Quinta, 11 Julho 2024 17:57
PELO FIM DA DISCRIMINAÇÃO

Bancários cobram igualdade salarial, de direitos e ascensão profissional para mulheres, negros e trans

65% das bancárias consideram igualdade salarial e de direitos uma das prioridades da Campanha Salarial 2024
O Comando Nacional dos Bancários na mesa com a Fenaban debateu a Igualdade de Oportunidades. À esquerda, a presidenta da Federa-RJ, Adriana Nalesso O Comando Nacional dos Bancários na mesa com a Fenaban debateu a Igualdade de Oportunidades. À esquerda, a presidenta da Federa-RJ, Adriana Nalesso Foto: Contraf-CUT

 

Carlos Vasconcellos 

Imprensa SeebRio 

O Comando Nacional dos Bancários participou nesta quinta-feira (11), em São Paulo, da terceira mesa de negociação com a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos). Na pauta, a igualdade de oportunidades. 

O primeiro item debatido foi o cumprimento da Lei de igualdade salarial (PL 1085/2003), sancionada pelo presidente Lula em Julho de 2023.

Os dirigentes sindicais solicitaran informações sobre a situação atual nos bancos em relação ao cumprimento da legislação e apresentaram dados acerca das desigualdades na categoria. 

De acordo com a Consulta Nacional, 65% das bancárias consideram a igualdade salarial e de direitos uma das prioridades desta Campanha Salarial. 

"Mostramos que, em média as mulheres ganham 20% a menos que os homens nos bancos ainda que tenham melhor qualificação. Apenas 2,8% de mulheres em ocupações iguais ganham mais, ou seja, em 97,2% das ocupações as bancárias ganham menos que os homens", disse a presidenta da Federa-RJ (Federação das Trabalhadoras e Trabalhadores no Ramo Financeiro do Estado do Rio de Janeiro) Adriana Nalesso, que participou da reunião. 

Entre janeiro de 2020 e maio de 2024, houve redução de 11.514 postos de trabalho. Porém, quando é feito o recorte de gênero, o saldo positivo de emprego bancário entre homens foi de 1.331 postos, enquanto para as mulheres, foram eliminados 12.845 postos. Portanto, a cada um homem contratado no período, nove mulheres foram desligadas.

Mulheres discriminadas

O governo federal tem feito levantamentos e divulgou o relatório do primeiro semestre de 2024, numa iniciativa dos Ministérios do Trabalho e Emprego e das Mulheres.

O painel do período apresenta dados agregados a nível nacional e por Unidade Federativa, declarados pelas empresas do setor privado na RAIS 2022 dos estabelecimentos com 100 ou mais empregados. Os números mostram que as mulheres recebem 19,4% a menos do que os homens nas maiores empresas do país (na categoria bancária a diferença é ainda maior: 20%). 

Em cargos de direção e gerência, a desigualdade cresce ainda mais: 25,2%. 

Os bancários lembraram também que a determinação da legislação é de que o levantamento dos dados das diferenças salariais entre homens e mulheres seja feito por empresa e holding (CNPJ). 

Mulheres TIs

Uma questão que preocupa a categoria é em relação às contratações de TIs (Técnicos da Informação). Mesmo com a alta na contratação de TIs no setor, de 2012 a 2021, houve queda de 31,9% para 24,9% na proporção de mulheres contratadas na área. 

Licença Maternidade 

Em relação à Licença Maternidade foi reivindicado que todos os bancos pratiquem a licença de seis meses para mulheres e 20 dias para homens. Os bancos ficaram de apresentar quantas instituições financeiras ainda não aderiram ao programa "Empresa Cidadã", criado em 2008, no segundo governo Lula. 

"Os sindicatos recebem denúncias de bancárias que ao retornar da licença maternidade perdem carteira e tem mais dificuldades de ascensão. Isso é um absurdo. As mulheres não podem ser prejudicadas por gerarem a vida", criticou Nalesso. 

Os bancos informaram que cerca de sete mil mulheres e homens entre os cinco maiores bancos já tiraram licença maternidade e paternidade. 

Violência contra a mulher 

Em relação à cláusula específica sobre prproteção à bancária vítima de violência, o Comando reivindicou informações sobre os dados dos bancos. 

O Programa Basta, da qual o Sindicato dos Bancários do Rio faz parte, já atendeu 449 mulheres , com 235 medidas protetivas e 167 ações relacionadas ao direito da família. 

"É uma medida acertiva e precisamos combater a violência contra mulher. É Importante ressaltar que a cada seis horas, uma mulher é morta no Brasil", acrescentou Adriana. 

Mais assediadas 

Até na questão de assédio moral, um problema que tem elevado o número de trabalhadores adoecidos no sistema financeiro, as mulheres são mais afetadas. Segundo a Consulta Nacional, 37% das bancárias teriam sofrido assédio no trabalho, sendo que entre homens este índice é de 33%. 

Questão racial 

Os bancários debateram também uma política de inclusão e ascensão profissional para negros e negras. 

Os bancos apresentaram dados do programa "SOMAMOS", iniciativa criada em outubro de 2020, com o objetivo de qualificar e criar oportunidades de vagas. 

“É fundamental o compromisso dos bancos com políticas de inclusão levando em consideração raça, gênero e orientação sexual. Combater qualquer forma de discriminação e reduzir as desigualdades é nossa missão”, explicou Adriana. 

Os bancos informaram que já investiram R$5 milhões no programa.

Os sindicatos cobram uma proposta dos bancos que garanta inclusão, oportunidades e ascensão profissional para mulheres e negras e negros e LGBTQIA+ e reivindicam um novo Censo da diversidade já para 2025.

"Cobramos o Censo da Diversidade para 2025 e tornar público a atual situação de mulheres, negros e negras, LGBTQIA+ na categoria ", destacou a presidenta da Federa-RJ. 

Os bancários querem ainda maior divulgação dos dados do novo Censo. 

Violência contra LGBTQIA÷

De acordo com pesquisa da ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), a expectativa de vida de pessoas trans é de apenas 35 anos enquanto que para população geral é de 75 anos. Além disso, 90% das mulheres trans se prostituem para sobreviver. O Brasil lidera o ranking nos últimos 15 anos de assassinatos de pessoas trans. 

"Esse é um debate importante e necessário. É fundamental ter uma política direcionada com perspectivas de inclusao, formação e ascensão à carreira", completou a dirigente sindical do Rio. 

Foi reivindicado ainda uma cota de 5% para esse público nas vagas nos bancos. 

Fenaban promete resposta 

Os bancos informaram que vão fazer uma reunião na próxima segunda-feira (15) se comprometendo em debater as questões abordadas na negociação e prometendo respostas para a pauta da igualdade. 

"Vemos como positiva a abertura ao diálogo por parte dos bancos de questões muito importantes para as mulheres, negros e negras e pessoas trans, quer seja na oportunidade de acesso ao emprego como também de políticas que permitam a ascenção profissional. Os dados colhidos pelo Dieese demonstram enormes distâncias em relação a remuneração e o acesso os postos de trabalho mais elevados para mulheres e pessoas de raça negra", avalia o presidente do Sindicato do Rio, JoséFerreira, que também faz parte do Comando Nacional e participou da reunião na capital paulista.

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