Sexta, 11 Outubro 2024 23:33
POR TRÁS DAS CORTINAS

Cantor Leonardo é obrigado a pagar indenizações por trabalho análogo à escravo em sua fazenda

Artista sertanejo, que apoia Bolsonaro com discurso contra a corrupção, faz acordo que inclui ainda multa e diz que "não sabia" da situação de seus empregados
Os cantores sertanejos Leonardo e Gustavo Lima, aficionados apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) e do discurso contra a corrupção, estão sendo investigados pela Justiça: um na área trabalhista e o outro, por lavagem de dinheiro Os cantores sertanejos Leonardo e Gustavo Lima, aficionados apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) e do discurso contra a corrupção, estão sendo investigados pela Justiça: um na área trabalhista e o outro, por lavagem de dinheiro Foto: Reprodução

 

Carlos Vasconcellos 

Imprensa SeebRio 

O cantor e compositor Lobão, um bolsonarista que se diz arrependido de sua decisão política, em certa entrevista nas redes sociais, acusou setores do agronegócio de lavar dinheiro patrocinando astros da música sertaneja. 

Como o roqueiro fala mal de quase todo o mundo artístico e muita gente não o leva a sério, o assunto foi esquecido, apesar de nenhum representante do Agro ter processado o polêmico artista pela denúncia. 

Agora um outro artista, sertanejo, se vê envolvido em um escândalo só que com fatos reais e com comprovação da fiscalização do Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE): trabalho análogo a escravo em uma de suas fazendas. É o cantor Leonardo, um dos mais aficionados bolsonaristas do universo pop brasileiro. 

Incluído na Lista Suja

Leonardo teve que pagar esta semana indenizações no valor total de R$ 225 mil aos seis trabalhadores resgatados em condições análogas à escravidão em sua fazenda, localizada em Jussara, Goiás, após o flagrante dos fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego. 

O artista foi incluído na “lista suja” do trabalho escravo pelo MTE. O objetivo da lista é expor empregadores envolvidos em práticas de exploração de trabalhadores.

O acordo, negociado pela Defensoria Pública da União (DPU), o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a defesa do cantor, também incluiu o pagamento de uma multa de R$94 mil. 

Situação dos trabalhadores 

O relatório divulgado pelo MTE detalha que os empregados da Fazenda de Leonardo tinham jornadas de até 10 horas diárias sem nenhum registro formal e nem garantia de descanso semanal. 

Exploração de menor 

Entre os trabalhadores resgatados, havia inclusive um menor, adolescente de 17 anos. 

Os funcionários eram responsáveis pela limpeza de áreas agrícolas, retirando galhos, raízes e restos de árvores do solo.

Moradia precária

Segundo os fiscais do MTE, as condições de moradia eram extremamente precárias. Os trabalhadores dormiam em uma casa abandonada a 2 km da sede da Fazenda Lakanka e não tinham acesso a banheiros ou instalações adequadas. 

"A casa tinha condições insalubres, abrigava morcegos e fezes de animais, e o único chuveiro disponível era improvisado com uma mangueira", descreve o relatório de fiscalização, que afirma ainda que "as necessidades fisiológicas eram feitas ao ar livre e a água que bebiam vinha de um poço muito sujo e mal conservado". 

Cantor não convence

Leonardo foi às redes sociais tentar explicar aos fãs o fato ocorrido em uma de suas fazendas e deu uma justificativa muito pouco convincente: a de que "não sabia da situação análoga à escravidão de seus funcionários". 

O caso Gustavo Lima 

Um outro artista sertanejo, também bolsonarista, Nivaldo Batista, o Gustavo Lima, de acordo com investigadores da Polícia Civil de Pernambuco, estaria envolvido em lavagem de dinheiro em um esquema de desvios de verba e jogos de azar que movimentaram pelo menos R$ 3,8 bilhões.

Na última sexta-feira (11), o Ministério Público de Pernambuco emitiu parecer que contraria o relatório da polícia civil e aponta que "o cantor Gusttavo Lima não teria cometido lavagem de dinheiro". 

De acordo com investigadores da Polícia Civil pernambucana, um esquema de desvios de verba e jogos de azar teria movimentado pelo menos R$ 3,8 bilhões. 

Além da polêmica decisão, o MP-PE decidiu transferir o processo envolvendo o músico da Justiça de Pernambuco para Campina Grande/PB, cidade em que está sediada a empresa VaideBet, que estaria envolvida no escândalo. 

Os policiais civis continuam apurando as supostas irregularidades na relação entre o cantor e a empresa do ramo de apostas esportivas e jogos online.

Contra a corrupção 

Dos embróglios para a política, fato é que os dois artistas eram constantemente vistos em redes sociais com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em apoio ao candidato, inclusive nas eleições presidenciais de 2022, sempre com o feroz discurso bolsonarista "contra a corrupção" e agora se veem em apuros com a polícia e a Justiça sob graves acusações: um por exploração de trabalho análogo à escravo e o outro por esquema de lavagem de dinheiro no submundo de site de apostas esportivas. 

Com o devido direito à presunção de inocência, as estrelas da música sertaneja terão que continuar a dar explicações aos Tribunais. 

E diante dos dois fatos escabrosos, a denúncia de Lobão de que o Agro lava dinheiro financiando ídolos da música sertaneja, pode muito bem passar a não ser vista mais como uma declaração fanfarrã do roqueiro, mas ser levada a sério e porque não, motivo para novas investigações. Até porque, diante de uma denúncia tão grave, não se tem ciência de que, nem os latifundiários e nem os cantores sertanejos processaram Lobão pela pavorosa declaração. 

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