Sexta, 18 Agosto 2023 18:08

Quebra de sigilo e novos depoimentos podem levar Bolsonaro à prisão

Em depoimento à CPI dos Atos Golpístas, o hacker Walter Delgatti conta em detalhes pedidos de Bolsonaro para desqualificar eleição Em depoimento à CPI dos Atos Golpístas, o hacker Walter Delgatti conta em detalhes pedidos de Bolsonaro para desqualificar eleição

Olyntho Contente

Imprensa SeebRio

Jair Bolsonaro (PL-RJ) já poderia ter sido preso há tempos por vários motivos, a começar pelas provas colhidas pela CPI do Genocídio, em relatório aprovado em 26 de outubro de 2021, de que levou milhares de brasileiros à morte pela covid-19, com seu negacionismo. Mas a movimentação da Procuradoria-Geral da República e a indefinição do Supremo Tribunal Federal (STF) fizeram com que o ex-presidente sequer fosse investigado pelos órgãos competentes, ou punido por isto até hoje, passados dois anos.

Agora, já fora do governo – o que permitiu o avanço das investigações da Polícia Federal, Ministério Público e da CPI dos Atos Golpistas – e com o surgimento de novas provas e o testemunho explosivo desta quinta-feira (17/8) do hacker Walter Delgatti, a prisão parece mais perto de acontecer. Outro fato que torna esta possibilidade mais concreta, é o depoimento que, segundo a revista Veja, o ex-ajudante de ordens da Presidência, o tenente-coronel Mauro Cid dará à PF, confessando ter vendido joias sauditas nos Estados Unidos, entregue o dinheiro a Bolsonaro, acrescentando ter acatado ordens do ex-presidente. Mauro Cid está preso no Batalhão de Polícia do Exército, em Brasília.

General envolvido

Outro complicador é a apreensão do celular do general Mauro Lourena Cid, pai do tenente-coronel. O general também foi implicado no escândalo, sob suspeita de auxiliar na venda das joias e de guardar US$ 25 mil em dinheiro (aproximadamente R$ 100 mil) para entregar posteriormente a Bolsonaro. Além do contrabando, há atenção especial sobre mensagens de teor golpista que o militar de alta patente pode ter trocado com pessoas de dentro e de fora das Forças Armadas.

Segundo reportagem da revista Veja publicada na noite desta quinta (17), o novo advogado de Cid, Cezar Bitencourt, vai se reunir com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na próxima segunda-feira (21), para discutir os termos da confissão para atenuar uma futura condenação. No entanto, após Bolsonaro, numa ameaça velada, classificar a estratégia de Cid como ‘camicase’ o advogado afirmou não ter falado em joias à Veja.

Alexandre de Moraes autorizou o pedido de cooperação internacional feito pela Polícia Federal para solicitar aos Estados Unidos a quebra de sigilo bancário das contas do ex-presidente, do seu ex-ajudante de ordens e do pai dele.

A decisão também atinge o advogado Frederick Wassef, caso tenha contas bancárias nos EUA. Wassef admitiu que foi aos Estados Unidos para recomprar um relógio Rolex vendido por aliados do ex-presidente. Na noite de quarta (16), o advogado foi alvo de busca e apreensão em um restaurante, em São Paulo, e teve celulares apreendidos.

Nas mãos de Moraes

A decisão sobre a prisão de Bolsonaro está nas mãos do ministro Alexandre de Moraes, que diante do envolvimento de Bolsonaro na venda ilegal das joias, já pediu a quebra do seu sigilo bancário e fiscal e o da sua mulher, Michele. As informações daí decorrentes, e também as do celular do general Lourena, mais a confirmação de Mauro Cid de que o ex-presidente comandou o esquema criminoso, pode levar o ministro a decretar a prisão.

Além do tráfico de joias, a participação na organização de um golpe de Estado pode levá-lo à cadeia preventivamente. No depoimento à CPI dos Atos Golpistas, o hacker Delgatti deu informações que reforçam o papel de Bolsonaro nesta movimentação. O hacker disse que teve num encontro com a deputada Carla Zambelli e que foi levado a uma reunião com o ex-presidente, no Palácio do Alvorada, em 2022, antes das eleições.

Bolsonaro teria perguntado se Delgatti seria capaz de invadir o sistema de votação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e que se ele fosse condenado por isto, lhe concederia um indulto. Disse ainda que, na conversa, ouviu que o entorno do então presidente já havia conseguido grampear o ministro Alexandre de Moraes, integrante do Supremo e presidente do TSE.

“Segundo ele [Bolsonaro], eles haviam conseguido um grampo, que era tão esperado à época, do ministro Alexandre de Moraes. Que teria conversas comprometedoras do ministro, e ele precisava que eu assumisse a autoria desse grampo”, disse. Segundo o hacker, em uma reunião com assessores de campanha de Jair Bolsonaro, foi pedido que criasse um “código-fonte” falso para sugerir que a urna eletrônica era vulnerável e passível de fraude.

“Eles queriam que eu fizesse um código-fonte meu, não o oficial do TSE. E nesse código-fonte, eu inserisse essas linhas, que eles chamam de ‘código malicioso’, porque tem como finalidade enganar, colocar dúvidas na eleição”, completou Delgatti.

 

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