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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Carlos Vasconcellos
Imprensa SeebRio
A primeira mesa de debates da 26ª Conferência Nacional dos Bancários, que acontece em São Paulo, trouxe uma análise da atual situação política e econômica do país, com o professor de Direito Constitucional e de Teoria de Direito da PUC-SP, Pedro Estevam Serrano.
O presidente do Sindicato do Rio José Ferreira, que prestou solidariedade ao povo gaúcho pela tragédia ambiental no estado, destacou a importância do painel de análise que tratou da conjuntura política nacional e os desafios da categoria nesta campanha salarial.
“Estamos participando da mesa que vai olhar a conjuntura para buscarmos como vamos enfrentar na campanha específica de cada banco e na campanha geral da categoria”, disse.
Fascismo sofisticado
Pós doutor pela Universidade de Lisboa e Université Paris Nanterre, Pedro Estevam disse como se comporta na atualidade um estado autoritário, que os trabalhadores já enfrentaram no Brasil e poderão ter de enfrentar num futuro próximo.
“A gente acaba caricaturando a extrema-direita, o que é um erro, porque é um movimento sofisticado, que usa como método mentiras, o que chamamos hoje de fake news, que se infiltra nos movimentos da extrema-direita, como na Ku Klux Kan, nos EUA, e no bolsonarismo no Brasil”, destacou, lembrando do nazifascismo na Europa e do o integralismo no Brasil para dizer que a extrema direita não é um fenômeno novo no país e no mundo.
“O nazifascismo na Europa é uma doença da democracia, porque eles ascenderam pela democracia na Europa”, explicou, ressaltando o aspecto do fascismo em que mulheres não tinham direitos e negros não eram tratados sequer como seres humanos. Lembrou ainda do processo histórico da conquista do voto feminino e da luta dos negros em busca da cidadania.
Crise da democracia liberal
Citou ainda a situação das comunidades LGBTQIA+, que no passado, até a década de 50 no Reino Unido, passavam por castração e eram tratados como doentes e falou do fracasso do fracasso do modelo da democracia liberal.
“Acreditávamos que a democracia universal traria uma sociedade melhor e mais justa, mas isso não aconteceu, com o surgimento do nazifascismo”, destacou.
Disse ainda que o fascismo contemporâneo propões uma “cidadania branca, com renda, masculina que caracteriza estes atores políticos da direita”.
Mostrou também que o nazifascismo não foi obra de um mero domínio sobre a sociedade, mas as pessoas tinham um desejo convergente com as práticas e politicas arbitrárias do estado.
“Precisamos entender porque um grande contingente de pessoas abre mão de seus próprios interesses de pobre ou de classe média para atender aos interesses tiranos que os exploram e os oprimem”, disse, citando Marx, mostrando que fatos atuais, como a violência policial nas comunidades apoiados por parte da população “é uma questão ideológica”.
realidades
a violência
“Eles apoiam Bolsonaro porque querem ser um tirano na família, com os filhos. Essas pessoas não acham que estão abrindo mão de seus interesses de trabalhador, mas se sentem pertencentes a uma elite da qual, na verdade, não fazem parte”, explicou a respeito do imaginário popular que aderiu à extrema-direita.
Quais os valores de família?
Ressaltou que a extrema-direita atual é “conservadora”, como se imagina, pois a ideia conservadora europeia tem a lógica de conservar valores e promover pequenas mudanças sociais, mas sim, reacionária.
“O fascismo atual tem uma visão ‘revolucionaria’, eram chamados por autores marxistas de ‘conservadores revolucionários’, que querem uma ruptura para voltar ao passado, com a narrativa sobre os valores da família, mas de que família? A do século XVI, em que o marido pode disciplinar a esposa e os filhos com mecanismos de violência moderada e que obrigam a mulher a ter relação com o marido, permitindo inclusive, o estupro. Mas eles têm construído muito bem essas ideiasque falam de Deus e da família com conceitos banais que dialogam também com a juventude, transmitindo valores em questões do dia a dia, como o namoro, relações, namoro e casamento, com ideias que não parecem ter relação com a política, mas transmitem ideias reacionárias”, acrescentou.
Teologia política
O acadêmico explicou que na Europa, até a extrema-direita tem um modelo econômico que inclui direitos socais, o que não acontece na América Latina, citando o caso do governo Javier Milei e do bolsonarismo no Brasil.
“No Brasil temos uma extrema-direita muito específica, não é uma doença politica, mas da religião que cria uma teologia política”, afirmou, ressaltando no entanto, que há uma parcela dos evangélicos em que é possível dialogar no campo da esquerda. ]
“Eles propõem um domínio político através de um domínio teológico, ou seja, crêem que Deus criou a política e defendem um estado não laico”, explicou.
As fake news
Estevam disse ainda que a mentira passa a ser um veiculo de ação politica desta extrema-direita, lembrando que, na Roma antiga, chamavam destes grupos de “idiotas”, os sujeitos que se negavam a participar do debate da ‘polis’, modelo político que começou na Grécia, e criavam uma linguagem que rompia com a linguagem a linguagem e o consenso lógico da sociedade, acreditando numa ordem transformadora que rompe com este consenso lógico.
“Eles mentem, produzem uma realidade idiota, que só eles acreditam, como no caso da crise ambiental que resultou na tragédia no Rio Grande do Sul, que conta com ações eficientes do governo Lula e eles conseguem transformar a realidade e muita gente acredita que a população gaúcha está abandonada sem nenhum apoio do governo federal”, criticou.
Golpe dentro da democracia
Pedro Estevam disse que explicou porque Bolsonaro falhou no golpe porque usou métodos do século XX e sobre os desafios dos embates que virão já nas próximas eleições e disputa de narrativa.
“Agora o golpe é um modelo bonapartista, com a criminalização de dirigentes sindicais, uso do aparato judicial e institucional, como no caso da prisão de Lula e no impeachment contra Dilma Rousseff. Eles usam medidas autoritárias dentro da legalidade democrática”, aletou.
“Eu diria que nosso adversário não é o perfil de um bolsonarismo, cuja corrente política vai durar anos, mas com uma liguagem mais moderada, não com uma tentativa literal de golpe, mas dentro da democracia. Eles já controlam o Legislativo e o Judicário”, destacou.
“Nós não ganhamos a eleição, só ganhamos para presidente, perdemos a eleição no parlamento, teremos enfrentamento no STF, que tem produzido medidas que estão tirando direitos trabalhistas e sociais, como a ampliação da terceirização, temos medidas de exceção mesmo sob um governo mais progressista. Vamos enfrentar um bolsonarista muito mais inteligente, que temos que denunciar, é o fascismo com cunho de maior renda”, conclui.