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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
A expressão “lei para inglês ver” surgiu no Brasil em 1831, quando o então Regente Feijó, cedendo à pressão dos ingleses, promulgou uma lei que proibia o tráfico de escravizados. A expressão logo tomou conta das ruas, pois todos sabiam da ineficácia da legislação, pois mesmo após sua promulgação, cerca de 750 mil escravos foram trazidos da África para o Brasil.
Infelizmente, parece que a expressão ainda encontra eco entre alguns gestores do BB no Rio de Janeiro, a cidade que recebeu o maior número de escravizados no mundo.
“Como uma instituição que é presidida por uma mulher negra, e acaba de pedir perdão ao povo negro por sua atuação durante a escravidão, que anuncia políticas externas e internas para valorização da população negra no país, pode ter como líderes pessoas tão despreparadas e insensíveis quando o tema é racismo?”, disse o diretor executivo da Secretaria de Dinamização do Ramo Financeiro do Sindicato dos Bancários do Rio, Júlio Castro. O sindicalista lembra que expressões como “não gosto de preto”, “jamais beijaria um preto”, “ manda o crioulo ir na frente”, independentemente de como, quando, onde e porque elas foram proferidas, são de cunho racista.
“A pessoa que a proferiu é racista. E o racismo deveria ser combatido e denunciado com todas as nossas forças, não apenas em função do Código de Ética da empresa ou do Código Penal brasileiro. Mas não foi assim que aconteceu no Rio de Janeiro, a segunda cidade com maior número de negros e pardos no Brasil. As frases foram ditas por uma terceirizada, dentro de uma dependência do Banco do Brasil, por diversas vezes, e a gestora da agência nada fez”, denuncia o dirigente sindical.
Sindicato exige apuração
Na avaliação de Júlio, há o agravmento da “atuação” da Gepes (Gerência de Gestão de Pessoas), que informada sobre o fato pelo Sindicato, às 11h53, não entrou em contato com a gestora e só falou com o Sindicato às 16h43, somente para obter mais informações, numa morosidade e omissão inexplicáveis.
“Entendemos que toda denúncia deve ser apurada com a maior responsabilidade possível para que não se incorra em prejuízos e injustiças aos envolvidos. Mas a relevância, a atualidade e o momento em que vive o Banco do Brasil, mereceria dos ‘líderes’ do Rio de Janeiro uma resposta mais efetiva e contundente”, ressaltou o sindicalista, lembrando ainda que “medidas já estão sendo tomadas, mesmo que, aparentemente, não seja esta a intenção dos gestores”.
“Para estes gestores, tudo que tem sido feito e anunciado pela empresa com relação à população negra no país, não passa de ações para ‘inglês ver’, como há 192 anos atrás, quando surgiu esta expressão na era da escravidão no Brasil”, concluiu Júlio.
Visibilidade Negra
O Secretário de Combate ao Racismo Almir Aguiar falou sobre mais este caso de racismo nos bancos. “A direção do Banco do Brasil tem o dever de apurar e tomar iniciativas para evitar casos de racismo e combater a discriminação dentro da instituição. Em novembro realizarmos o VII Fórum Nacional pela Visibilidade Negra no Sistema Financeiro e trouxemos uma série de propostas para inclusão de negras e negros no sistema financeiro e propondo inclusive a realização de um protocolo de intenções entre os bancos públicos e os ministérios da Igualdade Racial e da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, para promover a reserva de 30% dos cargos de confiança nos bancos públicos para cotas raciais, atendendo ao Decreto 11.443/2023, que dispõe sobre o preenchimento por pessoas negras de percentual mínimo de cargos em comissão e funções de confiança no âmbito da administração pública federal”, afirmou Almir.