Domingo, 19 Novembro 2023 22:35

Vitória da extrema-direita na Argentina serve de alerta ao Brasil: a economia vai às urnas

Com mais de 99% das urnas apuradas, Milei vence 2º turno e aparece com 55,70% dos votos contra 44,29% de Massa. Candidato governista reconhece a derrota
O candidato de extrema-direita, Javier Milei, 53 anos, da coalizão La Libertad Avanza, venceu o 2º turno das eleições presidenciais da Argentina neste domingo (19) O candidato de extrema-direita, Javier Milei, 53 anos, da coalizão La Libertad Avanza, venceu o 2º turno das eleições presidenciais da Argentina neste domingo (19) Foto: Agustín Marcarian/Reuters (EBC)

Carlos Vasconcellos 

Imprensa SeebRio 

Com mais de 99% das urnas apuradas o candidato da extrema-direita, o economista ultraliberal Javier Milei é apontado como o novo presidente da Argentina, com 55,70% dos votos, contra o candidato governista de esquerda, Sérgio Massa, que teve 44,29% dos votos e reconheceu a derrota.

O desencanto do povo argentino com a política foi expresso no baixo comparecimento às urnas, de 76%, segundo a Dirección Nacional Electoral da Argentina, menos do que o registrado em eleições anteriores e também abaixo do que o visto no primeiro turno (77%).

O candidato do Bitcoin

Como sempre, por trás do discurso "antissistema" há sempre interesses de setores do grande capital. Milei é um entusiasta da maior criptomoeda do mercado. Ele já falou que o Bitcoin representa o “retorno do dinheiro ao seu criador original, o setor privado”, além de ser “uma reação natural ao golpe dos bancos centrais”.

Autodenominado “anarcocapitalista”, Milei defende o fechamento do Banco Central da Argentina e a dolarização da economia de seu país. Por volta das 8h desta segunda-feira (20), o BTC operou em alta de 2%, a US$ 37.316. Em 30 dias, o ativo digital subiu 24%. Fica claro o apoio de poderosos setores especulativos e de interesses internacionais ao candidato vitorioso. 

Ficou evidente também que o apoio de gigantes do grande capital internacional levaram a centro-direita liberal e antiperonista a declarar apoio ao candidato da extrema-direita, mesmo que a decisão arraste o país a uma aventura imprevisível. O apoio do ex-presidente liberal Maurício Macri e principalmente da terceira colocada no primeiro turno,  Patrícia Bullrich, também representante do neoliberalismo argentino, pesou decisivamente no resultado final. 

 Lição para o Brasil

O rresultado serve de alerta para o Brasil. O desempenho da economia costuma ser decisivo nas eleições recentes da América Latina,  o que aumenta a responsabilidade do governo Lula, que luta pela recuperação econômica do país e enfrenta dois grandes desafios, aprovar uma reforma tributária que, como nas nações mais desenvolvidas, taxe os super-ricos e inaugure uma tributação progressiva no Brasil. Atualmente os pobres e a classe média pagam, proporcionalmente, mais impostos do que as elites econômicas. O outro desafio fundamental é baixar os juros.  E há dois entraves políticos: um no Congresso Nacional, de maioria conservadora e liberal, com representantes do agronegócio e dos bancos que não estão nem um pouco empenhados em aprovar as mudanças que o Brasil precisa e o outro é a política monetária que está nas mãos do cartel do sistema financeiro representado pelo atual presidente do Banco Central Roberto Campos Neto.  Desde a chamada "autonomia" do BC criada pelo ex-ministro da Economia Paulo Guedes,  é a instituição e não mais o governo quem define os juros básicos no país.  

A crise argentina

O pleito argentino mostrou o peso do desempenho econômico no resultado das urnas. Com uma inflação anual de 142,7% e a moeda nacional superdesvalorizada (um dólar vale 352,44 pesos argentinos), o candidato governista não conseguiu derrotar o "Bolsonaro na versão argentina". 

É bem verdade que a crise por lá não começou no governo de esquerda de Alberto Fernández mas é uma herança do governo neoliberal de Maurício Macre, no entanto, a atual gestão peronista fracassou ao não conseguir retomar o desenvolvimento econômico do país e, ao contrário, permitir o agravamento da crise, elevando ainda mais a miséria no país. 

A economia brasileira 

Claro que a pujança da economia brasileira nos deixa longe do colapso de nosso vizinho e grande "rival" nos gramados do futebol. Mas o desempenho da economia, também aqui, vai às urnas. 

Os primeiros sinais da economia brasileira são positivos e o povo viu baixar a carne, o óleo de soja e outros alimentos. A cesta básica baixou em praticamente todas as capitais. Os combustíveis pararam de ter aqueles aumentos semanais, ao contrário do que vinha acontecendo em 2022.

No acumulado, o Brasil ainda tem a 9ª maior inflação do G20, as vinte maiores economias do mundo. Mas sinais de melhoras são visíveis. 

A inflação oficial do país fechou outubro em 0,24%, puxada, principalmente, pelo aumento no preço das passagens aéreas, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no último dia 10 de novembro. O resultado ficou abaixo do 0,26% medido em setembro. No ano, a inflação acumulada é de 3,75% e, nos últimos 12 meses, 4,82%. 

No entanto, há dados que preocupam. A prévia do PIB (Produto Interno Bruto) recuou em setembro e terminou o terceiro trimestre em queda de 0,64%, segundo o BC. O resultado veio pior que a expectativa dos analistas, que esperavam alta de 0,20%, segundo pesquisa da Reuters. No terceiro trimestre, a queda é de 0,64% em relação ao segundo trimestre. 

Desafios em três anos 

Os desafios no Brasil são grandes. E o tempo passa rápido. 

O governo Lula se esforça para retomar o desenvolvimento econômico, a geração de empregos e a elevação do poder de compra das famílias. E, até 2026, serão principalmente os números da economia, e mais que isto, a percepção de melhora econômica do país pela população, que serão decisivos para as eleições daqui a pouco mais de três anos. Fato é que o resultado das eleições no país vizinho faz acender o sinal amarelo. A extrema-direita está aí, à espreita. O atual governo precisa acertar e recuperar o desenvolvimento econômico com justiça tributária e social. E no caso brasileiro, a missão inclui uma preciosa responsabilidade: a de garantir a consolidação da democracia.

 

 

 
 

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