Quinta, 20 Junho 2024 12:48

Trabalhadores e economistas desenvolvimentistas criticam manutenção de juros altos pelo BC

Movimento sindical critica boicote e posição política de Campos Neto, que é afinado com a extrema-direita bolsonarista
Somente os bancos e especuladores ganham com os júris altos no Brasil. Os trabalhadores, o setor produtivo e o país perdem Somente os bancos e especuladores ganham com os júris altos no Brasil. Os trabalhadores, o setor produtivo e o país perdem Imagem: Divulgação

 

Carlos Vasconcellos 

Imprensa SeebRio 

O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), anunciou nesta quarta-feira (19), por unanimidade, que mantém a taxa básica de juros da economia brasileira (Selic) em 10,5% ao ano. 

Com esta decisão decisão, o Brasil continua a ter a segunda maior taxa de juros do mundo - maior até do que a da Rússia em guerra - inviabilizando a retomada do desenvolvimento econômico. 

A justificativa da autoridade monetária para a decisão é "a expectativa futura de suposta tendência de aumento da inflação e de desvalorização do Real". 

Por trás da decisão 

Na verdade, o informe do BC reflete a pressão dos mercados para o governo federal promover cortes nos "gastos" públicos, como uma nova reforma da Previdência Social. 

"Por trás desta decisão estão interesses dos bancos e do rentismo em manter este modelo econômico atrasado e que impede o Brasil de crescer e gerar empregos. Com estes juros, o país não consegue dar um salto para um desenvolvimento sustentável. Todas as economistas capitalistas desenvolvidas praticam quase juros zero", criticou o vice-presidente da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro), Vinícius de Assumpção.  

"O mercado pressiona o governo por reformas e corte de investimento público, mas o trabalhador não pode continuar pagando essa conta como ocorreu durante as reformas Trabalhista e Previdenciária feitas, respectivamente, pelos governos Temer e Bolsonaro. Ajuste nas contas públicas se faz é com a taxação dos super-ricos e dos lucros e dividendos dos grandes especuladores, não com cortes nas áreas sociais", acrescentou Vinícius. 

Para o presidente do Sindicato dos Bancários do Rio José Ferreira, elevar os juros só traz recessão, inibindo o consumo e os investimentos e o Brasil não pode continuar a mercê dos interesses dos banqueiros e o sistema financeiro está boicotando a retomada do crescimento econômico. 

"O mundo inteiro sabe que juros altos inviabilizam qualquer economia. Metade do que o contribuinte paga de impostos vai para o pagamento de juros aos bancos, limitando as contas públicas e os investimentos. E há ainda uma questão política. Roberto Campos Neto deixa claro sua posição e afinidade com a extrema-direita bolsonarista e boicota o governo Lula, punindo os trabalhadores", criticou. 

Economista também critica 

O economista da subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) na Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Gustavo Cavarzan, explica que a Selic tem influência importante no desempenho econômico do país.

"Juros altos prejudicam o governo, com aumento de custos no pagamento dos títulos da dívida pública, reduzindo recursos para outras áreas importantes, como saúde e infraestrutura. A Selic também influencia nos juros de todo o sistema financeiro, com isso, o crédito fica mais caro para famílias e empresas, aumentando o endividamento e, ao mesmo tempo, impedindo investimentos na economia real e, portanto, na criação de mais empregos", resumiu, confirmando que a crítica do movimento sindical à política da atual direção do BC tem uma justificativa bem fundamentada. 

A presidenta da Contraf-CUT e vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores, Juvandia Moreira, destacou que o Brasil segue com a inflação sob controle e, portanto, as justificativas do Copom são falhas e prejudicam diretamente uma das obrigações do BC, que é colaborar com aumento do nível de empregos no país.

A última vez que o Copom reduziu a Selic foi na reunião imediatamente anterior a desta semana, realizada em maio, quando o índice caiu 0,25 ponto percentual. Naquele encontro, a entidade monetária iniciou a alteração do ciclo de cortes de 0,50% a cada encontro, realizada desde agosto de 2023, por conta da pressão de trabalhadores, setores produtivos e do Governo Federal.

A balela da 'autonomia'

O presidente Lula fez duras críticas ao Banco Central. “Nós só temos uma coisa desajustada no Brasil neste instante. É o comportamento do Banco Central. Um presidente do BC que não tem nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que pra ajudar o país. Porque não tem explicação a taxa de juros do jeito que está”, completou, sinalizando para o recente almoço de Campos Neto com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), provável candidato da extrema-direita bolsonarista para as eleições presidenciais em 2026.

Campos Neto foi indicado para a presidência do BC pelo então ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, que criou a "autonomia" da instituição, ou seja, não é mais o governo que determina a política cambial e monetária e os juros no Brasil, mas a direção do BC, hoje presidida por um representante do cartel do sistema financeiro [Campos Neto trabalhou 15 anos no Santander]. Seu mandato termina no final deste ano, em dezembro de 2024. . 

Ação Popular 

expectativa é de que Lula indique um nome para o cargo mais afinado com a política de desenvolvimento do governo e que não seja subserviente aos banqueiros. 

Por causa da aproximação entre Campos Neto e políticos, a bancada do PT na Câmara dos Deputados protocolou uma ação popular, nesta quarta-feira (19), contra o presidente do BC.

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