EXPEDIENTE DO SITE
Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Carlos Vasconcellos
Imprensa SeebRio
A economista do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) Cátia Toshie Uehara fez a apresentação do resultado da Consulta Nacional dos Bancários 2023, no último dia da 25ª Conferência Nacional da categoria, no domingo (6). O evento é realizado no Ginásio do Sindicato dos Bancários de São Paulo, no centro da cidade.
A presidenta da Federa-RJ (Federação das Bancárias e Bancários do Estado do Rio de Janeiro) Adriana Nalesso, também participou da mesa.
“Esta mesa é uma das mais importantes porque mostra o que a nossa categoria quer e pensa e cabe a nós sindicalistas ouvir o que cada bancário e bancária tem a nos dizer. É um desafio trazer toda a categoria para estes debates em questões como a comunicação, as reformas estruturantes para garantir melhores condições de vida e de trabalho em todo o ramo financeiro. Bancos e empresas querem excluir a palavra ‘trabalhador’, criando expressões como ‘parceiros’ e ‘colaboradores’ e eu pergunto, colaborador de que, de quem?. Vamos juntos por um Brasil democrático, sempre”, disse Adriana em sua saudação aos participantes da Conferência.
Em sua participação, a economista do Dieese apresentou a consulta nacional realizada de 7 de julho a 2 de agosto, com a participação de quase 20 mil trabalhadores. Os bancários e bancárias do Rio de Janeiro respondem pela segunda maior participação da categoria em nível nacional, na resposta dos questionários: 8,2% dos funcionários do setor que participaram da pesquisa são do Rio, atrás apenas de São Paulo, que representou 47,1% de todas as respostas.
Dentre os participantes, 75% disseram ser sócios de seu sindicato e 24% de não sócios.
A consulta mostrou ainda mudanças no perfil da categoria, com 32,4% exercendo a função de gerente, a frente de escriturários e caixas. Em relação ao local de trabalho, 74,6% dos pesquisados trabalham em agências, contra 24,8% em departamentos.
A maior parte dos consultados trabalha nos cinco maiores bancos do país: 27,8% do Banco do Brasil; 23,0% da Caixa Econômica Federal; 18,7% do Bradesco; 12,9% do Itaú/Unibanco; e 9,3% do Santander.
Presencial e home Office
A pesquisa mostrou que houve um aumento no número de funcionários trabalhando presencialmente, com 72,1% da categoria. Em 2022 este índice era de 70%. Já 16,7% disseram que trabalham em home Office durante três ou mais dias na semana.
Jornada de trabalho
Em relação à jornada, mais da metade dos bancários disse trabalhar, em média, oito horas por dia e 45,7% seis horas diárias, mostrando a elevação do tempo dedicado ao trabalho na categoria.
Discriminação nos bancos
A consulta mostrou também que no mercado de trabalho bancário ainda é muito forte o preconceito e a discriminação de raça e gênero. Do total da categoria, 68,7% se identifica como da raça branca e apenas 5,7% são pretos. Os pardos representam 5,7% seguidos de amarelos (2,3%) e indígenas (0,2%).
Apesar de representar 51,15% da população brasileira, as mulheres ainda não são maioria entre os empregados do setor financeiros: elas são 43% da categoria e os homens chegam a 54,9%.
Em relação à idade, 24,6% são de trabalhadores com mais de 50 anos.
Adoecimento da categoria
Cátia Uehara mostrou ainda a elevação do adoecimento dos trabalhadores do setor em função das metas cada vez mais desumanas. Em relação a este tema 68% da categoria respondeu que a preocupação constante com o trabalho é o principal impacto do modelo de metas nos bancos. Já 61% respondeu que sofre cansaço e fadiga contínuos e 52% se sente desmotivado no trabalho.
A consequência das metas abusivas não poderia ser outra senão o adoecimento cada vez maior dos trabalhadores do sistema financeiro. Apesar de responder por apenas 1% dos empregos formais no Brasil, a categoria responde por 25% dos afastamentos pelo INSS.
A pesquisa perguntou ainda o que deveria ser mudado na política de metas dos bancos: 53,5% disseram que as metas “devem levar em conta o porte, a carteira de clientes e o perfil econômico de cada unidade”. Já 46.7% criticaram a redução de trabalhadores nos locais de trabalho, o que eleva a sobrecarga de trabalho em relação às metas.
Um dado alarmante que chamou muito atenção dos participantes da Conferência Nacional é o aumento considerável do uso de medicamentos controlados em função da pressão e do assédio moral gerados pelas metas: 41.9% responderam que usaram medicamentos controlados nos últimos 12 meses. Em 2022 este índice atingia 35,% dos bancários. Já 57% disseram não utilizar medicamentos controlados.
Sequelas da covid
Um dos problemas que mais preocupam os sindicatos em relação à saúde dos trabalhadores e trabalhadoras são as sequelas da covid-19: Do total pesquisado, 24% disse não ter contraído a doença. Enquanto entre os que a contraíram, 30% afirmaram não ter nenhuma sequela.Entre os que apresentam sequelas, as principais são: perda de memória (26%); cansaço (22%); dificuldade de atenção (19%); perda de cabelo (14%); fraqueza muscular (11%) e dor de cabeça (10%).
Comunicação dos bancários
Em relação aos meios de comunicação sindical preferidos pela categoria e de maior credibilidade, apesar dos avanços das novas tecnologias e de redes sociais na sociedade, são o site e o jornal impresso que continuam a aparecer com destaque: 51,9% declararam se informar através dos sites dos sindicatos, seguido do WhatsApp (43,4%) e o Jornal Bancário (39,3%).
Em relação ao financiamento das entidades sindicais nas lutas da categoria 94% disseram que é de responsabilidade de todos os bancários e bancárias contribuírem, pois todos se beneficiam das conquistas da organização coletiva dos trabalhadores.
Reforma tributária
Em relação ao atual projeto de reforma tributária que começa a tramitar no Congresso Nacional, 85,4% disseram ser muito importante a ampliação da isenção do Imposto de Renda cobrado sobre a PLR (Participação nos Lucros e Resultados) e 11,6% consideram este item “importante”. A maior parte da categoria considera ainda relevante que esta isenção atinja quem recebe até R$5 mil de salário por mês.
Juros mais baixos
A maioria esmagadora dos bancários e bancárias critica a atual política de juros altos do Banco Central: 86% disseram ser favorável à redução dos juros no Brasil. Apenas 7% são contra e 6% não souberam responder.
“Por trás de respostas contrárias à redução de juros pode estar o temor do bancário de sofrer pressão do banco, já que ele trabalha no setor financeiro e sabe que o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto representa o interesse dos bancos”, explicou Cátia Uehara, do Diese.
Em relação à Lei Complementar 179/2021 criada pelo ex-ministro da economia Paulo Guedes que criou a chamada “autonomia” do Banco Central, metade dos bancários respondeu defender que Roberto Campos Neto seja imediatamente substituído do cargo de presidente do BC. Já 23% acham que o ex-executivo do Santander deve permanecer no cargo até 2024, conforme prevê a atual legislação e 27% não souberam responder.
Igualdade de salários
A categoria bancária é a favor do PL 1085/23, criado pelo governo Lula e que prevê multa para empresas que descumprirem a igualdade de salários entre homens e mulheres que exercem funções similares: 75% considera o projeto muito importante e 18% acha mportante. Apenas 4% disse ser de pouca importância a proposta e 7,6% não souberam responder.
Regulamentação digital
Em relação à regulamentação dos meios digitais, debatida no Congresso Nacional, 75% responderam ser a favor da proposta para combater a disseminação de mentiras e incitação do ódio nas redes sociais e 16,7% são contra. Já 91% responderam positivamente à penalização de crimes digitais.
Após o painel da consulta nacional, os delegados e delegadas do encontro começaram a debater as resoluções da 25ª Conferência Nacional.