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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Carlos Vasconcellos
Imprensa SeebRio
Morreu nesta quinta-feira, 3 de outubro, o ex-prefeito do Rio e ex-senador, Roberto Saturnino Braga, aos 93 anos.
Ele estava internado no CTI Hospital Pró-Cardíaco, na Zona Sul do Rio. Deu entrada na unidade hospitalar na última sexta-feira, dia 27, com um quadro de pneumonia.
O velório será no Palácio da Cidade, em Botafogo, com data ainda não divulgada.
Carioca nascido em 13 de setembro de 1931, graduou-se em Engenharia pela Universidade do Brasil (atual UFRJ) em 1954. Herdeiro de uma tradição política no estado - o pai, Francisco Saturnino Braga, foi deputado federal por três mandatos - entrou para a política em 1963, como deputado federal pelo Estado do Rio de Janeiro, numa coligação formada pelo PSB, MTR e PST. Com a ditadura e a criação do bipartidarismo, ingressou no MDB e foi senador pelo Rio de 1975 a 1985. Filiou-se ao PDT, rompendo anos depois, por divergências internas, indo para o PSB.
Injustiça histórica
Injustamente marcado como o prefeito “que teria falido o Município do Rio de Janeiro”, na verdade, Saturnino pegou uma cidade falida e enfrentou uma das maiores enchentes da cidade.
Primeiro prefeito eleito do Rio após a redemocratização do país, com apoio de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro, com quase 40% dos votos válidos e mandato de três anos, Saturnino anunciou a falência da cidade, em um pronunciamento na TV, em 15 de setembro de 1988. A tentativa de chamar a atenção para o problema de caixa, enfrentado por outros prefeitos de capitais, acabou surtindo efeito: a melhoria das receitas dos municípios foi aprovada na Constituição de 1988. Mas o novo sistema tributário, mais favorável às prefeituras, só entrou em vigor em janeiro de 1989, quando ele deixou o cargo. Sofreu também uma Câmara de Vereadores em grande parte fisiológica e corrupta que conspirou contra seu governo. Na época, o parlamento carioca era apelidado de “Gaiola das Loucas”, em referência as práticas corruptas da Casa.
“O Rio de Janeiro era uma cidade falida, e foi falida até o meu sucessor {Marcello Alencar, falecido em 2014}”, disse o ex-pedetista em entrevista ao programa da série Depoimentos Cariocas, do Arquivo Geral da Cidade, em agosto de 2021, um mês antes de completar 90 anos, tema que falava com amargura.
Sensibilidade social
Havia um outro fato que tornou-se um dilema para o então prefeito do Rio, segundo depoimento de seu secretário da Fazenda, Eduardo Chuay (PDT): Saturnino, com sua profunda sensibilidade social, tinha dificuldade em dizer não aos pedidos de ajuda feitos pelas comunidades mais pobres da cidade.
O senador notável e coerente, o prefeito com olhar para os mais pobres, em toda a sua vida pública digna e honesta, era um verdadeiro socialista democrático, não apenas nos discursos, mas também na prática cotidiana de vida, como cidadão e político. Vai fazer muita falta ao Rio, hoje mergulhado no caos da miséria e da violência, e também ao país na luta pela consolidação da democracia.