.
A economia brasileira dá sinais de melhora, mas a população ainda não tem, suficientemente, essa percepção e reclama do aumento dos preços nos supermercados. Sinal de alerta.
Fato é que a vitória de Trump pode aumentar os desafios políticos e econômicos para Lula conquistar, pela segunda vez, a sua reeleição. Os próximos dois anos serão decisivos para o destino do Brasil. E uma volta da extrema-direita por aqui representaria um retrocesso social e um risco para a democracia.