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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Olyntho Contente*
Imprensa SeebRio
A população brasileira foi às ruas das principais cidades do país nesta quinta-feira, 7 de setembro, na 29ª edição do Grito dos Excluídos. Como sempre acontece, as manifestações ocorreram paralelamente às comemorações do chamado Dia da Independência, cobrando a inclusão dos mais pobres, o fim da miséria e da fome, e, também, este ano, a punição de Jair Bolsonaro por inúmeros crimes sob investigação como a morte de milhares de pessoas por negar a pandemia da covid-19, a organização de um golpe de Estado e a formação de quadrilha para a venda de joias recebidas de governos de outros países.
Neste ano o tema principal foi “Vida em primeiro lugar: você tem sede e fome de quê?” uma luta contra a fome, pelo fornecimento de água para todos, justiça, educação, saúde e trabalho, por terra, moradia, e em defesa da soberania do país. No Rio de Janeiro, houve uma passeata que saiu da Avenida Presidente Vargas, esquina com a Rua Uruguaiana e foi até a Praça Mauá.
O combate à violência deu o tom do ato do Rio. Mães e outros familiares de pessoas vítimas da polícia levaram cartazes e mensagens pedindo justiça. “Fazer uma pergunta vem da tradição da educação popular. A gente faz a pergunta e isso desencadeia uma reflexão”, afirmou a economista e educadora popular Sandra Quintela, uma das organizadoras do ato.
Comida e água
O questionamento chama a atenção para o problema da fome no país. Cerca de 70,3 milhões de pessoas vivem em insegurança alimentar, ou seja, não sabem se vão conseguir comida suficiente, e 21 milhões não têm o que comer todos os dias, segundo dados da ONU (Organização das Nações Unidas).
Do protesto participaram diversos dirigentes bancários e de inúmeras outras categorias, do movimento dos sem-terra, sem teto, do movimento negro e de mulheres e de partidos políticos de esquerda. Durante a passeata, o presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, José Ferreira, destacou a importância da mobilização.
“Ao longo dos 29 anos de existência o Grito dos Excluídos e Excluídas tem sido um marco na luta pela vida e esse continua sendo a principal motivação. O eixo central em 2023 é o acesso à comida e água e por isso a questão "Você tem fome e sede de quê?" refletindo a fome e a sede a partir de uma constatação da necessidade de um maior incentivo à agricultura familiar que é efetivamente a responsável pelos alimentos que chegam aos lares brasileiros”, disse o dirigente.
Acrescentou que o agronegócio concentra sua produção em uns poucos produtos que o mercado denomina como comodities, a maior parte destinada à exportação. Frisou que outra questão a ser lembrada é o acesso à água potável e também o tratamento do esgoto que tem que ser garantido para todos. “Mas o que tem acontecido no país é o caminho da privatização desses dois serviços que tendo como meta o lucro, acabará deixando de fora a população mais pobre. É necessário que a água esteja nas mãos do Estado para que seja púbica, e, assim, de todos”, defendeu.
Fim da violência
A vice-presidenta do Sindicato, Kátia Branco, enfatizou a importância da pressão popular. “Estamos nas ruas, mais uma vez, junto com outros movimentos sociais e populares, para organizar a luta por mais democracia, por saneamento e moradia, por um transporte público de qualidade. Estamos nas ruas por justiça para Amarildo, Mariele e Anderson, e para todos trabalhadores e filhos de trabalhadores vitimados por uma política de segurança pública que transforma favelas e periferias em campos de guerra.”, afirmou.
“Estamos nas ruas pelo fim dos assédios e violências contra as mulheres, pelo empoderamento feminino, e também por direitos e protagonismos para as mulheres, contra a LGBTQIAP+fobia e todas as formas e opressão que destroem vidas e famílias. E ainda pela vida da população negra, pelo fim da violência policial e para combater o racismo estrutural de nossa sociedade”, ressaltou. Kátia destacou que “nós, bancárias e bancários, temos sede de menos metas e mais saúde”.
Adriana Nalesso, diretora do Sindicato e presidenta da Federação Estadual das Trabalhadoras e Trabalhadores do Ramo Financeiro (Federa-RJ), lembrou que o Grito dos Excluídos chama a atenção da sociedade para exclusão de parcela da sociedade. “Um país é realmente livre quando seu povo tem emprego, comida, moradia, saúde, educação. Cabe ao governo a implementação de políticas públicas que atendam a essa população. Mas não é tarefa somente do governo, é tarefa nossa lutarmos para combater as desigualdades”, afirmou.
Morte nas favelas
A manifestação contou com grupos de mães que perderam os filhos para a violência. Uma das fundadoras do Movimento Mães de Manguinhos, Fátima Pinho levava uma faixa com fotos de jovens mortos. Entre eles, o filho dela, Paulo Roberto Pinho de Menezes, assassinado na comunidade em 2013, aos 18 anos. A família responsabilizou abusos de policiais pela morte do rapaz.
Com o filho Antony Davi, de 3 anos, no colo, Fátima acredita que o ato, além de um pedido de reparação para várias famílias, é importante também para as futuras gerações. “Essa luta é para mantê-lo vivo e para ele entender o porquê da nossa luta. Eu o trago com o maior prazer”, afirmou.
*Com informações do Brasil de Fato e do Poder 360.