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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
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Imprensa SeebRio
Nesta quinta-feira (24/8) as ruas das principais cidades do país estão sendo tomadas por protestos contra a violência que atinge sobretudo a população negra e pobre. As mobilizações são convocadas por Movimentos Negros, com o apoio de organizações populares e sindicais. No Rio de Janeiro, a manifestação começou com um ato na Igreja da Candelária, seguida de passeata até a Assembleia Legislativa do Estado (Alerj).
O local escolhido para o encerramento não foi um mero acaso, já que a PM do Rio de Janeiro, sob o comando do governador Cláudio Castro, é a segunda que mais mata, atrás apenas da Bahia. Um manifesto das entidades organizadoras da manifestação, distribuído à população e entregue aos deputados na Alerj, lembra que Castro e as direções dos batalhões precisam ser responsabilizados pelos assassinatos em série, pelo sangue inocente derramado, de crianças e de jovens, majoritariamente negros, favelados e pobres.
“É preciso que haja um fim nas operações policiais que ocorrem de norte a sul do Rio de Janeiro que tem como único objetivo matar e levar terror aos moradores das comunidades. Sabemos que há muito as tecnologias de inteligência podem ser utilizadas para o combate efetivo da entrada de drogas e armas em nosso país”, afirma o documento.
Dentre os casos mais recentes envolvendo policiais estão os assassinatos das crianças Eloah Passos, de 5 anos, e Thiago Menezes Flausino, de 13 anos, no Rio de Janeiro; a chacina no Guarujá, em São Paulo, e o alto número de mortes envolvendo agentes públicos de segurança ocorridas em diversos outros pontos do país, com destaque para a Bahia. Soma-se a esse quadro de extermínio negro a execução da Ialorixá e líder quilombola Maria Bernadete Pacífico em Simões Filho (BA), que pode ter relação com disputas em torno do território onde fica o Quilombo Pitanga dos Palmares.
Câmeras nos uniformes
O manifesto do Rio de Janeiro exige o uso de câmeras nos uniformes dos policiais, a inclusão social, o respeito aos direitos humanos e a participação das comunidades na elaboração de políticas públicas para a solução de problemas encontrados nas favelas, bem como o fim de reformas que empurrem os trabalhadores e pobres ainda mais para a margem do mundo do trabalho.
O documento termina exigindo a punição de todos os que ceifaram a vida de inocentes. “Por aqueles e aquelas que foram tirados de nós: uma vida de luta contra o racismo e nenhum minuto de silêncio. Ághata, Félix, Thiago Flausino, João Pedro, Eloáh, Emily e Vitória, Marcos Vinícius, Kethlen Romeu, Mãe Bernadete, Binho e tantos outros dos nossos que se foram. Por verdade, justiça, memória e vida digna”, finaliza.
Luta vai se intensificar
Dirigentes da Contraf-CUT e do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, entre eles o presidente da entidade, José Ferreira, estiveram presentes à passeata. Ainda na Candelária, o diretor da Secretaria de Combate ao Racismo da Contraf-CUT e ex-presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, Almir Aguiar, falou da importância das manifestações.
“Esta é uma mobilização nacional, com protestos praticamente em todas as cidades do país. As entidades do movimento negro estão realizando atos como este da Candelária, contra a violência policial e contra a letalidade nas operações policiais. Esta é uma pressão para que parem de matar o povo negro”, afirmou.
O dirigente lembrou que em 2022, segundo o Anuário da Violência: 6.429 pessoas foram assassinadas pela Policia Militar, ou seja, 17 pessoas mortas pela PM por dia. Um absurdo que tem que tem que ser detido e punido.
“Nossa luta contra esta realidade vai continuar e se intensificar. É necessário fazer com que o Estado mude a sua política de formação da polícia. O racismo presente na instituição, o racismo estrutural, tem feito com que a população perca milhares de vidas. Não podemos permitir que isto continue acontecendo e temos que repetir que vidas negras importam.
Pelo fim dos assassinatos
O manifesto distribuído na passeata lembra, ainda, que só este ano foram mais de 23 jovens e crianças mortos em operações de uma instituição falida que com o argumento de ‘guerras às drogas’ , invade as comunidades e assassina nossa juventude negra. “Todas estas mortes não são mero acontecimento, mas sim um projeto de Estado. A polícia chama as nossas crianças e jovens de ‘bandidos’ mas não provam. Nós é que temos que provar que não são bandidos”, enfatiza.
O documento pede o fim da violência policial e de Estado. Ressalta que a Polícia Militar nasce em nosso país com a tarefa de garantir a perpetuação do sistema capitalista e de reprimir todos aqueles que se levantam contra as injustiças sociais e raciais. “Essa máquina de moer gente, que chamamos de Estado é responsável pela continuidade do genocídio do povo negro, mesmo após mais de 130 anos da Lei Áurea, em 1888: a falsa abolição”, lembra.