Quarta, 25 Outubro 2023 17:22

Brasil sedia encontro internacional sobre desafios dos sindicatos frente à digitalização financeira

Da esquerda para a direita: Guilhermo Maffeo, Patricia Salazar Parra, Juvandia Moreira e Neiva Ribeiro Da esquerda para a direita: Guilhermo Maffeo, Patricia Salazar Parra, Juvandia Moreira e Neiva Ribeiro

Olyntho Contente*

Imprensa SeebRio

Analisar os impactos que a digitalização do sistema financeiro está tendo e terá sobre os trabalhadores, e os desafios do movimento sindical mundial frente a esta realidade. Este é o principal objetivo do Fórum Internacional sobre a Digitalização Financeira, promovido pela Uni Finanças Mundial, a Uni Finanças das Américas, a Fundação Friedrich Ebert Stiftung, a Sask e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).

O evento (veja a programação no fim desta matéria) começou nesta quarta-feira (25/10), na sede da Contraf-CUT, em São Paulo, e vai até sábado, reunindo representantes dos trabalhadores do setor financeiro de diversos países. Na primeira mesa de debates o tema foi "Situação atual da digitalização financeira" e a conclusão a que chegaram os participantes, entre eles a presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira, foi a de que a transformação digital no setor traz desafios sem precedentes para o mundo do trabalho em todos os países, e a articulação dos movimentos sindicais nunca foi tão fundamental para superá-los.

Aumento do desemprego

O secretário regional da Uni Américas, Marcio Monzan, destacou que a indústria 4.0 (que engloba a automação e integração de diferentes tecnologias), intensificada pela passagem da pandemia, acelerou significativamente a implementação da digitalização no sistema financeiro. “E essa transformação tecnológica no mundo está atingindo todos os setores, não apenas o financeiro, causando uma movimentação acelerada no trabalho, em termos de regulamentação”, avaliou.

Monzane destacou como exemplo dessa reestruturação, que leva à intensa flexibilização do mercado de trabalho, o aumento do desemprego, uma vez que a tecnologia otimiza funções, reduzindo vagas em muitos setores, além de novas formas de contratações que desprotegem trabalhadores, como as condições do Microempreendedor Individual [MEI] ou de contratados no modelo de pessoa jurídica (PJ). “Temos ainda como novidade, implementada em muitos países, o chamado contrato zero hora, onde o trabalhador se inscreve para trabalhar em uma determinada empresa e, quando é chamado, tem 24h para confirmar. Em caso de falta, ele é obrigado a pagar esse dia não trabalhado”.

A presidenta da Contraf-CUT e vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Juvandia Moreira, reforçou que todas essas transformações no mundo do trabalho, estão atreladas à revolução tecnológica. “Especificamente para a nossa categoria, setor financeiro, onde a área de TI [Tecnologia da Informação] cresceu muito, diminuíram as vagas nos bancos para algumas funções como, por exemplo, na função de caixa, que era a base da pirâmide. Então, hoje você tem basicamente nas agências as pessoas que fazem a orientação, que são chamados de gerentes: gerentes de investimentos, gerentes de conta, gerentes de negócio, enfim. Essa é uma mudança, inclusive, que mexe nos planos de cargos e salários da trabalhadora e do trabalhador bancário”, explicou.

Regulamentação para garantir direitos

Juvandia ainda destacou o aumento da atuação de empresas que, na sua constituição, não são formalmente bancos, mas que atuam como tal no sistema financeiro brasileiro. “Por exemplo, o Nubank, que usa o nome de banco, é banco, mas na sua regulamentação não está formalizado como um banco. A mesma coisa acontece com o Mercado Livre, que é uma plataforma de intermediação de vendas, mas que tem agora o Mercado Pago, com transações de um banco”, observou.

Para Juvandia, portanto, o debate sobre regulamentação do sistema financeiro é fundamental, até mesmo para evitar uma nova crise. “Em 2008, não protegemos a sociedade em termos de regulamentação, o que gerou a crise que se alastrou mundialmente. Os avanços tecnológicos estão colocados aí, trazem uma série de desafios de regulamentação que a gente precisa olhar. Todos esses exemplos de instituições que comentei [Nubank, Mercado Livre] têm autorização para lidar com o dinheiro do povo, para lidar com os recursos da sociedade, e isso, se não muito regulado, pode significar uma crise financeira nas proporções que a gente viu em 2008. É aí que está o nosso desafio, pensar na regulamentação, não só o emprego bancário”, concluiu.

Participaram também da mesa de abertura Guilhermo Maffeo, diretor Regional Uni Américas Finanças, como mediador, além de Neiva Ribeiro, recém-eleita para a direção executiva da CUT e presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, e Patricia Salazar Parra, secretária-geral do Sinecrediscotia (Sindicato Nacional de Empleados de Crediscotia Financiera S.A.), do Peru.

“Precisamos lutar para que a tecnologia favoreça os trabalhadores e também para o fortalecimento dos sindicatos, da Contraf-CUT e das demais entidades que fazem parte da UNI Américas. Daí o papel de fórum de debates”, pontuou Neiva Ribeiro.

Veja a programação

Quarta-feira (25/10)

10h30 – Abertura: "Situação atual da digitalização financeira", "A trajetória de desenvolvimento da indústria FINTECH na América Central" por Magda Miranda Alvarado e Luis Solís Ortíz (Observatorio Sindical Costa Rica). 11h50 - "Transformações no mercado financeiro e seu impacto no emprego" pela CONTRAF CUT – 14h30 - "Bankarização e automatização, o papel do Banco" por Marco Bonnefoy (CSTEBA - Chile) 14h50 - "O desafio dos sindicatos face à digitalização financeira" por Patricia Rinaldi (La Bancaria - Argentina) 15:20 - "A experiência da criptomoeda em El Salvador" por Oswaldo Alarcón (SITRAFOSVI - El Salvador)

Quinta-feira (26/10)

9h30 - "Impacto laboral da digitalização no sistema financeiro. Apresentações da situação no sistema financeiro". Argentina Brasil Chile Colômbia Costa Rica El Salvador México Paraguai Perú

14:30 - Rede Sindical Internacional do Banco Santander "Impacto da digitalização no Banco Santander, presente e futuro". Intervenções: CONTRAF CUT / CSTEBA / AEBU / La Bancaria 15h45 - 17:00 - Encerramento do segundo dia

Sexta-feira (27/10)

 9h30 - Continuação da Rede Sindical Internacional Banco Santander Apresentação FESMC-UGT Representativa Santander Apresentação Fes CCOO Representante Fes Santander 11h30 - Conclusões 13 horas – 14h30 - 2ª Reunião da Comissão Trilateral para a Digitalização Financeira (Associação dos Bancos - AEBU - CONTRAF CUT) Todas as delegações são convidadas a participar

Sábado (28/1)

WORKSHOP "A digitalização e a mensagem sindical". 9h30 - Abertura 10 horas- "A conversa pública e as redes sociais. Desafios para as organizações sindicais" 11h45 - "Futuros estratégicos para colmatar os fossos digitais, ferramentas potenciais e comunicação coletiva digital" pela FES Sindical.14h30 - MESA Experiências e desafios: “A mensagem do sindicato na comunicação moderna. Estratégias para alcançar os jovens trabalhadores” pela CONTRAF CUT. "Ferramentas modernas para contatar com os trabalhadores, APPs e redes sociais" por Catalina Beltran (ACEB). "A mensagem sindical comprometida com as lutas sociopolíticas" por Ana Muga (CSTEBA - Chile) "Otimizando a comunicação digital, os sindicatos ganham poder" da AEBU.

*Com informações da Contraf-CUT.

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