Quinta, 10 Agosto 2023 22:15

Congresso estadual da CUT: vencida a extrema-direita é hora de organizar a luta pela inclusão dos mais pobres

O presidente da CUT Nacional, Sérgio Nobre, discursa  na abertura do Congresso Estadual, ao lado do presidente da CUT Rio, Sandro Cezar O presidente da CUT Nacional, Sérgio Nobre, discursa na abertura do Congresso Estadual, ao lado do presidente da CUT Rio, Sandro Cezar

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Foto: Nando Neves

Imprensa SeebRio

As eleições do ano passado derrotaram um governo que quase destruiu o Brasil. A missão principal do novo governo é reconstruir o país, retomar as políticas sociais, voltadas para a população mais pobre, investir na qualidade dos serviços públicos, fazer o país crescer gerar emprego e distribuir renda e se tornar o principal protagonista na defesa do meio-ambiente. Mas, para que isto possa ser feito é fundamental a participação dos trabalhadores e trabalhadoras que precisam se organizar, apoiar o governo e ajudá-lo a executar todas estas tarefas.

Esta foi uma das principais conclusões a que chegaram os palestrantes que participaram da abertura do 17º Congresso Estadual da CUT do Rio de Janeiro, nesta quinta-feira (8/8) à noite, no auditório do Sindicato dos Telefônicos (Sinttel). O presidente da CUT/RJ, Sandro Cezar, falou sobre a importância dos congressos das CUTs estaduais, e do Congresso Nacional da CUT na organização da classe trabalhadora para contribuir na reconstrução do país e na retomada de direitos usurpados pelo governo anterior.

Representantes de outras centrais sindicais, como a CTB, a UGT e CSP-Conlutas, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e da União Nacional dos Estudantes (UNE) estiveram presentes. O presidente da CUT Nacional, Sérgio Nobre, sugeriu como eixos principais para os debates da central sindical a defesa da democracia com a organização dos trabalhadores para vencer as eleições municipais do próximo ano; fortalecer o movimento sindical em 2023 quando a CUT completa 40 anos de fundação; e lutar pelo desenvolvimento econômico e social brasileiro.

Reduzir a desigualdade

O jurista Maximiliano Garcez fez uma palestra sobre conjuntura internacional. Disse que a revolução russa, com seus avanços sociais, fez com que a classe dominante, se visse obrigada a ceder nos países capitalistas às reivindicações dos trabalhadores para impedir a sua luta, o que continuou fazendo por décadas. Mas, a partir do fim do regime soviético, mesmo com seus erros, a burguesia mudou sua política, passando a reduzir drasticamente os direitos dos trabalhadores em todo o mundo.

“E no Brasil não foi diferente, tendo o ápice destes ataques acontecido a partir do golpe que derrubou Dilma Roussef, através das reformas dos governos Michel Temer e Bolsonaro, que destruíram direitos trabalhistas, previdenciários e políticas sociais, tornando o Brasil o campeão da desigualdade. Agora, com Lula, abre-se a possibilidade de reduzir esta desigualdade”, avaliou.

Acrescentou que a questão climática é uma pauta importante também para os trabalhadores que deve ter sua discussão ampliada pelo movimento sindical. Frisou que os maiores poluidores do mundo são os países riscos que agora tentam impor o que chamou de uma ‘luta neocolonial’, tentando usar a questão climática para impedir o avanço social e econômico dos países em desenvolvimento. “Lula está certo ao cobrar das nações ricas investimentos pesados na defesa do meio-ambiente e do desenvolvimento dos países mais pobres”, afirmou.

Processo civilizatório

Juvandia Moreira, presidente da Contraf-CUT e vice-presidente da CUT, lembrou que nos últimos governos vivemos o pior dos mundos, com a entrega do patrimônio público a grupos privados, como a Eletrobras e a BR Distribuidora, a destruição de política públicas, como programas sociais, o corte de direitos, a terceirização indiscriminada, o descaso com a vida humana com o negacionismo causando a morte de milhares de pessoas com a covid.

“Vivemos um retrocesso civilizatório do qual, agora, temos a oportunidade de sair. E as trabalhadoras e os trabalhadores têm papel importante neste processo e precisam se organizar para que o governo atenda ao que precisamos para reconstruir o Brasil. E são os congressos estaduais da CUT, como este que acontece no Rio de Janeiro, e o Congresso Nacional da central os espaços para organizar a nossa participação em todo este caminho”, defendeu.

Para a dirigente é preciso gerar emprego, conquistar direitos, distribuir renda, defender o meio-ambiente e defender políticas de inclusão dos mais pobres, das mulheres, negros, jovens e da população LGBTQI+. “Coincidentemente neste ano a CUT comemora 40 anos. É um ano de esperança redobrada para as trabalhadoras e trabalhadores”, constatou. Disse que é hora de fortalecer o movimento sindical que foi muito atacado com a reforma trabalhista. “Sem sindicatos fortes não há democracia”, enfatizou.

Racismo: um passo para o fascismo

A professora Vanda Santana, ativista do movimento negro, disse que enquanto houver racismo e discriminação sobre as mulheres não haverá democracia e que esta pauta tem de ser encarada como prioritária pelo movimento sindical. “Os sindicatos têm que lembrar que as coisas não andam nada bem no mundo do trabalho para mulheres, negros e LGBTQI+, que são discriminados. O movimento sindical não enfrentou ainda esta realidade como deveria. A população negra continua escondida nos locais de trabalho e está mais presente na informalidade, ou seja, continua marginalizada”, disse.

Acrescentou que é ainda um resquício da escravidão o fato da maior categoria de mulheres negras ser o de trabalhadoras doméstica, algo em torno de 6 milhões de pessoas. “Minha ideia é que só poderemos avançar na organização sindical quando superarmos o racismo, a misoginia e o machismo na sociedade”, defendeu. Disse que o racismo é um passo para o fascismo e é onde perigosamente nos encontramos.

Criticou a falta de uma reação mais forte da sociedade frente à sucessão de chacinas nas quais a polícia mata jovens e crianças negras. “Os que mataram dizem ser agentes do Estado, alegando que cumpriam o seu dever, contando com o apoio dos governantes. Isto é revoltante, inadmissível e tem que acabar”, afirmou.

Conhecer o estado do Rio

Mauro Osório, economista e professor da UFRJ, criticou a falta de conhecimento dos fluminenses sobre a realidade do estado do Rio de Janeiro. Disse que os que moram aqui, estão voltados para as questões nacionais, talvez porque a cidade do Rio de Janeiro já foi a capital do país.

“O estado vive uma crise sem precedentes que é fruto deste desconhecimento e porque temos uma elite predatória e despreparada. Hoje temos 400 mil postos de trabalho a menos que em 2014. Uma mortalidade infantil maior que o Norte e o Nordeste, mesmo tendo a maior rede de hospitais federais do Brasil. Perdemos neste período 40% da participação no PIB. Éramos o segundo e hoje somos o sexto em empregos industriais. Enfrentamos, volto a dizer, uma grave crise que só com informação poderemos resolver”, argumentou.

“Somos considerados um estado rico, o playboy do país, mas somos o 13º estado em recolhimento de ICMS e querem tirar parte do nosso royaltie de petróleo. Temos que debater e construir um projeto para o estado para encontrar saída para o Rio de Janeiro”, defendeu

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