Sábado, 18 Mai 2024 15:14

Conferência Estadual RJ debate emprego bancário e expectativa para a PLR em 2024

Economista do Dieese, Rosângela Vieira, destaca a importância da representação sindical por ramo ante as mudanças no trabalho do setor financeiro. Expectativa é de melhora da PLR em relação a 2023, o que dependerá do nível de mobilização da categoria
A ecnomista Rosângela Vieira falou dos desafios da representação sindical ante as transformações do trabalho no ramo financeiro A ecnomista Rosângela Vieira falou dos desafios da representação sindical ante as transformações do trabalho no ramo financeiro Foto\; Nando Neves

 

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio


A economista do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Rosângela Vieira, trouxe números da atual conjuntura econômica e as expectativas para a Campanha Nacional dos bancários em 2024.

 

Impactos na PLR


Rosângela apresentou dados que mostram que o crédito bancário teve, em 2023, a menor taxa em quatro anos, o que explica, em parte, a PLR (Participação nos Lucros e Resultados) menor em relação a 2022.

A inadimplência em alta bateu recorde e o endividamento das empresas ficou próximo da crise de 2015. Cerca de 57% das famílias brasileiras estão endividadas e a categoria bancária também tem dívidas no cartão de crédito”, explicou, reafirmando que este quadro do endividamento de pessoas físicas e jurídicas elevou fortemente as PDDs (Provisões de Devedores Duvidosos), fato que repercutiu também negativamente nos lucros líquidos oficiais dos bancos e, por conseguinte, na PLR da categoria.

O setor financeiro foi muito impactado com o caso das Americanas e mais recentemente, das Casas Bahia e Maganize Luiza, afetadas pela mudança no modelo de consumo, especialmente com a presença maior do marketplace, que também irão continuar impactando nos resultados dos bancos”, acrescentou.

Segundo a técnica do Dieese, a expectativa é de que, em 2024, os lucros dos bancos devem subir e a inadimplência deve cair, embora esta previsão ainda não esteja inteiramente segura.

O governo está tentando melhorar a questão do endividamento das empresas, mas o programa Desenrola, para pessoas físicas, ficou muito aquém do esperado pelo governo”, destacou.

Neste contexto, Rosângela acredita que, talvez, a PLR da categoria possa ser melhor do que no último ano, o que dependerá do nível de participação da categoria na campanha salarial. 

 

Endividamento do Bradesco

 

Chama a atenção também, o contexto de dificuldades do Bradesco, segundo maior banco privado do país, com um nível de endividamento muito acima dos demais concorrentes do setor

A inadimplência alta, superior ao período da pré pandemia, eleva as PDDs, que acabam repercutindo no valor da PLR dos bancários”, afirmou.

 

Fechamento de agências e demissões

 

O Bradesco, apesar da rentabilidade menor, ainda apresenta altos lucros e, como nos demais bancos do sistema financeiro nacional, os impactos nos lucros levou os bancos a tomar medidas que afetam duramente o emprego da categoria.

A rentabilidade do Bradesco foi metade do esperado pelo mercado, menor do que no trimestre de 2023, o que não oferece o retorno esperado pelos investidores, levando o banco a reduzir as despesas administrativas. Isto significa fechamento de agências físicas e redução de postos de trabalho”, ressaltou Rosângela, lembrando que esta medida ocorre em todas as instituições financeiras privadas em função da concorrência com os bancos digitais, fintechs e cooperativas de crédito. 

O setor privado, em função da inadimplência, está mais rigoroso para a liberação do cŕedito, mas nos bancos públicos ocorreu o contrário, o crédito foi ampliado, especialmente no BNDES.

Somente nos últimos 12 meses, os bancos fecharam 4,2 mil postos de trabalho. Em 2023 foram cortados 6,3 mil postos no setor.

Em cinco anos a categoria perdeu mais de 25 mil empregos e três mil agências físicas foram extintas.

Com o fechamento de agências há uma queda do emprego bancário. As contratações não estão centradas nas unidades físicas e há uma questão que agrava a desigualdade de gênero: de cada dez empregados contratos, apenas três são mulheres”, ressaltou.

Segundo a técnica do Dieese, a expectativa é de que, em 2024, os lucros dos bancos devem subir e a inadimplência deve cair, embora esta previsão ainda não esteja inteiramente segura.

Além da redução de postos de trabalho e da perda de presença dos bancários na contratação do setor, o Dieese aponta a ampliação da terceirização, da contratação fraudulenta, que resultam no enfraquecimento do ganho médio do trabalhador do ramo financeiro.

Cresce o emprego nas plataformas digitais, de empregados trabalhando em departamentos de prédios ou em home office”, explica a economista.

Rosângela disse ainda que os bancos tradicionais competem com bancos digitais, cooperativas de crédito e acusam estas empresas concorrentes de desvirtuar o mercado e pagar muito menos impostos.

Cooperativas de crédito, como o Sicoob estão com mais postos de atendimento do que o Banco do Brasil”, disse. A Sicoob tem investido fortemente em diversos tipos de crédito, inclusive para pequenos e médios setores agrícolas no interior.

Fecha um banco e surge uma cooperativa de crédito”, declarou, ressaltando que o a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos) está exigindo a regulamentação destas cooperativas e das fintechs junto ao Banco Central.

 

Desafios e potencialidades


A técnica do Dieese encerrou a sua participação falando dos desafios do movimento sindical ante as transformações do trabalho no setor financeiro,

Para o movimento sindical é fundamental a questão da representação destes trabalhadores, muitos com piso de um salário mínimo e jornada de 40 horas semanais”, acrescenta.

Cerca de 600 mil trabalhadores não têm as mesmas garantias da categoria que está coberta pela Convenção Coletiva de Trabalho”, disse.

Rosângela falou ainda que existe meios de mobilização alternativos além da greve, em função da digitalização dos bancos, como campanhas nas redes sociais que afetam a imagem dos bancos.

O Sindicato de São Paulo fez uma campanha chamando o Santander de ‘Satander’ e ‘Portal do Inferno’, o que levou o banco espanhol a entrar com uma ação judicial para proibir a campanha. É preciso colocar o dedo na ferida, que é atingir a imagem das empresas”, concluiu Rosângela.

 

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