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Imprensa SeebRio
Para mostrar que está se esgotando a paciência com o cinismo dos bancos na mesa de negociação, a categoria bancária foi às ruas de todo o país, nesta quinta-feira (15/8), com protestos – paralisações e manifestações. Foi o Dia Nacional de Luta para exigir a apresentação de contrapropostas sérias aos itens da minuta de reivindicações apresentados há dois meses pelo Comando Nacional dos Bancários à Federação Nacional dos Bancos (Fenabana) para a renovação da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT). A próxima negociação está marcada para o dia 20.
No Rio de Janeiro o Sindicato promoveu manifestações na Avenida Rio Branco e ruas próximas, como Assembleia e Sete de Setembro. A presidenta da Federação Estadual dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Federa-RJ) e diretora do Sindicato, Adriana Nalesso, criticou os bancos que, passados dois meses, ainda não apresentaram proposta econômica.
“E os argumentos que utilizaram não justificam a não apresentação de propostas. Falam de redução da rentabilidade e aumento da concorrência (numa referência às fintechs e bancos digitais), mas, mesmo assim, continuaram a ter lucros exorbitantes, muito maiores que o das empresas de outros segmentos, que já fecharam acordos com os trabalhadores, 86% deles, com aumento real”, analisou a dirigente.
Mais pressão – Adriana acrescentou que a rentabilidade dos bancos brasileiros, de 15% em média, suplanta a dos demais países, dando como exemplo a de 6,5% do sistema financeiro dos Estados Unidos. “Não se justifica”, criticou. Avaliou ser preciso uma maior participação da categoria nas atividades da Campanha Nacional, de modo a aumentar a pressão sobre os bancos, para que as negociações avancem.
As manifestações no país acontecem em resposta à postura da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) na última rodada de negociações com o Comando Nacional dos Bancários. “Nossa expectativa é que tivessem apresentado uma proposta completa, diante de todas as informações que trouxemos nas mesas anteriores, defendidas com dados sobre a realidade do setor e a capacidade dos bancos, que é o setor com maior geração de lucros no país”, disse após o encontro a coordenadora do Comando e presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira.
No Rio de Janeiro – O diretor do Sindicato dos Bancários do Rio, Alexandre Batista, frisou que os bancos quase nada trouxeram de novidade na negociação, e, nada, no que tange aos itens salariais. “Chega a ser um escárnio a forma como a Fenaban tem agido. Os bancos estão há dois meses com as nossas pautas em mãos e ficam protelando, alegando que estão passando por uma concorrência dos bancos digitais, o que teria reduzido sua lucratividade. Como se anteriormente não tivessem também concorrência, e foram minando e incorporando os bancos estaduais, que fomentavam a economia local e eram muito mais saudáveis. Então não é uma justificativa que se possa levar à sério”, comentou.
O dirigente fez questão de lembrar que nada disso impediu que continuassem com lucros crescentes, ano passado, de mais de R$ 100 bilhões, o que não justifica nenhuma dificuldade em atender às reivindicações econômicas. “Diante disto a categoria fez paralisações parciais até as 11 horas, no centro financeiro do Rio de Janeiro, com bastante sucesso e adesão total. Tivemos muitos carros de som, faixas e cartazes, distribuição de materiais impressos e conversamos com bancários e bancárias, esclarecendo os principais pontos da campanha", explicou.
Lembrou que a campanha também é em defesa dos direitos dos clientes e da população por melhores condições de atendimento. “O assédio dos bancos por conta das metas tem adoecido toda a categoria. Com este adoecimento a gente tem desdobramentos como licenças médicas, além das demissões. Com isto há um número muito menor de bancários atendendo e com isso os bancos empurram os clientes para os canais digitais, mas continuando a cobrar altas tarifas”, disse.
Saiba mais – O Comando Nacional dos Bancários entregou a minuta de reivindicações, para a renovação da CCT, no dia 18 de junho. O documento foi elaborado com base na Consulta Nacional dos Bancários, realizada com quase 47 mil trabalhadores. A minuta também foi submetida à aprovação pela 26ª Conferência Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro e em assembleias realizadas em todo o país, com adesão de mais de 95% dos votantes.
Após a entrega da minuta, foi realizada uma série de encontros entre os representantes dos trabalhadores e dos bancos. "Em cada rodada, defendemos, ponto a ponto, as reivindicações da minuta, com base em dados sobre a realidade do mercado e a capacidade dos bancos. Dos 8.809 setores no país que fizeram negociações salariais, neste ano, 86% tiveram aumento real. Vários deles convivem com concorrência e tem lucros e rentabilidade muito inferiores aos dos bancos, a exemplo de comércio, agropecuária, serviços médicos hospitalares e energia elétrica", reforçou Juvandia Moreira.
Reivindicações da categoria por tema
Cláusulas econômicas
- Aumento salarial acima da inflação (reposição da inflação, pelo INPC acumulado entre setembro de 2023 e agosto de 2024, acrescido do aumento real de 5%).
- Melhorias na Participação nos Lucros e Resultados (PLR). Dieese alerta que os percentuais de distribuição da PLR dos bancos caíram ao longo dos últimos anos, mesmo após reajustes, introdução da parcela adicional e mudanças de parâmetros dos cálculos de distribuição. Além disso, a distribuição da participação nos lucros não vem acompanhando o crescimento dos lucros no setor, ficando, na maioria dos bancos, abaixo do teto de 15% previsto na CCT.
- Aumento nas demais verbas, incluindo VA/VR, auxílio babá e auxílio creche.
Cláusulas sociais
- Igualdade de oportunidades e igualdade salarial, entre gênero e raça.
- Mais mulheres no setor de Tecnologia da Informação (TI) dos bancos.
- Olhar especial para bancárias e bancários transexuais, dada a vulnerabilidade social desse grupo com menor expectativa de vida no país, por conta da violência e preconceito que também dificultam o acesso e permanência no mercado de trabalho.
- Combate ao assédio moral e sexual.
Saúde
- Direito às pessoas com deficiência (PCDs) e neurodivergentes, para que tenham garantia de ambiente de trabalho adaptado e condições de ascensão profissional.
- Direito à desconexão.
- Combate à gestão por metas abusivas e que impacta na saúde e nas condições de trabalho.
E ainda
- Garantia de emprego e dos direitos conquistados.
- Fim das terceirizações.
- Jornada de quatro dias.
- Ampliação do teletrabalho.
- Retorno da homologação nos sindicatos, para que as entidades possam acompanhar de perto todo o processo, e garantir direitos dos desligados.
- Qualificação e requalificação profissional, sobretudo diante da revolução tecnológica.
- Indenização adicional em caso de demissão.
- Garantias para mães e pais de PCDs, quando necessitarem acompanhar filhos nos atendimentos médicos e educacionais.
- Segurança nos ambientes físicos e digitais do sistema financeiro.
A seguir, link das matérias da Contraf-CUT sobre cada rodada
18 de junho - entrega da minuta de reivindicações
1ª rodada, 26 de junho - Cláusulas sociais – Emprego
2ª rodada, 2 de julho - Cláusulas sociais - Tetrabalho e jornada reduzida
3ª rodada, 11 de julho - Igualdade de oportunidade
4ª rodada, 18 de julho - Saúde - PCDs e neurodivergentes
5ª rodada, 25 de julho - Saúde - combate à gestão por metas excessivas
6ª rodada, 7 de agosto - Cláusulas econômicas - aumento real e valorização nas demais remunerações
7ª rodada, 13 de agosto - Primeiro retorno da Fenaban sobre as reivindicações