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Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Publicado: 12 Junho, 2024 - 11h52 | Última modificação: 12 Junho, 2024 - 12h49
Escrito por: Carolina Servio
A CUT debateu nesta terça-feira (11) e quarta-feira (12) em Natal, no Rio Grande do Norte, os impactos dos parques eólicos nas comunidades locais, assim como as estratégias do movimento sindical para que a chamada economia verde seja também sustentável para a classe trabalhadora.
A discussão deu prioridade para os relatos das pessoas de comunidades atingidas por parques eólicos, para a análise sócio econômica e industrial da atividade, além de fazer uma discussão própria sobre a responsabilidade das empresas com os direitos humanos. O seminário completo é possível assistir no canal do YouTube da entidade.
O secretário-geral da CUT Brasil, Renato Zulato, deu o pontapé da discussão argumentando que “o debate sobre que modelo de economia verde o Brasil adotará em definitivo deve ser feito ativamente pela classe trabalhadora, e não ficar nas mãos do capital.” A fala de Zulato recebeu o endosso do presidente da IndustriALL-Brasil, Aroaldo Silva.
“Os países ricos olham para o Brasil como meros fornecedores de energia. Fornecedores de minerais raros, o que tem nos causado muitos problemas. Nessa nova reorganização política, devemos nos posicionar como produtores de tecnologia de ponta, e cuidar para que a produção de energia tenha como ponto de partida o bem-estar do nosso povo”, afirmou Aroaldo.
A pesquisadora do Laboratório interdisciplinar Sociedades, Ambiente e Territórios, Moema Hofstaetter, explicou, baseado em estudo com comunidades que já estão sofrendo o impacto de parques eólicos, como a nova configuração desses locais têm prejudicado a produção de alimentos da agricultura familiar, além da significativa perda de políticas públicas essenciais, como infraestrutura urbana, escolas e mobilidade.
“Do jeito como as coisas estão sendo tocadas aqui no nordeste e no Rio Grande do Norte, nós não vamos mais produzir comida, vamos produzir apenas energia. Vamos ter de trocar o estômago por uma bateria. A discussão não é mais se vai ter parques eólicos. Eles são uma realidade, mas precisamos disputar o modelo que interessa as comunidades locais”, afirmou Moema.
Ela alerta que o atual modelo colocado pelo mercado e assimilado pelo governo causa: a apropriação dos territórios, a privatização das terras e despossessão das famílias, perda da soberania sobre os territórios, com uso inadequado de água e minérios pelas empresas.
A exposição da professora foi corroborada na fala de agricultores locais que relataram, através de um vídeo enviado para o seminário, as sucessivas perdas nas colheitas causadas tanto pelo manejo da água pelas empresas pela poeira que os parques eólicos provocam.
“Eu perdi tudo com a poeira. Perdi toda a produção de maracujá. Antes da poeira o maracujá era bom, agora não presta. É uma tristeza muito grande para gente”, conta a agricultora Joséfia Régia.
Parte da poeira vem do piçarro colocado pelas no chão das estradas abertas pelas empresas. Os agricultores pedem, por exemplo, que essas estradas sejam cobertas por asfalto ou outro material mais adequado.
A economista e representante do DIEESE Milene Prado, que ficou responsável pela exposição de dados coletados sobre emprego e renda de parques eólicos e energias renováveis, afirmou que da forma como tem sido feito até aqui, não é um modelo de transição energética justa. “Porque ele afeta os territórios, reduz os empregos e o que gera são empregos precarizados, com tempo de permanência menor”, explicou.
“As energias renováveis poderiam ser uma alternativa para os eventuais empregos que seriam perdidos no setor de combustíveis fósseis, mas o que estamos vendo é que aqui os empregos são poucos, de qualidade inferior no que diz respeito à remuneração e a forma de contratação, a proteção social e a cobertura de acordos coletivos”, completou.
Foi consenso no seminário que os parques eólicos estão provocando a desterritorialização das comunidades, e que o tema deve ser levado para o governo federal.
Ampla participação
A atividade foi promovida pela Secretaria de Políticas Sociais e Direitos Humanos da CUT Brasil em parceria com a CUT-RN e a Fundação Friedrich Ebert, e contou com o essencial apoio da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Rio Grande Norte.
Além das entidades organizadoras, o debate foi feito com amplo envolvimento da sociedade civil organizada, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Articulação pelo Semiárido (ASA), Federação dos Pescadores do Rio Grande do Norte (FEPERN), Atingidos pelas Renováveis (SAR), Federação dos Urbanitários (FNU), e CUT Paraíba e Maranhão.
A secretária de Políticas Sociais e Direitos Humanos da CUT Brasil, Jandyra Uehara, que coordenou o debate, afirmou que “um dos grandes objetivos da discussão é justamente articular tantos as CUTs regionais das regiões Norte e Nordeste em um tema de interesse comum, como também as outras organizações interessadas no assunto para que a perspectiva da classe trabalhadora chegue forte aos espaços de decisão.”
Também estiveram no debate os deputados estaduais do Rio Grande do Norte Isolda Dantas, Francisco de Assis e Divaneide Basílio, todos do Partidos dos Trabalhadores, além da prefeita de Jandaíra - cidade onde o encontro foi realizado, Marina Dias Marinho.