Sábado, 05 Agosto 2023 21:27
CONFERÊNCIA NACIONAL

Organização e representação dos trabalhadores do ramo financeiro é um desafio para os sindicatos

Gustavo Cavarzan mostra que mudanças na legislação e regulamentações e impactos das tecnologias alteraram o modelo de emprego no setor financeiro
Gustavo Cavarzan, do Dieese, falou dos desafios do movimento sindical bancário ante as transformações no trabalho do ramo financeiro Gustavo Cavarzan, do Dieese, falou dos desafios do movimento sindical bancário ante as transformações no trabalho do ramo financeiro Foto: Nando Neves

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

O economista Gustavo Cavarzan, do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, no último palestrante da noite do segundo dia da 25ª Conferência Nacional dos Bancários, realizado no sábado (5), falou da mais nova onda de reestruturação do setor financeiro, que resultou em mudanças nos modelos do emprego no setor, através de mudanças na legislação trabalhista e dos impactos das novas tecnologias 

Consequências da reestruturação

Gustavo começou sua análise, traçando um cenário do emprego no ramo financeiro, mostrando todo o processo de reestruturação do setor, através do advento das tecnologias de ponta, mudanças na legislação a partir da reforma trabalhista implementada no governo Temer, regulamentações do Banco Central e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e políticas econômicas que alteraram o modelo de negócios no sistema financeiro, inclusive em bancos públicos.
“Em 2019, pela primeira vez na história, a categoria passou a representar menos da metade do emprego formal no ramo financeiro. Em 1994, eram 80%; em 2012, 59%; em 2019, 47%; e em 2021, caiu para 44% do ramo financeiro formal, enquanto as demais categorias passaram a 56%”, explicou Cavarzan, que considera a situação “preocupante”, porque a categoria bancária, além de  representar o núcleo central do ramo financeiro, possui um forte movimento sindical capaz de exigir acordos coletivos consistentes, inclusive com cláusulas sociais.

Fragmentação do emprego

O técnico do Dieese disse que “a fragmentação do emprego no ramo financeiro revela que dificilmente a atual estrutura sindical brasileira dará conta de responder aos desafios impostos pelas transformações no mundo do trabalho”.

Citou ainda dados do Relatório do Fórum Econômico Mundial 2023 que trata do Futuro do Trabalho, mostrando que as funções que mais crescem estão sendo impulsionadas pela tecnologia e pela digitalização.

“Big data, por exemplo, está no topo da lista de tecnologias que devem criar empregos. A previsão é comprovada na comparação de trabalhadores em ocupações nas áreas de Tecnologia da Informação (TI) nos bancos privados entre 2012 e 2021. Em 10 anos, o número de trabalhadores em ocupações relacionadas à TI passou de 14,4 mil para 24,6 mil, crescimento de 70,4%”, explicou trazendo outro dado preocupante: a proporção das mulheres nestas ocupações minuiu.
Gustavo Carvazan mostrou que, enquanto a categoria bancária perdeu mais de 70 mil postos de trabalho, outros segmentos tiveram forte expansão: a proporção de trabalhadores em cooperativas de crédito em relação a categoria bancária saiu de 8% para 21% e a de securitários, de 36% para 56%.

“A fragmentação se dá não só em diferentes categorias profissionais, mas em diferentes formas de contratação, como autônomos, MEIs, PJs e plataformizados”, completou. Mostrou ainda que enquanto 42% da base da categoria bancária estão em empresas públicas, nas demais categorias do ramo financeiro mais de 90% da força de trabalho estão no setor privado, que apresenta uma rotatividade no emprego muito maior. Apresentou números revelando que na categoria bancária, um terço da força de trabalho tem jornada de até 30 horas e 16,8% jornada de 41 a 44 horas semanais. Nas demais categorias do ramo, apenas 7,7% das pessoas têm jornada de até 30 horas, enquanto 47% têm jornada de 41 a 44 horas semanais, apontando para a maior precarização do trabalho e a redução da renda média dos trabalhadores do setor.

Representação sindical

Cavarzan lembrou  também que esta nova modalidade nos empregos do setor resultou em empregados representados por outros sindicatos ou que não possuem sequer qualquer representação sindical, colocando como grande desafio do movimento sindical bancário, a representação destes trabalhadores e trabalhadoras do ramo financeiro. Trouxe números que comprovam qu,  enquanto na categoria bancária prevalecem faixas salariais acima de cinco salários-mínimos, nas demais categorias do ramo prevalece a faixa de até três salários-mínimos, remuneração de quase metade destes trabalhadores não-bancários.
“É fundamental debater mudanças na estrutura sindical brasileira e também nas estratégias internas de organização do movimento sindical para fazer frente a essa nova composição do mercado de trabalho. Nessa empreitada, é preciso conhecer a realidade regional de cada base para definir prioridades nos planos de ação”, concluiu.

 

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