Sábado, 28 Outubro 2023 19:27

Encontro Black Power: funcionários falam sobre a sua vida, dentro e fora do BB

Gustavo Alves, Luanda Melo, Moab Teodósio e Patrícia Marins. Foto: Nando Neves. Gustavo Alves, Luanda Melo, Moab Teodósio e Patrícia Marins. Foto: Nando Neves.

Olyntho Contente

Imprensa SeebRio

Na última mesa temática do 1º Encontro do BB Black Power, no final da tarde deste sábado, quatro funcionários do Banco do Brasil contaram um pouco da sua história de vida, sobre como decidiram fazer concurso para o BB, falando também sobre o racismo na sociedade e no próprio banco, e a respeito de como encontrar a felicidade no trabalho. Ao relatar um pouco do que passaram, Moab Teodósio, Patrícia Marins, Gustavo Alves e Luanda Melo, se emocionaram e a todos os que os ouviam no auditório do Sindicato, onde o encontro aconteceu.

“Entrei há 13 anos no BB. Confesso que este momento é um dos mais emocionantes que já vivi. Ver tudo isto acontecendo (o encontro) numa sala cheia de pessoas iguais a mim, com problemas semelhantes, me faz crer que é possível superar, juntos, as dificuldades que enfrentamos”, afirmou Gustavo, que trabalha na equipe matricial diversidade do banco em Brasília.

Luanda Melo, há 23 anos no BB, enfatizou que a maioria dos presentes eram, como ela, os únicos pretos em seu ambiente de trabalho. “Aqui neste encontro é o contrário, a gente não se sente rejeitado, sendo que as falas de vocês nos mostram que é possível avançar dentro do banco. Há um pacto da branquitude, temos que saber como nos ajudar também”, defendeu. E acrescentou: “Temos qualificação e somos capazes de fazer qualquer serviço dentro do BB”, constatou.

Moab contou que é economista e está desde 2010 no banco. “Além do BB tenho um projeto de mãe solo, sobre a maternidade solo. São histórias de mulheres pretas que passam por esta realidade e contam tudo em um livro. É incrível como me sinto tão à vontade de contar sobre minha vida aqui com vocês”, confessou.

Patrícia é gerente de relacionamento. Afirmou não ser uma coisa fácil falar sobre racismo, porque traz de volta momentos muito tristes. “Mas é preciso falar, contar o que passamos, sobretudo em momentos como este, para encontrarmos saídas. É preciso lembrar que este é um problema que existe em toda a sociedade e se reflete no BB. As pesquisas comprovam a existência do racismo, mas também mostram que as pessoas fazem de conta que não existe, porque a maioria dos consultados afirma não ser racista”, lembrou.

Felicidade

Os quatro responderam a uma mesma pergunta: é possível ser feliz no BB? Para Gustavo é importante nunca desistir, pelo contrário, lutar para ocupar espaços. “É difícil, a gente não se vê representado. Mas somos qualificados, competentes, e vamos chegar lá. Há ações de diversidade no banco, há avanços que a gente tem que lançar mão para conquistar o que quer”, disse.

Moab frisou ser possível encontrar a felicidade no trabalho. “Isto é possível, mesmo trabalhando num banco, no coração do capitalismo. Posso ter um olhar diferente e pensar que estou ajudando a melhorar a vida de uma família que contrata um financiamento para comprar uma casa própria”, argumentou.

Patrícia disse que é feliz no banco. “Estou há seis anos na mesma função. Acho que a felicidade passa pela nossa auto-estima. Estou bem comigo. Tenho 50 anos, com corpinho de 49, e nunca baixei a cabeça. O banco me trouxe coisas boas, mas não é o salário que cai na conta que vai trazer esta felicidade. É preciso mais. Precisamos pensar em ajudar as pessoas. Faço um trabalho voluntário e saio fora da bolha do banco. Isto me gratifica”, contou.

Acabar com o racismo

Para Luanda, o Banco do Brasil, apesar do racismo, lhe proporcionou muitas coisas boas. “Pra gente que é negro representa uma mudança de vida. Acho que é possível ser feliz no trabalho, vendo como algo com significado para a nossa vida. Mas é preciso não relaxar e cobrar que o BB seja um espaço, por exemplo, onde não seja permitida a discriminação religiosa, que haja respeito à diversidade. Os colegas têm que se ajudar, também, ao ver, por exemplo, alguém que enfrenta alguma dificuldade. Precisamos tentar fazer do banco um lugar acolhedor”, defendeu.

Todos concordaram que é urgente garantir o fim do racismo no BB e na sociedade para que as gerações futuras possam usufruir do que for conquistado agora. “E isso passa por ações coletivas para melhorar a vida da nossa comunidade. Mas também por atitudes individuais no nosso dia-a-dia. Por exemplo, faço uso do black money, contratando serviços preferencialmente prestados por pessoas negras e que mais precisem”, disse Moab.

Gustavo finalizou dizendo que é necessário sempre incentivar as pessoas. “Às vezes é preciso conhecer as potencialidades do colega que está em dúvida sobre o que fazer dentro da empresa. Orientar e estimular pode ajudar a abrir portas. Isto pode proporcionar felicidade a ambos. Fazer isto no dia-a-dia é exercer corretamente a liderança”, constatou.

 

 

 

 

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