EXPEDIENTE DO SITE
Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Carlos Vasconcellos
Imprensa SeebRio
Com informações da Contraf-CUT
O Comando Nacional dos Bancários se reuniu nesta quinta-feira (25) com a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos), em São Paulo, para a mesa de negociação sobre Saúde e Condições de Trabalho, com foco numa das questões que mais preocupam a categoria: o adoecimento dos trabalhadores em função da pressão e do assédio moral para atingimento de metas. O combate à metas abusivas é considerado uma das prioridades para a renovação da Convenção Coletiva de Trabalho.
Os representantes dos bancários apresentaram dados que comprovam a relação direta do alto índice de adoecimento na categoria com a política de metas dos bancos.
Apesar de representar 0,8% do emprego formal no Brasil, em 2022, a categoria bancária respondeu por 3,7% dos afastamentos acidentários e 1,5% dos afastamentos previdenciários no período, considerando todas as categorias do país.
"Os dados mostram que o afastamento bancário é três vezes maior que a média geral. Nossa Consulta Nacional, com cerca de 47 mil respostas mostra que os bancários e bancárias estão fazendo relação direta entre metas exageradas e problemas de saúde. Estamos falando de preocupação com o trabalho, cansaço e fadiga constantes, dificuldade de dormir. Queremos ações concretas dos bancos contra isso", pontuou a coordenadora do Comando Nacional, Juvandia Moreira, que também é presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).
Números do Dieese
O Comando Nacional mostrou um levantamento do Dieese (DepartamentoIntersindicaldeEstatísticaeEstudosSocioeconômicos), com base em dados do INSS e da RAIS, mostrando que a categoria bancária foi responsável por 25% de todos afastamentos acidentários, relacionados à saúde mental no Brasil, em 2022.
Depoimento nas redes
Antes mesmo de começar a mesa, a Contraf-CUT abriu uma caixa de perguntas, no Instagram, pedindo depoimentos de bancários e bancárias de como suas vidas são afetadas pela gestão de metas dos bancos. Em menos de 14 horas, quase 100 pessoas desabafaram com depoimentos revelando situações como "dificuldade de dormir", "necessidades de tomar medicação para trabalhar ", "cobrança de metas cronometradas", bancários "acometidos por Síndrome de Burnout", "ansiedade", "vida social prejudicada", "cobranças via WhatsApp", entre outros relatos.
Reivindicações da categoria
A categoria reafirmou as reivindicações aprovadas na 24ª Conferência Nacional dos Bancários, que apresentam os seguintes eixos: Definição de metas e a política de gestão na aplicação das metas, para que não sejam conduzidas de forma abusiva e que a elaboração dos programas conte com a participação dos trabalhadores. Os trabalhadores registraram que os acontecimentos desse tipo de violência estão atrelados ao primeiro ponto, por conta da pressão de gestores para que as equipes alcancem as metas. O comando registrou também a importância de os bancos cumprirem a cláusula 61, conquista dos trabalhadores na CCT e que prevê o combate ao assédio moral, em que os trabalhadores querem melhorar o texto da cláusula 61 da ConvençãoColetivadeTrabalho, para que que haja a participação dos sindicatos na apuração dos casos e a criação de canais específicos que recebam as denúncias de assédio, protegendo e acolhendo a vítima de maneira humanizada, com a apuração adequada de cada caso e com sigilo absoluto dos denunciantes; Fluxo humanizado para o atendimento de trabalhadores e trabalhadoras que, em decorrência de doenças, precisam acionar o INSS para afastamento e que os funcionários não tenham perdas salariais, quando precisarem se afastar pelo INSS, bem como que os bancos não dificultem os procedimentos técnicos necessários para esse afastamento e, por fim, que quando esses trabalhadores retornarem às atividades, não sejam discriminados e não sejam perseguidos.Neste item foi citado o caso particular do Itaú, como um banco que está comprando a estabilidade do trabalhador adoecido ao invés de acolher e ajudá-lo no processo de recuperação, oferecendo dinheiro para que o trabalhador deixe a empresa e o direito à desconexão, com o cumprimento de cláusula que assegura o direito não terem que participar de reuniões e de não receberem qualquer tipo de mensagem de trabalho após o horário laboral.
Números assustadores
Os dirigentes sindicais mostraram aos bancos, números da Consulta Nacional feita este ano que apresentam a situação de medo e instabilidade emocional sofrida por bancários e bancárias em função das metas: 67% responderam sentir preocupação constante com o trabalho; 60% sentem cansaço e fadiga constante; 53% têm desmotivação e vontade de não ir trabalhar; 47% têm crise de ansiedade/pânico; 39% dificuldade de dormir, mesmo aos finais de semana; 26% sentem medo de “estourar”, perder a cabeça; 24% apresentam crises constantes de dor de cabeça; 23% sentem vontade de chorar sem motivo aparente e 23% apresentam dores de estômago/gastrite nervosa
"Eles não estão falando da vida lá fora, vida social, de casa. Perguntamos sobre o ambiente de trabalho e esse foi o resultado da consulta. Os bancários estão fazendo relação direta entre metas e problemas de saúde", reforçou Juvandia.
O secretário de Saúde da Contraf-CUT, Mauro Salles, apresentou ainda dados da “Pesquisa Nacional da Contraf-CUT: modelos de gestão e patologias do trabalho bancário”, feita em parceria com o Instituto de Pesquisa e Estudos sobre Trabalho, da Universidade de Brasília (UnB), com cerca de 5.800 bancárias e bancários.Entre os resultados estão: 76,5% relataram terem tido pelo menos um problema de saúde relacionado ao trabalho, no último ano.; 40,2% dos respondentes estavam em acompanhamento psiquiátrico no momento da pesquisa e 54,5% indicaram o trabalho como principal motivo para buscar tratamento médico.
Bancos negam relação
Apesar de toda a fundamentação com dados e pesquisas apresentadas pelos sindicatos, a Fenaban negou que os dados são suficientes para comprovar que os casos de adoecimento mental estão ligados à atividade do trabalho bancário.
A Fenaban começou dizendo que tinha preocupação com as pautas apresentadas, mas depois seguiu negando todas as evidências apresentadas na mesa, o que deixou os representantes dos trabalhadores indignados.
Matéria da própria OMS diz que "o trabalho amplifica questões sociais que afetam negativamente a saúde mental", completando ainda que "bullying e a violência psicológica (também conhecidos como assédio moral) estão entre as principais queixas de assédio no local de trabalho, impactando negativamente na saúde mental".
Mauro Salles lembrou que, quando os representantes dos bancos registraram que não há relação entre trabalho e saúde mental, se esqueceram que a síndrome de burnout está incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID), da OMS, e também está descrita pelo Ministério da Saúde (MS) "como um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade".
“Inúmeras pesquisas mostram essa correlação entre trabalho e saúde mental. Além disso, decisões judiciais, movidas pelo Ministério Público do Trabalho ou pelos próprios bancários, têm condenado os bancos por assédio moral e pressão por resultados. Também auditorias fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego, em inspeções nos locais de trabalho, constatam essa relação”, concluiu o secretário de Saúde da Contraf-CUT.
“A própria Fenaban trouxe informações que houve um total de 1.608 denúncias de assédio, recebidas pelos canais dos bancos. E constatou que houve um aumento”, completou Juvandia, mostrando a contradição na postura dos bancos na mesa de negociação.
Promessa de respostas
Após uma pausa, solicitada pelos próprios bancos, os representantes da Fenaban retornaram com a afirmação de que irão trazer, em próximas reuniões, propostas de avanços sobre os temas cobrados.
"Não é só o trabalho em si que adoece mas a permanente pressão cada vez maior por alcance de resultados que muitas vezes são baseados em objetivos inalcansáveis. Queremos dos bancos um tratamento digno e um ambiente de trabalho saudável", avaliou o presidente do Sindicato do Rio José Ferreira, que pertencia ao Comando da categoria e participou da mesa de negociação.