Terça, 24 Outubro 2023 19:40

Senado Federal analisa problema crônico do adoecimento e assédio nos bancos

Agora, o assunto será debatido em Brasília. Foto: Agência Senado. Agora, o assunto será debatido em Brasília. Foto: Agência Senado.

Olyntho Contente*

Imprensa SeebRio

O aumento alarmante do número de bancários adoecidos em função do assédio das metas e da sobrecarga de trabalho gerada pelas demissões em massa nos bancos fez com que o problema grave e crônico passasse a ser analisado pelo Senado Federal. A pedido da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), encaminhado em ofício pela senadora Augusta Brito (PT/CE), o assunto será debatido, nesta quinta-feira (26/10), em audiência na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado.

Além de representantes da Contraf-CUT, participam do Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério Público do Trabalho, Ministério da Previdência Social (INSS), Ministério da Saúde, Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), além de outras entidades sindicais.

Para Juvandia Moreira, presidenta da Contraf-CUT, é a chance de furar a bolha que impede que a sociedade conheça o assunto, mantido apenas na categoria bancária “Precisamos acabar com os geradores do adoecimento que, sabemos, está ligado ao assédio moral e à cobrança abusiva de cumprimento de metas inatingíveis. Para isso, é fundamental que a população também conheça essa realidade dos bancos e os pressione a mudar”.

Adoecimento físico e mental

Para Mauro Salles, secretário de Saúde da Contraf-CUT, a audiência pública é um importante espaço para que sejam apresentadas e debatidas as evidências dos ambientes de trabalho como causa de adoecimento, físico e mental, dos bancários em âmbito nacional. “Nossa categoria enfrenta problemas gravíssimos de saúde, com nível de adoecimento muito elevado. Dentro das agências envidraçadas com layout bem cuidado os bancários vivem dramas cotidianos. Os dados disponíveis, mesmo com a notória a subnotificação no Brasil, é alarmante e é mais elevado que a média das demais categorias”, lamenta.

“A Contraf-CUT, ao longo do tempo, vem provocando importantes e necessários debates através de audiências públicas no Congresso Nacional. Essas audiências têm por finalidade acumular conhecimentos, construir oluções e instruir encaminhamentos relativos aos temas que afligem não só a categoria bancária, mas toda a classe trabalhadora”, disse o secretários de Relações do Trabalho e responsável da Contraf-CUT pelo acompanhamento dos projetos e temas de interesse da classe trabalhadora no Congresso Nacional, Jeferson Meira, o Jefão.

Problema se agrava

Apesar de representar 1% do emprego formal no Brasil, a categoria bancária representa 24% dos afastamentos acidentários (B91) por doenças mentais e comportamentais no país. Em 2012, esse percentual era de 12%. Nos últimos 5 anos o número de afastamentos nos bancos aumentou 26,2%, enquanto no geral a variação foi de 15,4%, ou seja, entre os bancários a variação foi 1,7 vezes maior do que na média dos outros setores.

Nos afastamentos Acidentários (B91) as doenças mentais e comportamentais saíram de 30% em 2012 para 55% em 2021 e as doenças nervosas saíram de 9% para 16%. De 1996 a 2005 ocorreram um suicídio a cada vinte dias entre os bancários. Em muitas situações nos próprios locais de trabalho.

Metas abusivas

Mauro lembra das ações judiciais individuais e coletivas que têm condenado os bancos em relação à pressão exacerbada por resultados, sendo o assédio moral ferramenta de gestão, comprovando a triste realidade que os bancários estão passando onde o adoecimento tem clara relação com as metas abusivas e o assédio moral.

“Quando o trabalhador adoece os bancos dificultam o tratamento, discriminado, descomissionando e demitindo. O ato de trabalhar tem gerado sofrimento e mortes, caracterizando um grave problema de saúde pública, mas que não tem a visibilidade necessária. Quando não conseguem mais aguentar e têm uma doença, vivenciam a plenitude do desamparo. Os médicos das empresas buscam descaracterizar ou minimizar o problema, desqualificando uma relação médico/paciente e trabalhando na lógica mercantil das empresas”.

Para agravar a situação, quando os trabalhadores necessitam do acesso à Previdência Social para tratamento, são maltratados. O INSS cria inúmeros empecilhos para o acesso aos direitos. “O momento exige que o INSS cumpra seu papel legal de proteção da saúde do trabalhador e da trabalhadora. E os bancos precisam cumprir a lei e garantir condições dignas de trabalho. Caso o trabalhador necessite recorrer às instituições do Estado as dificuldades persistem. Houve um verdadeiro desmonte das estruturas do estado responsáveis pela seguridade social”, aponta.

Na Previdência Social, de acordo com ele, persiste uma cultura que vem de longe. “O martírio é desumano, com situações de humilhação, constrangimentos e desrespeito durante a perícia médica. Não atua e não se interessa pela prevenção e pelo controle dos acidentes de trabalho. Agindo apenas na ‘reparação’ dos danos, não se integrou ao modelo de seguridade social previsto na Constituição de 1988. Prioriza o corte de benefícios, numa lógica econômica e atuarial, não levando em conta a saúde dos trabalhadores”.

*Com informações da Contraf-CUT.

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