Sábado, 08 Junho 2024 17:12

Regulação do sistema financeiro está relacionada aos juros, crédito mais barato e inclusão bancária

Economista do Dieese lembra que tema está além da pauta corporativa dos bancários e precisa envolver a sociedade
O economista Gustavo Cavarzan mostrou que a não regulamentação de fintechs não beneficiou a populaçção como pŕometia o Banco Central brasileiro O economista Gustavo Cavarzan mostrou que a não regulamentação de fintechs não beneficiou a populaçção como pŕometia o Banco Central brasileiro Foto: Contraf-CUT

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

Na parte da tarde deste sábado (8), foi realizado o terceiro painel de debates da 26ª Conferência Nacional dos Bancários, com o tema sobre a “regulação do sistema financeiro nacional”.

O primeiro palestrante, Gustavo Cavarzan, disse que sua abordagem está mais relacionada à ampliação de “instituições não bancárias” no sistema financeiro nacional e seus impactos sobre o emprego da categoria bancária.

A promessa do Banco Central brasileiro era de que a presença destas instituições não bancárias iria desconcentrar o sistema bancário para gerar mais competição e mais crédito com menor custo [juros] e elevar a inclusão financeira no país”, declarou, mostrando números que revelam que estes objetivos não foram alcançados.

Impactos das fintechs e cooperativas

Segundo Cavarzan, os bancos tradicionais não perderam na participação na concessão de crédito, que até aumentou de 81% para 82%, mas houve perda de receitas o que levou Itaú, Bradesco e Santander a reduzirem o número de agências físicas e a demitirem trabalhadores para competir com os bancos digitais estrangeiros, fintechs e cooperativas de crédito.

Se nos bancos tradicionais há uma redução de unidades físicas, inclusive no setor público, as cooperativas de crédito, como o Siccob, ampliaram o número de agências no país”, explicou.

Surgiram instituições capazes de reduzir os lucros dos bancos, o que levou os banqueiros a reduzirem os postos de atendimento presencial”, acrescentou. 

O economista apresentou dados revelando que, em 2016, o Brasil tinha uma fintech e hoje são 258 destas empresas reguladas pelo BC e um total de cerca mil instituições, a maioria sem regulamentação.

O técnico do Dieese mostrou que o Nubank tem muito mais clientes do que o Banco do Brasil e 15 vezes menos trabalhadores.

O Nubank passou o Itaú, Bradesco e Santander como valor de mercado”, afirmou.

De 2011 a 2024, na relação crédito x PIB (Produto Interno Bruto), houve crescimento de 43% para 56%, graças exclusivamente aos bancos públicos, mas não no sistema financeiro como um todo, ou seja, a promessa do BC de que uma regulação menos rígidas destas fintechs elevariam o crédito e reduziriam os juros não aconteceu”, explicou, mostrando que no Brasil houve redução de crédito - exceto bancos públicos – e os juros estão no mesmo patamar de 2023. Disse também que a taxa de juros no país nada tem haver com entradas das instituições não bancárias no sistema, mas por tendências do mercado.

Não cumpriu o que prometeu

O professor revelou que o número de adultos com relação bancária aumentou de 2005 a 2013, em função do crescimento econômico, e cresceu duas vezes mais do que no período 2013 – 2024, em que o BC trouxe as fintechs e bancos digitais estrangeiros, mostrando que essa maior inclusão nada tem haver com a entrada dessas instituições. Mostrou ainda que mesmo o crescimento de agências físicas de cooperativas não acompanhou o índice de fechamento de agências bancárias, o que representa mais um impacto negativo dessas mudanças para a população.

Além de não cumprir o que prometeu, essas medidas do BC criaram graves problemas, não resolveram o acesso ao crédito, não reduziram os juro  elevaram o número de fraudes e aumentaram o risco sistêmico no setor financeiro", criticou, acrescentando que houve uma piora nas relações do trabalho no setor, com contratações de não bancários, que enfrentam trabalho ainda mais precário, têm renda menor, há rotatividade muito maior, jornada superior e muitos não são sequer assalariados, como os agentes autônomos , MEI s e Pjs”, relatou.

Concorrência e demissões 

Cavarzan disse que os bancos aderiram ao lema ‘se não pode com eles, junte-se a eles’. “As fintechs pegam produtos de grandes bancos, como Itaú, Bradesco e Santander e os bancos reduzem os custos mudando a forma de contratação, fragmentando o emprego no ramo financeiro com a redução de 80 mil bancários e a elevação da contratação de trabalhadores de outras categorias e terceirizados”, alertou.

O ramo como um todo aumenta o numero de trabalhadores, mas são não bancários, que são representados por outros sindicatos, sem a cobertura dos direitos Convenção Coletiva da categoria e, muitas vezes, sem nenhuma representação e proteção trabalhista”, afirmou Cavarzan.

Na variação do emprego de 2012 a 2022 foi mostrada a queda da presença bancária no mercado de trabalho do sistema financeiro nacional. O Rio de Janeiro perdeu 39% de sua base em função desta mudança da contratação no setor financeiro. No Brasil, a taxa de sindicalização no setor caiu 15,6% em 2022, o que torna o trabalhador ainda mais desprotegido. 

A regulação do sistema financeiro não é apenas uma pauta corporativa. Debater este tema não se limita às questões de condições de trabalho, mas é preciso mostrar à sociedade que estamos debatendo também os juros, a necessidade de mais crédito com menor custo e maior inclusão da população ao sistema financeiro”, concluiu o técnico do Dieese.

 

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