Sexta, 07 Junho 2024 22:01

Luis Nassif: Lava Jato foi conspiração para desestabilizar governos petistas e garantir ascensão da extrema-direita

O jornalista Luiz Nassif fala durante a abertura da 26ª Conferência dos Trabalhadores do Ramo Financeiro, em São Paulo. Foto: Contraf-CUT. O jornalista Luiz Nassif fala durante a abertura da 26ª Conferência dos Trabalhadores do Ramo Financeiro, em São Paulo. Foto: Contraf-CUT.

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Imprensa SeebRio

“A Lava Jato foi uma conspiração que contou com a participação do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, de setores importantes do Judiciário brasileiro, do parlamento e da mídia, que levou à desestabilização dos governos petistas, ao impeachment de Dilma Roussef, à prisão do presidente Lula e a ascensão da extrema-direita no Brasil”.  A avaliação foi feita na abertura do 26ª Conferência Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro, nesta sexta-feira (7/6), em São Paulo, pelo jornalista investigativo Luis Nassif que lançou o livro “Os dez anos da Lava Jato”, que mostra em detalhes os bastidores desta operação que teve como objetivo impedir o projeto de fazer do Brasil um país soberano e independente.

Com este objetivo foi montada uma narrativa para desacreditar, inicialmente, o governo Lula, com o mensalão, que o jornalista classificou como o maior crime do Judiciário feito em cima de denúncias vazias. “A (revista) Veja participou direta e ativamente deste processo todo, fazendo matérias que eram verdadeiro factoides. Em seguida, toda a mídia passou a participar, estampando manchetes sobre o mensalão até transformá-lo num escândalo de grandes proporções, porém sem provas”, ressaltou.

Acrescentou que liderados pela Veja e pelo publisher Roberto Civita, a mídia decidiu assumir o protagonismo político, seguindo o exemplo de Rupert Murdoch, que foi buscar na ultradireita dos Estados Unidos o discurso de ódio, e aprendeu a manobrar as notícias falsas. Elas eram difundidas por seu canal, a Fox News, e replicadas nas redes sociais. “No Brasil a mídia se transformou em uma grande Fox News, sem contraponto, sem auto-regulação. Era o jornalismo de guerra, com a pregação do ódio e o recurso permanente das fake news”, lembrou.  

Participaram da mesa de debates da abertura da conferência, entre outros, a vice-presidenta do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, Kátia Branco, a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Neiva Ribeiro e a presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira. 

Arranjo internacional – “Os métodos empregados pelo Departamento de Justiça americano (DoJ) foram inteiramente copiados pela Lava Jato, com treinamentos e cursos a juízes e procuradores brasileiros bancados pelos Estados Unidos e com o uso eficiente da imprensa, como meio de dar credibilidade à operação da força tarefa”, contou Nassif. O desgaste das administrações petistas era do interesse também de setores das forças armadas.

Ressaltou que o então ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, poderia ter dado fim a toda investigação do falso esquema do mensalão, mas se dobrou diante da pressão dos setores envolvidos na Lava Jato. “Mas este foi um comportamento do STF enquanto instituição. Fiz um levantamento que constatou que todos os processos daquela época contra o PT e o PSDB caíram nas mãos do ministro Gilmar Mendes”. O que se queria, frisou, era enterrar o PT para colocar alguém do PSDB. O nome do Aécio (Neves) era o primeiro que surgia, mas ele estava muito desgastado.

“Veio, então, a conspiração para o golpe do impeachment de Dilma Roussef. Conversei com um ministro do STF que me disse que iam dar um impeachment na Dilma, usando uma questão contábil e foi exatamente o que aconteceu, com o apoio das instituições e da mídia”, disse. Michel Temer assumiu, mas era preciso tirar Lula das eleições e o esquema da Lava Jato, instituições e jornalões, fizeram isso, pavimentando o caminho para a chegada da extrema-direita com Jair Bolsonaro ao poder. Lula foi condenado. Estava inelegível. Passou mais de 500 dias preso, mas depois teve todas as condenações e outros processos contra ele anulados, podendo se candidatar.

“O Lula com a sua campanha e a sua eleição cumpriu um papel importantíssimo de salvar o país da destruição causada pelo bolsonarismo. Agora o desafio é em 2026 vencer o bolsonarismo”, avaliou. “Mas como fazer isto se a política econômica é definida pela Faria Lima? Se Campos Neto (atual presidente do Banco Central) é um instrumento do bolsonarismo que com os juros nas alturas impede Lula de colocar em prática um projeto desenvolvimentista para o Brasil?”, questionou.

Para o jornalista, a tática do sistema é manter Lula amarrado através de taxas de juros definidas pelo BC, nas alturas. Avaliou que com os juros atuais, o Brasil vai crescer a taxas baixas, em torno dos atuais 2% do PIB (Produto Interno Bruto).

“Mas Lula tem condições de dar uma virada. Ele deve se articular com as forças produtivas, micro, pequenas, médias e grandes empresas do setor produtivo, e com os trabalhadores, com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), num projeto de desenvolvimento nacional. Ele fez isto entre 2008 e 2010, deixando de lado o mercado financeiro, e pode fazer outra vez”, defendeu.

Disse que, para isto, o papel dos bancos públicos será fundamental. “Eles têm condições de financiar o desenvolvimento brasileiro”. Avaliou que se o país começar a crescer e se desenvolver em outros patamares, Lula vai conseguir espantar a extrema-direita bolsonarista.

Para ele, mais do que nunca, a participação dos sindicatos é fundamental. “O grande desafio é trazer de volta o modelo de cooperação, para combater esse individualismo que é a marca do capitalismo. O mercado não quer regulação, ele quer ganhar dinheiro”, afirmou. “Eu tenho certeza de que vocês estão à altura deste desafio, que é combater o fantasma da ultradireita. Vamos a luta!”

Impacto da Lava Jato nos empregos – A 26ª Conferência Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro, que vai até domingo (9), lançou na programação desta sexta-feira (7) o livro "10 anos da Operação Lava Jato: impactos nos empregos e na soberania nacional", obra organizada pelas juristas Gisele Cittadino e Carol Proner, e que reúne a análise de especialistas do direito, da imprensa e economistas.

Em vídeo produzido especialmente para ser exibido na Conferência, Gisele, que também é professora de Direito da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio, destacou que o livro faz "uma crítica bastante contundente" à Lava Jato, comprovando que a operação teve como objetivo usar o direito "para perseguir partidos e pessoas, especialmente o presidente Lula".

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