Sexta, 10 Novembro 2023 22:41

Professor defende políticas de acesso dos negros ao mercado de trabalho

André Brandão diz que programas sociais e acesso à universidade são fundamentais, mas não são suficientes para combater o racismo no Brasil
Sociólogo e professor, André Brandão (centro) defendeu políticas racialmente orientadas para o combate às desigualdades raciais e sociais no Brasil Sociólogo e professor, André Brandão (centro) defendeu políticas racialmente orientadas para o combate às desigualdades raciais e sociais no Brasil Foto: Divulgação

 

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

 

O professor titular da Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutor em Ciências Sociais André Brandão, foi o último palestrante do painel sobre as desigualdades raciais, no VII Fórum pela Visibilidade Negra no Ramo Financeiro, nesta sexta-feira (10). O evento acontece em Porto Alegre e terá continuidade no sábado (11).

 

Acesso às universidades

 

André apresentou as desigualdades de acesso ao nível superior no Brasil e lembrou a importância da políticas de cotas, que culminou na lei de cotas de 2012, renovada recentemente por mais dez anos.

Temos um aumento consistente na matrícula de estudantes negros em relação aos jovens brancos e foi importante as políticas afirmativas nas universidades e o Proune, de 2006, apesar deste programa ter sido muito criticado. Houve um conjunto de medidas importantes nos governos populares recentes de 2003 a 2016 que proporcionou avanços na presença de pretos e partos nas universidades, mas que não equacionou o problema da presença majoritária de brancos”, explicou, lembrando ainda o retrocesso representado pelos governos Temer e Bolsonaro.

 

Vulnerabilidade maior

 

O palestrante destacou que negros e negras são mais afetados em situações de crises sanitárias, o que foi comprovado na pandemia.

Situações de crises não são neutras, mas afetam mais os pretos e pardos da sociedade. E o aumento de negros no nível superior não garante o ingresso no mercado de trabalho. É custoso para um jovem pobre estudar, mesmo nas instituições públicas”, disse.

O sociólogo criticou o que chamou de desgoverno o período da gestão bolsonarista, que desestruturou as políticas públicas, inclusive na área educacional.

A gente espera que a volta de um governo popular represente um retorno destas políticas públicas”, acrescentou.

 

Renda desigual

 

Na renda média nacional, André mostrou que o racismo também se faz presente no mercado de trabalho.

Se a gente pega toda a massa salarial brasileira, entre os 20% que ganham menos, os negros são 69% dos mais mal remunerados. Numa situação inversa, entre os 20% dos que ganham mais, os negros representam apenas 24%”, afirmou, mostrando que não basta o acesso da população negra ao ensino superior.

Na população ativa, entre as mulheres negras, apenas 12% tem nível superior enquanto que entre as brancas este percentual mais que dobra, chegando a 26%. Entre os homens economicamente ativos, 21% dos brancos têm nível superior contra apenas 9% dos negros”, destacou, lembrando que a média nacional com nível superior neste segmento é de 16%.

Destacou ainda que, em 2019, o salário médio dos homens brancos com nível superior era em torno de R$7 mil, enquanto que dos negros em torno de R$4.800 e das mulheres brancas R$4.760 e das negras, R$3.712.

 

Desemprego maior

 

O acadêmico mostropu ainda que o desemprego de negros é que puxa a taxa geral de desempregados para cima, lembrando que, mesmo nas favelas, o desemprego entre negros é bem maior do que entre brancos, desigualdade verificada também em relação às melhores e piores regiões de moradias das comunidades pobres, com os negros morando nos piores locais.

Isso mostra a gravidade da desigualdade racial, inclusive nas comunidades mais pobres”, disse, explicando que em seu estudo de doutorado verificou que até a expectativa de um futuro melhor era maior entre os jovens brancos.

 

Impactos da pandemia

 

O palestrante mostrou ainda que a população negra é muito mais vulnerável em situações de crise sanitária.

A covid-19 teve um impacto muito maior entre negros no mercado de trabalho. O Brasil perdeu naquele período da pandemia, no primeiro semestre de 2020, 8 milhões de empregos e deste total 71% eram negros e negras. Esses dados explicitam a tragédia de uma sociedade apartada, cindida e desigual”, ressaltou, defendendo políticas racialmente orientadas, como as cotas, que sofreu duas tentativas de inconstitucionalidades, rejeitadas pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

 

Acesso ao mercado de trabalho

 

O professor defendeu ainda o retorno de políticas sociais, como o programa Minha Casa, Minha Vida, como formas que contribuem para a melhora de qualidade de vida da população negra, embora tenha ressaltado que estes projetos têm ainda muito o que melhorar.

Políticas universais voltadas para a assistência das pessoas vulneráveis são fundamentais, mas elas não são suficientes. Como que nós construímos nos setores progressistas da sociedade um entendimento para lutar com políticas racialmente orientadas para o acesso ao mercado de trabalho, como já temos feito no setor público”.

Temos uma sociedade voltada para produzir desigualdades”, concluiu.

 

 

 

 

 

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