Sexta, 14 Junho 2024 14:19

Lula defende na OIT tributação dos super-ricos para financiar desenvolvimento sustentável e transição ambiental e digital

Presidente brasileiro critica concentração de renda gerada pelo capitalismo mundial e por hegemonia dos países mais ricos e propõe uma nova ordem mundial multipolar
Lula e o Diretor-Geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Gilbert Houngbo.   Lula e o Diretor-Geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Gilbert Houngbo. Foto: Ricardo Stuckert /Presidência da República

 

Carlos Vasconcellos 

Imprensa SeebRio 

Uma das pautas econômicas centrais que o movimento sindical tem levado para os trabalhadores debaterem é a Reforma tributária. 

Na categoria bancária, além de defender a isenção e a ampliação da isenção no Imposto de Renda para salários mensais de até R$5mil mensais, os sindicatos querem a taxação dos super-ricos para garantir o equilíbrio fiscal e mais investimentos em educação, saúde, habitação, infraestrutura e preservação ambiental.Esta taxação foi defendida também pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta quinta-feira (13), no fórum inaugural da Coalizão Global para a Justiça Social no âmbito da 112ª Conferência da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Genebra, na Suíça.

Lula disse ainda, no encerramento do fórum, que "o bem-estar da população está ligado aos compromissos de preservação do meio ambiente" e defendeu a relação entre capital e trabalho para minimizar as desigualdades sociais, ressaltando o papel relevante da OIT para estes desafios. 

O fórum é iniciativa do diretor-geral da OIT, Gilbert Houngbo, ao lado de quem Lula exercerá a co-presidência da coalizão.

O presidente brasileiro defendeu a taxação das grandes fortunas porque, em sua avaliação, "não há democracia com fome, nem desenvolvimento com pobreza, nem justiça na desigualdade. 

"Por isso, aceitei o convite do diretor-geral Gilbert para co-presidir a Coalizão Global para a Justiça Social. Ela será instrumental para implementar a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável", declarou, criticando a pobreza no mundo capitalista e a precarização do trabalho gerada pela informalidade. 

O número de pessoas em empregos informais saltou de aproximadamente 1,7 bilhão, em 2005 para 2 bilhões neste ano de 2024 e a renda médiado do trabalho segue em queda para as pessoas menos escolarizados, número que foram apresentados por Lula. Destacou também que "as novas gerações não encontram espaço no mercado de trabalho. . "Muitos não estudam, nem trabalham e há elevado desalento. Quase 215 milhões, mais do que a população do Brasi vivem em extrema pobreza, mesmo estando empregados", acrescentou, citando ainda as desigualdades de gênero, raça, orientação sexual e origem geográfica que agravam este cenário. 

Capital e Trabalho 

Para Lula, a relação entre capital e trabalho é importante para reduzir as desigualdades sociais. “Recuperar o papel do Estado como planejador do desenvolvimento é uma tarefa urgente. A mão invisível do mercado só agrava desigualdades. O crescimento da produtividade não tem sido acompanhado pelo aumento dos salários, gerando insatisfação e muita polarização. Não se pode discutir economia e finanças sem discutir emprego e renda. Precisamos de uma nova globalização, uma globalização de face humana”, defendeu, numa clara crítica ao ultraliberalismo que avança no mundo na mesma proporção que crescem a pobreza e as desigualdades sociais. 

Para reduzir este fosso social e garantir sociedades mais justas, Lula defendeu a taxação dos super-ricos e lembrou que a justiça social e a luta contra as desigualdades são prioridades da presidência do Brasil no G20, grupo das 20 maiores economias do mundo. 

“Estamos discutindo como promover uma transição justa e utilizar as tecnologias emergentes para melhorar o universo laboral. Nossa iniciativa prioritária, a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, busca acelerar os esforços para eliminar essas chagas. O Brasil está impulsionando a proposta de taxação dos super-ricos nos debates do G20”, afirmou, lembrando que o mundo nunca teve tantos bilionários: três mil pessoas no planeta detêm um patrimônio de quase US$15 trilhões e citando o absurdo se pessoas terem seus próprios programas espaciais, o que a maioria das nações não possuem. 

O valor da riqueza acumulada representa a soma das riquezas do Japão, Alemanha, Índia e Reino Unido, o que foi exemplificado pelo presidentebrasileiro. 

"Não precisamos buscar soluções em Marte. É a Terra que precisa do nosso cuidado”, acrescentou, em referência ao bilionário Elon Musk, dono da empresa de exploração espacial 'Space X'.  

Transição ecológica

Lula defendeu ainda a transição para a geração de energia ecológica e um desenvolvimento econômico sustentável a fim de enfrentar os desafios climáticos. Na avaliação do líder da maior economia da América Latina e oitava do planeta, não há como garantir tantos investimentos fundamentais para a existência humana e o bem-estar social sem tributar esta minoria bilionária. 

Coalizão Global

Para Lula, a transição ecológica deve ser pensada junto com a transição digital.

"Ações e políticas voltadas para o desenvolvimento de habilidades digitais e sustentáveis serão fundamentais em uma economia global cada vez mais descarbonizada e intensiva em tecnologia A inteligência artificial transformará radicalmente nosso modo de vida. Teremos que atuar para que seus benefícios cheguem a todos e não apenas aos mesmos países que sempre ficam com a parte melhor", finalizou, lançando uma coalizão e uma participação mais igualitária dos países em desenvolvimento nos organismos de governança global e defendendo uma nova ordem mundial multipolar. 

“A coalizão que estamos lançando hoje será uma ferramenta central para construir uma transição com justiça social, trabalho decente e igualdade. Isso será particularmente importante neste contexto de transição para uma ordem multipolar, que exigirá mudanças profundas nas instituições. Por isso o Brasil vai trabalhar pela ratificação da Emenda de 1986 à Constituição da OIT, que propõe eliminar os assentos permanentes dos países mais industrializados no conselho da organização”, disse. A Coalizão Global pela Justiça Social foi lançada em 2023 e já conta com mais de 250 membros, incluindo governos, organizações de trabalhadores e empregadores, organizações multilaterais e nacionais e instituições financeiras, organizações acadêmicas e organizações não governamentais internacionais.

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