Quarta, 08 Mai 2024 20:03

Campos Neto joga contra o Brasil ao reduzir queda dos juros

Política da atual direção do BC engessa a economia e atrasa a retomada do desenvolvimento econômico e social
A política de juros do presidente do Banco Central,  Roberto Campos Neto, joga contra a retomada do desenvolvimento econômico do Brasil A política de juros do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, joga contra a retomada do desenvolvimento econômico do Brasil Marcelo Camargo/Agência Brasil

 

Carlos Vasconcellos 

Imprensa SeebRio 

Se depender do presidente do Banco Central (BC) Roberto Campos Neto o Brasil continuará a praticar alguns dos maiores juros do planeta. 

Nesta quarta-feira (8), o Comitê de Política Monetária (Copom) desacelerou a queda da Selic, a taxa básica de juros, que caiu de 10,75% para 10,50%. A redução de apenas 0,25% frustrou a equipe econômica do governo Lula e recebeu críticas de economistas e do movimento sindical.  

"Pelo visto os sindicatos terão de voltar às ruas e intensificar a luta por juros baixos, compatíveis com os praticados no mercado internacional", disse a vice-presidenta do Sindicato dos Bancários do Rio, Kátia Branco.  

Na avaliação dos dirigentes sindicais, com a queda da inflação, o BC não tem justificativas para impedir uma redução mais consistente dos juros.

"Só há duas explicações para este recuo e queda tímida da Selic: sabotagem e subserviência ao cartel do sistema financeiro por parte do senhor Campos Neto ", criticou o vice-presidente da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro), Vinícius de Assumpção.  

Só os bancos ganham 

Os juros aumentam o sofrimento da população, especialmente os mais pobres, mas também da classe média, pois taxas tão elevadas dificultam o consumo de bens duráveis, do setor automobilístico e da aquisição da casa própria. Além disso, acabam reprimindo o consumo e aumentando o endividamento das famílias, aprofundando a crise e impedindo a retomada sustentável do desenvolvimento econômico e social e da geração de empregos. 

Perdem o povo e o Brasil, pois juros elevados repercutem ainda no pagamento da dívida pública aos bancos, o que impede o estado brasileiro de investir mais em educação, saúde, saneamento e habitação. Só bancos e especuladores ganham com a política de juros de Campos Neto.  

"Esperamos que o presidente Lula escolha este ano o substituto de Campos Neto, que foi indicado pelo ex-ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, por um nome que não seja comprometido com os bancos e com este modelo especulativo, mas sim, com o desenvolvimento do país e a justiça social ", acrescentou Kátia.  

Na contramão do mundo

O BC havia, há duas semanas atrás, indicado que manteria a queda em 0,5 pontos percentuais, mas freou o ritmo e ficou nos 0,25 pp. Ainda no mês de abril, Campos Neto, começou a indicar que poderia reduzir o ritmo da queda dos juros ou até elevar a Selic, recebendo críticas de economistas desenvolvimentistas, do governo federal e dos sindicatos.  

As justificativas apontadas por ele foram de que o processo desinflacionário e da economia estão em ritmo de desaceleração, e, ainda, com o mercado de trabalho “aquecido”. Este último ponto, na visão do mandatário do BC, seria um problema, pois elevaria o consumo e a inflação.

Para os dirigentes sindicais o presidente do BC está na contramão da geração de empregos, do desenvolvimento e do que é praticado nas nações mais desenvolvidas. 

"Quando Campos Neto alega que essa queda no ritmo de redução da Selic se dá por causa do aumento do emprego, acaba entrando em contradição, porque vai justamente na contramão das missões do BC, que é colaborar com aumento do nível de emprego”, lembrou Juvandia Moreira, presidenta da Contraf-CUT.  

Visão atrasada 

O economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Gustavo Cavarzan, explicou em entrevista ao site da Contraf-CUT “o problema é que essa visão de Campos Neto ignora que a inflação recente da economia brasileira está muito mais vinculada a fatores externos, como a política de preços de combustíveis e conflitos geopolíticos globais do que a um suposto aquecimento da demanda interna do país”.

O presidente do BC e ex-executivo do Santander alegou ainda "a alteração dos planos do Federal Reserve (Fed), banco central norte-americano, em reduzir a taxa básica de juros naquele país", para tentar justificar a queda na redução dos juros brasileiros. 

"Campos Neto esquece que o Brasil já tem uma das mais altas taxas de juros do mundo, ao contrário do que é praticado nos EUA e nas economias mais avançadas do mundo. Ele tem uma visão econômica neoliberal atrasada", explicou Vinícius.  

"Nem a Rússia com a guerra e o bloqueio econômico imposto pelas potências ocidentais tem juros tão elevados e, ao contrário, até reduziu suas taxas", rebateu o sindicalista. 

Mais um gol contra

Cavarzan avalia que a política monetária é de juros da atual direção do BC joga contra o Brasil. 

"A decisão do Copom desta quarta-feira ignora que a perspectiva de inflação no Brasil segue sob controle. O último boletim Focus indica expectativa de 3,72% para o IPCA em 2024 e a economia brasileira precisa de juros baixos para que o setor produtivo possa investir, gerando emprego e renda para a população”, observou Cavarzan, que destacou ainda o resultado da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) contínua, divulgada pelo IBGE, que mostrou uma elevação de 0,5 ponto percentual na taxa de desemprego no último trimestre, o que significa um aumento de 542 mil pessoas em busca de trabalho. 

"Reduzir o ritmo de queda dos juros, nesse contexto, irá apenas engessar a atividade econômica brasileira, num momento em que a necessidade de intervenção e coordenação do setor público é urgente, ainda mais diante das tragédias ambientais no Rio Grande do Sul. Mais uma vez o BC joga contra o país”, finalizou o economista.

Mídia